Quando falamos em Teoria U, precisamos entender em partes sobre o que ela trata. Por isso, temos mostrado aqui em nosso blog uma breve introdução explicando o que é a Teoria U e em outro texto como a descida da letra U nas organizações faz com que os times e indivíduos se conectem.
Em resumo, o que chamamos de descida do U é uma fase de observação. Nela, existe a conversa com pessoas, análise de cenários e o início de uma conexão entre o time. Contudo, a Teoria U vai além. Após a conexão, feita pelo cultivo e empatia entre pessoas, os indivíduos deixam ações no passado (algo que, em inglês, o autor chama de Let it Go, traduzindo para o português – deixar para trás), e chega o momento de criar algo novo. Ou seja, de inovar!
Isso significa que é hora de começar a escalar o U. Para isso, porém, na curva do U, precisamos enxergar para o futuro que emerge. É o momento de deixar vir (Let it Come). E é justamente esse sentimento de inovação e criação que vamos tratar neste texto! Portanto, se você ainda não leu os artigos anteriores, vale a pena conferir:
- O que é a Teoria U de Otto Scharmer
- A Teoria U e as duas opções das organizações: optar pela Ausência ou pela Presença
Vamos fazer um exercício sobre Presença na Teoria U?
Imagine que você e sua equipe de trabalho estão dentro da letra U, bem na curva. Como dissemos, você fez a descida em uma fase de observação completa, deixando seus pensamentos do passado e agora está pronto para iniciar novas atitudes. Isso significa que é o momento de se preparar para subir o U, ou seja, escalar.
O fundo do U (base) é o momento sim onde já passamos por toda a observação, análise, empatia e deixamos as amarras para trás. Nesse momento presente a gente já se conecta com o futuro que emerge. Trazendo um exemplo prático, quando o alpinista vai escalar, ele está na base, conectado ao presente e olha para cima. Com esse olhar para cima ele já vê o futuro, onde ele quer chegar (mesmo estando na base), por isso que a teoria U diz para se conectar com o futuro que emerge, criar a partir de onde estou com foco onde quero chegar.
Vamos entender como fazer essa conexão?
A ferramenta que prepara para a escalada da Teoria U
Antes de começar um jogo, ou uma escalada, é preciso entrosamento entre os participantes e jogadores, concorda? Isso também se aplica quando falamos em projetos inovadores e em promover a cultura de inovação. E o entrosamento passa pelo diálogo intenso entre uma equipe ou mesmo entre stakeholders internos e externos.
Na Teoria U a ferramenta Story Sharing (Compartilhamento de Histórias) é utilizada justamente para isso, na fase de Presença, ou seja, ela é excelente para a curva/fundo do U.
As pessoas se organizam em grupos de mais ou menos três pessoas. Essa dinâmica basicamente é o fechamento da análise e observação. Nós da Haze Shift buscamos que as pessoas se conectem aqui por uma atividade que chamamos de “Sabe, Sente, Sonha”, na qual buscamos trabalhar com os elementos do passado (o que sabe sobre a organização/o projeto no passado); o que sente sobre o presente momento; o que ele sonha para o futuro. Isso está conectado aos seguintes princípios do Story Sharing destacado na Teoria U:
- Carregar o container, ou seja, desenhar um espaço em que pessoas se sintam confortáveis para se abrirem umas com as outras.
- Fazer um mergulho profundo, o que significa que as pessoas têm a liberdade para mostrar suas emoções, sonhos e medos, sem julgamentos. A ideia é que haja empatia.
- Redirecionar a atenção das histórias individuais para como elas podem colaborar para uma subida conjunta do U.
- Abrir o coração, ou seja, acessar e ativar os níveis mais profundos de percepção emocional.
Em outras palavras, assim como você começa a falar, tem outras pessoas ouvindo. Ao mesmo tempo em que você compartilha suas outras emoções, você se conecta com as emoções do restante do grupo. E acontece, junto, uma conexão de planos: como o grupo vai emergir e subir. Isto é, qual a visão será tomada.
Isso é muito importante, por exemplo, em projetos e jornadas de ressignificação. Afinal, as equipes precisam desenvolver competências críticas como, por exemplo, transparência, colaboração, confiança e comunicação.
Criado o vínculo, chega o momento de cristalizar
Agora vamos para o início da escalada. Nos primeiros passos chega uma etapa que Otto Sharmmer chama de Cristalização na Teoria U. Vamos explicar o que é isso.
Cristalizar significa começarmos a imaginar o futuro que buscamos emergir a partir da conexão profunda com a fonte que estabelecemos anteriormente. É aqui que a visão mais clara do campo do futuro (e não do nosso ego) começa a aparecer. Afinal, começamos a escalada e já estamos olhando para cima, concorda?
