Sempre que falamos em inovação há quem pense apenas na parte criativa. Contudo, existe muito mais transpiração (dedicação) do que criação, o que faz da governança da inovação algo essencial. Dentro dessa governança, um pilar fundamental é a elaboração de uma tese de inovação: o que é isso?
Esse documento não precisa estar a sete chaves em um cofre, pois suas equipes podem colaborar com ele. Vamos explicar.
A tese de inovação é um planejamento que levanta hipóteses. Assim como uma tese acadêmica busca comprovar ou derrubar uma suposição, nas organizações, isso também ocorre, sendo um mecanismo fundamental para que o board defina onde quer mirar para investir em inovação. Nesse sentido, três pontos devem constar em sua tese de inovação:
- Por que inovar. Em primeiro lugar, analise as tendências do seu setor em curto, médio e longo prazo, sob a perspectiva da organização nos próximos três, cinco a dez anos. Você provavelmente perceberá oportunidades na cadeia de valor que sua empresa está inserida.
- Quanto investir. Sobretudo, é fundamental ter um orçamento para inovação. Você vai dividi-lo entre as hipóteses/setores definidos como apostas da empresa para inovar.
- Onde inovar. Ademais, dentro de seu portfólio de produtos, quais você define como carros-chefe? Ou seja, o core business de sua rentabilidade que precisa ser, seguidamente, de aperfeiçoamentos ou ter custos de produção reduzidos. Mas você pode ir além. Pode buscar por inovações adjacentes e transformacionais.
Definindo hipóteses da tese de inovação: as áreas de investimento
Entre os modelos de governança da inovação existentes, vários incluem a formação de comitês, sejam eles formados por altos executivos ou colaboradores estrategicamente selecionados. Essa equipe irá conduzir a formulação de hipóteses, que são apostas de investimentos em áreas estratégicas para o planejamento da tese de inovação: normalmente, a definição dessas hipóteses vem a partir de imersão, pesquisa e observação.
Sete modelos de governança da inovação que você precisa conhecer agora mesmo
Vou dar um exemplo para que fique mais claro como fazemos isso. Nós da Haze Shift desenvolvemos um projeto para um cliente do agronegócio. Com a realização de quatro workshops colaborativos, em um processo chamado Idealab, o board de inovação conseguiu afunilar algumas hipóteses para a tese de inovação.
- No tema água: em como a companhia pode apostar em novas tecnologias e projetos de startups para reduzir o consumo de água em frigoríficos. Dentro da estratégia ESG, inovar nos processos de substituição ou uso eficiente da água para aplicar soluções inovadoras, possui alto impacto e relevância estratégica não só para a organização, mas para a sociedade em geral.
- Aposta em eficiência energética: busca contínua por maneiras sustentáveis de uso de energia elétrica. No agro, a aposta de uso de energia por biodigestores, por exemplo, é um dos modelos que podem ser buscados.
Certo, mas como garantir que isso esteja conectado à estratégia organizacional e por quanto tempo a empresa precisa apostar nas hipóteses definidas? Vamos a algumas respostas.
Ciclos rápidos, ligados à estratégia e comunicáveis
Lembra quando eu disse que hipóteses são feitas para serem provadas ou descartadas, como na Academia? Pois então, a hora que uma for provada ou, em nosso caso, atingir os resultados esperados ela pode ser aprovada ou, se não atingir o esperado, pode ser descartada.
Em geral, espera-se que os investimentos nas hipóteses pré-determinadas sejam de ciclos de pouco mais de um ano. Mas isso pode variar e há empresas que apostam em execuções rápidas, de poucos meses, para comprovar suas hipóteses e partir para outras apostas – mais ou menos como fazem as startups, que apostam em sprints rápidos de validação de produtos.
Com tiros tão curtos é preciso garantir que esses investimentos em inovação estejam alinhados à estratégia organizacional. E é por isso que um modelo sustentável de governança da inovação é importante. Minha recomendação é que o comitê gerador da tese de inovação – se não for formado pelo próprio board executivo – contenha pelo menos um membro da alta diretoria. Só isso? Não, tem mais:
Em meus anos como consultor de inovação percebo que empresas temem abrir estratégias de inovação para as bases da pirâmide da organização e para parceiros da sua cadeia de valor. Eu respeito essa decisão, mas preciso lembrá-los que aqui não executamos uma estratégia, executamos uma tese de inovação, com apostas em ciclos rápidos. Além disso, quanto mais essa comunicação com os colaboradores e participantes for transparente, melhor. E dou alguns motivos para democratizar a tese de inovação:
- Ao estarem cientes das apostas da empresa, gestores podem colocar os temas entre as prioridades de suas equipes;
- Equipes de diversos setores podem direcionar seus esforços para apresentar propostas ao pipeline de inovação que estejam conectados com as hipóteses formuladas;
- A organização precisa comunicar aos seus stakeholders, especialmente aos acionistas, onde pretende chegar com a inovação.
Como a tese de inovação pode promover a inovação aberta
Entendeu o porquê desse documento ser inspirador e porque, ao abri-lo, sua capacidade de promover a inovação aberta é ainda maior? Agora peço licença para adiantar um projeto que nós da Haze Shift estamos fazendo com uma rede nacional do setor automotivo.
Essa companhia tem a proposta de aplicar uma tese de inovação que faz uso de hipóteses para promover negócios adjacentes e transformacionais. O primeiro remete a fazer algo diferente do negócio principal (core business), como, digamos, uma indústria abrir uma loja própria. O transformacional é algo completamente novo. Eu explico isso melhor neste link sobre transformação digital.
Leia também: Uma padaria para entender o que é transformação digital nas empresas
Vamos voltar ao tema da rede do setor automotivo. Dentro da tese de inovação, uma das prováveis hipóteses a serem trabalhadas é relacionada aos espaços livres. Como forma de inovação aberta, podem ser feitas parcerias com empresas de outros ramos, startups ou até mesmo concorrentes.
Em relação à multinacional do agro, que comentei acima, a inovação aberta também estará ainda mais evidente com a busca por startups capazes de auxiliar na hipótese de redução de uso de água. Quantos parceiros se institutos de tecnologia por aí não gostariam, por exemplo de apresentar suas capacidades de higienização com raios UV para parte da linha produtiva, por exemplo? E olha que isso é só um exemplo.
Tese de inovação: chegou a vez da sua empresa!
É por tudo isso que eu sempre reforço aos nossos clientes: a inovação aberta é estratégica para a conceituação de uma tese de valor de inovação. Afinal, toda tese de inovação precisa trabalhar em rede para, assim, promover a cultura da inovação e gerar valor, promovendo um círculo de governança da inovação perfeito, praticamente infinito.
Por fim, fica o convite: vamos conversar, você tem uma tese de inovação na sua empresa ou área / departamento? Vamos lá!