Já faz tempo que a inovação deixou de ser um diferencial para se tornar fator essencial para a sobrevivência e competitividade das empresas. Afinal, o ciclo de vida dos produtos e serviços é cada vez menor e por isso, é preciso inovar de forma mais rápida e dinâmica.Os processos de gestão de inovação evoluíram ao longo dos anos, mas basicamente o que temos hoje são modelos de inovação fechada e aberta.
Ambos os formatos têm objetivos em comum: acelerar o processo de criação, gerar e absorver conhecimentos, otimizar os investimentos e reduzir os riscos. E hoje vou te mostrar que inovação fechada e aberta são complementares. São formatos que podem coexistir para se adaptar ao que sua empresa precisa, trazendo mais agilidade ao processo de inovação.Primeiro, vamos aos conceitos:
Inovação fechada
Este formato consiste na preservação de todo processo de pesquisa e desenvolvimento (P&D) dentro das próprias empresas, geralmente com um setor próprio bem estruturado. É um modelo bastante adotado por grandes indústrias, como farmacêutica ou tecnológica.
Na inovação fechada a empresa deve dominar todos os conhecimentos considerados estratégicos e protegê-los dos concorrentes, fechando as atividades de P&D num núcleo restrito de pessoas. As ideias podem vir de pesquisas científicas ou do desenvolvimento do mercado em novos produtos, processos e serviços. A empresa arca com todos os investimentos necessários e com os riscos inerentes.
Inovação aberta
A inovação aberta acontece quando a empresa abre suas fronteiras para que haja a troca de conhecimento. Assim, permite um fluxo de novas ideias e de oportunidades de cooperação de várias frentes, seja internamente com funcionários de outros setores ou externamente com empresas, universidades e etc.
Neste formato, entende-se que a inovação também é uma atribuição de todos os colaboradores, não apenas de um setor específico.
A inovação aberta também ocorre nas relações externas, seja com outras organizações, como startups, seus próprios fornecedores, clientes, ou até mesmo concorrentes. Uma fonte externa importante são as universidades ou centros de pesquisa, que já fazem parte do processo de inovação desde o século passado, mas aceleram com a criação do Vale do Silício, como comentei neste conteúdo sobre inovação aberta.
Um ponto interessante na inovação aberta é sua democratização, a possibilidade de implantar um sistema de inovação mesmo em empresas de pequeno e médio porte, sem a necessidade de criar um setor interno de pesquisa e desenvolvimento. Por isso, vemos tantas startups surgindo a partir de aprendizados e desenvolvimento de soluções muitas vezes nascidas de forma compartilhada.
Leia também: 33 formas de fazer inovação aberta: rotas para transformar seu negócio
A coexistência entre inovação aberta e fechada
Nas grandes empresas já existe esta coexistência entre inovação fechada e aberta, seja na pesquisa ou no desenvolvimento. Por exemplo, em uma indústria química é muito comum observar ações de P&D fechados, com a pesquisa de ponta dentro da empresa, com pesquisadores especializados de alto nível. Muitos desses profissionais têm doutorado, e em certo momento se conectam com o mercado em busca de mais soluções para o desenvolvimento, se relacionando com universidades, institutos de pesquisa e outros parceiros.
É possível também, por uma questão de pesquisa ou de tecnologia, realizar o processo completo de inovação fechada até o momento em que lança a solução no mercado. Depois então abrir essa tecnologia e dizer “agora todo mundo pode cooperar comigo” – aí virou inovação aberta.
Outro formato é começar com a inovação aberta, por exemplo, com um hackathon. Várias ideias são iniciadas, outras vão ficando pelo caminho. Muitas iniciativas são bacanas, mas para serem desenvolvidas, elas necessitam de maior profundidade, de pesquisa, laboratório e em segredo, até que se tornam fechadas.
Na prática
O Grupo Boticário é uma indústria que tem trabalhado inovação aberta e fechada de forma complementar. Paralelamente, existe um setor tradicional de pesquisa e desenvolvimento e também o Boti LABs, um setor implantado em 2016 que aproximou a área de tecnologia e negócios que buscou trabalhar de forma multidisciplinar com inovação em toda a empresa.
Por exemplo, quando há projetos de inovação para loja física, participam do processo os consultores de loja, especialistas em merchandising e clientes. “Quando a gente junta todo mundo e coleta de forma estruturada as percepções, a inovação começa a surgir com força, com propósito”, explica a gerente de inovação do Grupo O Boticário, Estela Cunha, neste vídeo.
A grande questão é que cada negócio precisa encontrar seu próprio formato de como conduzir bem essa relação de inovação aberta e fechada, definir até que ponto é interessante contar com a ajuda do mercado e quando é o momento de manter a pesquisa e desenvolvimento dentro da empresa.
A inovação fechada virou aberta em tempos de pandemia
Um dos legados da pandemia da Covid-19 certamente será a forma como todo o mundo se mobilizou e se adaptou para realizar inovação em âmbito global. Em poucos meses, indústrias de bebidas destiladas passaram a fabricar álcool em gel e gigantes do setor da moda criaram máscaras faciais.
As indústrias farmacêuticas que normalmente trabalham com o modelo de inovação fechada passaram a colaborar com institutos de pesquisas a fim de realizar testes com medicamentos já existentes para analisar sua eficácia contra o vírus SARS-COV-2. A corrida para criação da vacina também conta com a colaboração de diversos países e pesquisadores em várias fases.
Outro exemplo que me chamou bastante a atenção foi a plataforma colaborativa chamada Open COVID-19 Community. Ela reuniu designers, engenheiros, fabricantes e especialistas na área de saúde em todo o mundo em busca de soluções rápidas para combater os problemas que surgiram durante a pandemia.
Por exemplo, o risco da falta de ventiladores pulmonares fez com que, nessa comunidade, surgissem mais de 120 projetos com vários tipos de ventiladores diferentes, feitos principalmente com materiais mais acessíveis que pudessem ser montados em qualquer país. Um projeto brasileiro dessa comunidade desenvolveu o Ventivida que utiliza como base o motor de limpador de para-brisa ou motor de vidro elétrico para seu funcionamento.
Ainda existem problemas que precisam ser solucionados, e vários caminhos que podem levar a diferentes soluções. Quem poderia imaginar que poderiam existir 120 formas diferentes de se fazer um ventilador respiratório?
Nesse sentido, fica provado: a inovação aberta e fechada podem coexistir e conviver bem um com o outro. Por isso, é importante conhecer bem os dois conceitos e avaliar quais os benefícios que cada um pode trazer para seu negócio, sem descartar um ou outro formato. Por fim, você ficou com alguma dúvida? Nós da Haze Shift estamos à disposição para conversar com sua empresa e avaliar em organização qual é o melhor modelo, inovação aberta, fechada: ou seriam as duas? Vamos conversar!