Você já parou para pensar no potencial que o pessoal da economia informal tem a ensinar a sua empresa? Nós da Haze Shift sim. Eu e outros três colegas refletimos sobre o que a autora Alexa Clay chama de a Economia dos Desajustados: livro que mostra o potencial do submundo econômico. Melhor ainda, a obra traz lições de inovações.
Primeiramente, temos que deixar claro que os desajustados não são pessoas ruins. Eles são pessoas comuns, que muitas vezes se veem obrigadas a operar à margem da sociedade. A autora cita no livro Economia dos Desajustados até mesmo alguns fora-da-lei, mas longe de nós dar qualquer apoio a isso.
O que queremos mostrar é que, muitas vezes, negócios informais têm muito a ensinar a pequenas, médias e grandes empresas. Inclusive multinacionais! Quantas empresas bem sucedidas tiveram um empreendedor que aproveitou oportunidades de produzir réplicas estrangeiras em mercados locais antes das empresas internacionais chegarem ao seu país? A Índia faz essa engenharia reversa muito bem com a indústria de medicamentos, por exemplo.
Podcast Haziliente – Episódio #01: A Economia dos Desajustados
Eu percebo semelhanças evidentes entre empreendedores e a economia informal: são pessoas em busca de liberdade e oportunidades, que dão seu jeitinho de fazer acontecer os projetos e negócios.
Quer saber mais sobre isso? Então, antes de continuar a ler neste texto um breve resumo do livro a Economia dos Desajustados, ouça nosso novo Podcast Haziliente, criado para discutirmos ideias e publicações sobre inovação aberta.
Neste primeiro episódio, estão presentes eu (Marcos Daniel, co-fundador da Haze Shift); o Luiz Henrique, apresentador do podcast; a Maria Clara Raicosky, da área de Operações da Haze Shift; e a Ana Flávia Alcantara, da área de Gestão de Pessoas. Ouça agora:
Um breve resumo do livro A Economia dos Desajustados
Espero, sinceramente, que você ouça nosso podcast. Mas eu não ligo de explicar um pouco mais para você fazendo um breve resumo do livro A Economia dos Desajustados. Mas atenção: daqui para baixo o texto contém spoilers.
Na minha visão, os desajustados podem ser também chamados de inquietos. Eles querem autonomia, liberdades e são resilientes. Além disso, para muitas pessoas, a economia dos desajustados é uma questão de sobrevivência. Segundo pesquisa da própria autora Alexa Clay, a economia informal representa quase 70% do PIB em muitos países e movimenta cerca de US$ 10 trilhões anuais no mundo.
Nesse sentido, fica claro, para mim, que o desajustado é um sobrevivente da economia informal que consegue perseverar e sobreviver. Nesse meio, ela destaca um alto grau de colaboração e inovação. Quer exemplos?
Em resumo, a autora destaca cinco lições no livro Economia dos Desajustados. Vamos a elas:
Lição 1: O jeitinho na Economia dos Desajustados
Aqui não estamos falando necessariamente sobre o jeitinho brasileiro. Antigamente, pensávamos o jeitinho como algo ligado a fraudes, à corrupção. Contudo, esse é um pensamento ultrapassado. O jeitinho está relacionado a pessoas que criam algo do nada, que entendem o todo para criar algo novo. Significa ser rápido para fazer trocas e usar da ousadia.
Aqui peço a liberdade para citar uma pessoa que não está no livro Economia dos Desajustados. O engenheiro aeronáutico e ex-presidente (e cofundador) da Embraer Osiris Silva foi, sem dúvidas, um empreendedor desajustado, mas no sentido positivo da palavra: Osiris Silva é ousado e inspirador. Em um momento em que a Força Aérea brasileira definiu que iria importar todas as aeronaves, Osiris Silva conseguiu convencer seus chefes a rever essa ideia a partir de um protótipo, sem grandes recursos.
Em homenagens aos seus 90 anos, a Embraer bancou uma animação que vai deixar claro para você o por que ele agiu às margens para emplacar o projeto que deu vida à empresa. Assista:
Lição 2: Cópia
No começo deste artigo, eu falei sobre engenharia reversa, ou seja, a indústria da cópia. Há até mesmo um termo chinês para definir todo esse mercado: Shanzhai, ou seja, a inovação por meio da desconstrução. Se você prefere chamar isso de pirataria, tudo bem, mas não pense nisso como uma forma negativa. Sabe por quê?
A engenharia reversa é uma estratégia de negócios. Existem empreendedores que criam produtos dentro do seu país simplesmente porque não tem à disposição um produto que é oferecido fora dele. Ou ainda, boa parte da engenharia reversa da acessibilidade a regiões imensas no mundo onde os líderes do mercado não possuem interesses comerciais em estar.
