A sociedade está tomando consciência sobre a importância da diversidade como um potente ingrediente para a inovação. Já temos grandes marcas, com grandes líderes que vem aliando a reparação histórica com ações afirmativas a iniciativas estratégicas de inovação e sustentabilidade.
É fato que empresas com pessoas que pensam diferente, que têm origens diferentes, que vivem em ambientes diferentes e que lutam por causas diferentes trazem novas visões e melhores resultados. Uma prova: em 5 anos, o Índice de Diversidade e Inclusão da Refinitiv, que lista em bolsas de valores 100 empresas com boas práticas do gênero, teve desempenho 30% superior ao índice geral da Refinitiv, conforme este relatório.
Mesmo assim, precisamos pensar além e refletir se a inclusão está chegando para todos. Por exemplo, é sabido no mercado que startups que possuem profissionais seniores que já trilharam outras carreiras, aumentam significativamente as chances da startup dar certo.
Que tal vermos mais profissionais da terceira idade em startups universitárias? É uma forma de quebrar paradigmas, algo essencial para a inovação.
Diversidade, inovação e a senioridade: uma experiência familiar
Idosos são pessoas que têm muito a ensinar, com visões de quem já viveu uma carreira profissional. Imagine o potencial de treinamento e gestão que eles podem oferecer, inclusive, a outros grupos não privilegiados.
Posso, inclusive, dar um bom exemplo pessoal disso. Minha mãe trabalhou mais de 40 anos em uma fábrica de refrigerantes. Após a aposentadoria, a empresa não queria perder o conhecimento que ela adquiriu. Foi assim que ela virou consultora e oferece treinamentos para passar seus aprendizados às novas gerações. Isso me faz lembrar, carinhosamente, um filme que você já deve ter ouvido falar: Um Senhor Estagiário. Nele, um senhor é contratado como estagiário sênior, mas é uma obra em que um profissional aposentado que busca alternativas para, como ele mesmo diz, “preencher um vazio”. Resultado: no fim das contas é ele quem traz mais conhecimentos à empresa do que a equipe a que trabalha. Confira um teaser:
Inclusive, o filme inspirou a vida real. A Unilever já está na segunda edição do programa Senhor Estagiário, exclusivo para pessoas com mais de 55 anos que estejam cursando uma faculdade.
Diversidade no trabalho: inovação aberta testada por PCDs
Muitas vezes, em discursos de diversidade, também sinto que o chamado lugar de fala deixa de lado a inclusão de pessoas com deficiência. Até o início dos anos 2010, essa inclusão parecia estar mais em voga do que agora, neste início da segunda década do milênio. Acima de tudo, quando se trata em diversidade no trabalho, PCDs são colaboradores excepcionais para criar a cultura de inovação.
Ao trabalhar com surdos e pessoas com outras deficiências físicas, eu percebi o quanto são competentes, dedicados e o quanto poderiam contribuir para o contexto de diversidade e inovação: eles trazem um olhar único sobre produtos e serviços. Afinal, PCDs percebem na pele se uma oportunidade de inovar é viável conforme suas limitações físicas.
Nesse sentido, quando levantamos bandeiras, precisamos refletir: estamos olhando para nosso próprio umbigo? Devemos nos esforçar para todos os dias ter a visão de que na diversidade não há perfeição, há aprendizado, devemos agir, inspirar e dar oportunidade.
O que mais a cultura da diversidade e inovação pode ensinar
Além dessas reflexões pessoais, é importante compartilhar mais algumas provas de como o pensamento inclusivo gera resultados.
Realizada anualmente, a pesquisa Getting to Equal 2019 da Accenture teve como temática diversidade e inovação: a descoberta principal foi que, em empresas com uma cultura de igualdade, a cultura de inovação também existia e potencializou os resultados. A cultura de igualdade é a diversidade no trabalho que ajuda todos a crescerem na carreira, ocupando cargos mais altos.
Primeiramente, vamos a alguns dados gerais da pesquisa Getting to Equal. Foram entrevistados 18 mil colaboradores de empresas diversas em 27 países. O levantamento avaliou 40 fatores sobre cultura da igualdade e seis elementos de mindset (mentalidade) de inovação. A Accenture calcula que poderia haver incremento de US$ 8 trilhões no PIB global até 2028 se o mindset de inovação fosse 10% maior em todos os países do mundo.