Em outras palavras, significa solidificar a visão e as intenções de sua equipe ou dos stakeholders internos e externos, formadas na etapa de presença (fundo do U). A partir do momento em que houve o story sharing e as pessoas estão alinhadas, este é o momento de intensificar o trabalho conjunto.
Quer ver um exemplo de como essa conexão e cristalização acontece com frequência?
O Brasil é constantemente atingido por um alto volume de chuvas no verão, causando deslizamentos de terra e enchentes. Infelizmente, há um grande número de desabrigados. Essas pessoas contam suas histórias e precisam de uma solução, com outros atores da sociedade (stakeholders) . Veja que aqui estamos no momento de presença, que conscientiza e une a todos.
A partir do momento em que há uma mobilização concreta de uma organização para arrecadação de mantimentos, oferta de espaços para abrigos e outras ajudas, a sociedade e as vítimas cristalizam uma visão. Há um início de ação concreta. Basicamente, acontece o mesmo na etapa de cristalização da Teoria U de Otto Sharmmer.
Mas e no meio corporativo, como podemos fazer isso?
Cristalização e a dinâmica da Modelagem 3D da Teoria U
Uma das ferramentas Teoria U de Otto Sharmmer utilizada para cristalizar uma visão da equipe é a Modelagem 3D. Ela permite materializar algo abstrato (por exemplo, a união da equipe, um objetivo por mais transparência ou confiança) ao incentivar que o grupo faça uma dinâmica de criação de uma escultura que representa sua situação atual e as possibilidades emergentes de seu trabalho e vida.
Em primeiro lugar, cada participante faz uma escultura própria. Ela pode ser feita em massinhas, peças de Lego ou até mesmo, ao invés de esculpir, ser feito um desenho que materialize (cristalize) um objetivo. Após a visão individual ser realizada, todos apresentam suas criações, e a dinâmica segue com a união das peças individuais para uma criação coletiva, que una as várias perspectivas: pode ser uma cidade de Lego com as peças, uma grande obra de massinha ou ainda a criação de um storyboard baseado nos desenhos realizados pelos participantes.
Prototipagem na Teoria U
Após a etapa de cristalização, é hora de dar vida à parte prática, ou seja, transformar a reflexão em uma fase de testes por meio da prototipação.
A melhor maneira de fazer isso é por meio da criação de um MVP (Produto Mínimo Viável). Contudo, isso não se aplica apenas a produtos. Significa concretizar a prototipação de um processo interno em uma área ou equipe, uma implementação que impacte a cultura da organização ou, claro, a geração de produtos e serviços.
Vou dar um exemplo. Após a fase da presença e cristalização, uma área da empresa pode prototipar a implementar metodologias ágeis em seu funcionamento. E isso não precisa abranger a área inteira: o teste/protótipo pode ser feito em uma equipe menor para avaliar o funcionamento e fazer ajustes, conforme necessário. Após isso, o projeto de implementação da metodologia ágil pode ser escalado para a área e, posteriormente, até para toda a organização.
O que é metodologia ágil por que ela faz parte da receita de sucesso em projetos de inovação
Perceba que essa implementação na subida do U requer a integração de pensamento, sentimento e vontade no contexto de aplicações práticas e aprender fazendo. Esta é a etapa que também é vista como Decretar a Lei na Teoria U (veja imagem), pois é nela que os vínculos são colocados à prova e é construído o protótipo do objetivo gerado desde a fase da percepção.
Co-evoluir e incorporar: o fim da subida do U
Ao final da curva do U, uma nova atitude deve se concretizar. É o momento de evoluir em conjunto, ou seja, co-evoluir como indivíduo e crescer de forma coletiva. Mas o que isso significa corporativamente?
Significa envolver os stakeholders em diversos aspectos para a validação do protótipo, ou seja, validar o MVP criado na fase anterior. É como acontece nas últimas etapas do design estratégico e do design thinking:
Nessa última etapa, é preciso convidar mais pessoas, o que significa ir além do grupo que fez as fases de descida (observação), fundo do U (presença) e as etapas de subida do U. Ou seja, o grupo emana seus resultados para toda uma organização para co-evoluir um produto.
Vamos colocar a Teoria U em prática?
Nós sabemos que são muitas etapas e ferramentas para colocar a Teoria U em prática. Por outro lado, como consultor de inovação já vi ela funcionar em diversos tipos de projetos.
Nós da Haze Shift já a utilizamos, por exemplo, em jornadas de ressignificação e programas de incentivo à cultura da inovação, para que os times passem por todo um processo de análise, entendimento, entrevistas até a chegada de um plano de inovação. É um processo que inclui workshops, trabalhos colaborativos, entre outras ferramentas (além das citadas aqui) que variam conforme o perfil de cada organização.
Afinal, assim como indivíduos são únicos, organizações também são únicas. E cada uma precisa de um diagnóstico diferenciado. Por falar nisso, vamos diagnosticar a inovação em sua empresa e ver como a Teoria U pode ajudar?