Já citei o caso da Índia quanto a medicamentos. Há também o caso clássico da China, que hoje é referência em tecnologia por conta da engenharia reversa de diversos produtos. Isso ocorre especialmente na província de Shenzhen, onde você pode chegar com qualquer amostra de objeto industrializado, de qualquer lugar do mundo, que eles possuem capacidade instalada de fazer engenharia reversa para você e produzir centenas de milhares ou milhões de unidades.
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Há também casos de plataformas online da gig economy. Na Alemanha, o Airbnb (app de aluguel de casas e quartos que provocou a disrupção da hotelaria) demorou a chegar. Resultado: por lá, o Wimdu replicou o conceito do Airbnb ao redirecionar ofertas de locação de quartos, apartamentos e casas e ganhar comissões de sites parceiros como Expedia e Booking.com.
Aqui no Brasil há outro bom exemplo: empreendedores digitais criaram diversas plataformas exatamente iguais ao Mercado Livre. Na chegada e expansão no Brasil e outros países da América Latina, o Mercado Livre precisou fazer aquisições de diversas plataformas. As compras mais famosas foram o iBazar, Lokau e o Arremate.
Lição 3: Hackear
Quando ouvimos falar na palavra hacker, parece que estamos sempre falando do mundo digital, não é mesmo? Não, isso está errado. Afinal, hackers (ou hackers éticos, se você preferir) são pessoas que modificam o sistema ou desconstroem algo para identificar vulnerabilidades e fazer melhorias. E isso não precisa ser de um software: pode ser de tudo.
Na verdade, você pode achá-la nos mais altos níveis intelectuais de qualquer ciência ou arte. Aqui mesmo no blog da Haze Shift mostrei que é possível hackear a cultura de sua empresa.
Lição 4: Provocar alternativas, questionar mitos
Acima de tudo, desajustados têm a audácia de pensar diferente. Essa ideia de questionar o status quo é fundamental em qualquer resenha do livro Economia dos Desajustados. A autora Alexa Clay explica essa lição citando o grupo feminista francês Barbe (A Barba). Funciona assim:
Ao invés de manifestações de rua, mulheres passaram a se infiltrar em reuniões de partidos políticos e festivais de artes predominantemente masculinos. Em determinado momento, elas colocam barbas falsas e provocam os participantes a assistirem uma das líderes ler um manifesto do grupo.
Há uma grande jogada de marketing nisso: o protesto é feito de surpresa, em meio a um evento, conquistando a atenção. Além disso, há uma referência ao próprio nome Barbe, que em francês, além de barba, tem uma conotação idiomática da expressão em português “já basta”. Uma ótima forma de provocar e questionar, concorda?
Lição 5: Pivotar
A ideia de ter coragem de pivotar é a última lição do livro A Economia dos Desajustados. Basicamente, pivotar significa aproveitar o que falhou para criar algo novo. Esse termo está muito presente no mundo das startups, e vai ao encontro do próprio modelo de negócios dessas empresas: falhar rápido e recomeçar redirecionando a rota de acerto.
Como exemplo, a autora cita como um líder de uma gangue de latinos nos Estados Unidos viu o potencial dos integrantes para que eles pudessem mostrar seus verdadeiros talentos, deixando de ser pessoas fora-da-lei.
Além disso, como parte dessa jornada, um bom exemplo do livro para a lição sobre pivotar é o programa chamado Defy Ventures, criado em Nova York. A ação fornece uma incubadora de negócios para ex-infratores que têm a oportunidade de competir por US$150.000 em capital inicial para seus negócios. É uma lição sobre direcionar rumos e fazer as pessoas mostrarem seu potencial.
Quer outro exemplo sobre pivotar? Você sabia que a ideia inicial do Youtube era atuar como um serviço de vídeo para namoro online? Com problemas para crescer, os criadores decidiram focar somente no compartilhamento de vídeos. Com o sucesso da plataforma, em 2006, o Google comprou o YouTube por US$ 1,65 bilhão de dólares.
Acompanhe o Podcast Haziliente
Se você chegou até aqui, eu espero que você não fique apenas na leitura desse resumo de A Economia dos Desajustados: leia o livro e, acima de tudo, ouça nosso podcast e participe aqui mesmo nos comentários deste post. O Podcast Haziliente é um novo canal da Haze Shift pensado para compartilhar nosso conhecimento e incentivar você a fazer o mesmo: nossas portas estão abertas para conversarmos.
* As imagens desta página apresentam o movimento na Rua 25 de Março, de São Paulo, e Ladeira Porto Geral no último fim de semana antes do Natal . Fotos: Paulo Pinto/FotosPublicas