Além disso, o levantamento mostra os seguintes resultados sobre diversidade e inovação:
- Empresas com oportunidades iguais para os colaboradores têm mindset de inovação seis vezes maior comparado àquelas que são mais desiguais em oportunidades;
- A porcentagem de colaboradores que concordam com a afirmação “Nada pode me fazer parar de inovar” é de 40% em empresas com maior índice de igualdade, 21% em empresas com nível típico de igualdade (na média do mercado) e de apenas 7% em empresas com mais desiguais;
- Quando o objetivo das empresas é ampliar a inovação, aumentar a remuneração é menos eficaz do que incentivar a cultura da igualdade.
Diversidade e inovação em tempos de pandemia
Eu considero que algumas recomendações extraídas da pesquisa Getting to Equal 2019 são ainda mais importantes em tempos de pandemia e pós-pandemia. Além de recomendar uma estratégia de diversidade e inclusão alinhada ao plano de negócios, a Accenture apresenta algumas sugestões para ampliar a conexão entre diversidade e inovação:
- Assegurar que os colaboradores conheçam os objetivos e o propósito da organização e tenham suas metas alinhadas a esses objetivos. Frequentemente, eu percebo que algumas empresas apenas tentam cumprir cotas obrigatórias (que varia de 2% a 5% para PCDs, por exemplo), e acabam não preparando suas equipes para equilibrar a missão da organização com essas equipes, que têm muito potencial. Muitas companhias, inclusive, preferem pagar multa de descumprimento. Perdem, assim, uma ótima oportunidade de potencializar diversidade e inovação;
- Equilíbrio entre vida pessoal e profissional e permissão para que os profissionais realizem trabalho remoto. Pessoalmente, eu vejo que isso mostra aos colaboradores (de todos os níveis hierárquicos, idades, sexo, etnias, condição social) que a empresa confia em todos. Eu penso nisso como parte da criação de um ambiente de inclusão;
- Oferecer programas de treinamento flexíveis incentiva os colaboradores a adquirirem habilidades para o futuro. Nesse sentido, perceba a grande oportunidade de conectar colaboradores veteranos ou mesmo aposentados para treinar os mais jovens, e assim reter o conhecimento na organização. É uma forma prática de inserir a diversidade e inclusão na empresa;
- Deixar as pessoas serem elas mesmas, sem impor regras de aparência e encorajar a inclusão em todos os sentidos. Acima de tudo, na minha opinião, isso faz com que as pessoas se sintam à vontade, se conectem mais e quebrem barreiras que podem resultar em inovações.
Nesse sentido, ao ler o relatório da Accenture, senti certo orgulho em perceber que seguimos alguns desses preceitos. Por aqui, damos oportunidades de desenvolvimento na liderança de alguns projetos que criam histórias de sucesso todos os dias. Por exemplo, nós criamos a comunidade Inovadores & Inquietos, em que tanto pessoas em início de carreira quanto com mais experiência podem escrever artigos, se relacionar e até mesmo prospectar negócios. Grande parte desses profissionais atua diretamente conosco, seja como colaboradores diretos ou como consultores em projetos específicos.
Na liderança de projetos estratégicos para nós, como a comunidade dos Inovadores Inquietos sempre contamos com mulheres. Em determinado momento do ano de 2020, vimos que era possível nos desafiar mais, aprender, agir e dar mais oportunidades para as pessoas. Assim nasceu a política de diversidade dos Inovadores Inquietos, cocriado com todos e todas integrantes da comunidade.
Nesse caso, posso dizer que é mais do que uma política. Há uma busca ativa sobre o olhar da diversidade, existe a empatia e o acolhimento de ideias e pessoas e o empoderamento, que significa dar voz a todos e a todas.
Desde antes da pandemia, já tínhamos pessoas trabalhando remotamente em estados longe de nossa sede. Nosso escritório fica em Curitiba, temos profissionais de 5 cidades brasileiras, e consultores que participam de projetos em diferentes estados (muitos inclusive fazem parte dos Inovadores & Inquietos). Nós da Haze Shift acreditamos que as diferentes culturas das regiões do país nos ajudam a criar e a entregar mais soluções inovadoras aos nossos clientes. Afinal, o Brasil é praticamente um continente com pessoas muito diversas entre si. E, claro, tudo isso é diversidade.
Por fim, seja você um empreendedor, executivo, profissional ou participante de comunidades (não importa qual!), fica o convite para continuar esse debate aqui mesmo em nossos comentários. Como você enxerga a conexão entre diversidade e inovação? Nós da Haze Shift queremos que você seja parte dessa transformação.