Já passamos da hora de quebrar o mito de que apenas algumas pessoas são criativas. Isso vale tanto para nossa vida pessoal quanto para a vida profissional. Um dos grandes autores que vem derrubando essa crença é o pesquisador Kevin Ashton, autor do livro A História Secreta da Criatividade: o resumo você encontra aqui.
Em nosso podcast semanal, nós da Haze Shift nos debruçamos nos ensinamentos do livro. Eu, o host Luiz Henrique, a Letícia Ribeiro (da área de projetos) e os consultores associados Junior Chapim e Melissa Rasera fizemos cada um sua leitura. Por fim, chegamos à conclusão de que essa leitura é essencial para incentivar a cultura da inovação nas empresas. Ouça agora o resumo de A História Secreta da Criatividade:
O próprio autor Kevin Ashton – que nunca foi considerado muito criativo – conta que acreditou no mito da criatividade até 1999, quando em seu trabalho na Procter & Gamble criou um nome que marca atualmente uma revolução nas empresas: ele é o criador do termo Internet of Things (IoT), em português, internet das coisas.
Essa criação não foi de uma hora para outra: veio a partir da observação e de ações que ele fez na empresa, como colocar chips para identificar ausência de produtos em prateleiras, por exemplo, e conectando essa experiência ao uso de dados que poderiam prever a ausência de produtos em determinados momentos do dia. Foi algo muito útil para a cultura da inovação da empresa.
A iniciativa precisa ter acabativa
Falando assim, até parece simples, mas Ashton foi criativo e inovador a partir de trabalho duro de observação. E isso invoca, muitas vezes, tentativa e erro, como no caso da história secreta da criatividade de Mozart. Por muito tempo (mais de século) circulou um texto atribuído a Mozart que contava sobre sua facilidade em criar composições: bastaria respirar ar fresco, pensar e anotar.
Em 1856, pela primeira vez, essa crença caiu com o biógrafo Otto Jahn. Posteriormente, pesquisadores confirmam que o processo criativo de Mozart não era mágico. Ele ficava dias com esboços, testando no piano, empacado e com bloqueios. Assim como acontece, muitas vezes, em nosso trabalho. Ou seja, Mozart era – em grande parte – normal como eu, você e seus colegas. E aqui eu destaco um trecho forte do livro:
Os criadores passam quase todo o tempo perseverando, apesar da dúvida, do fracasso, do ridículo e da rejeição, até conseguirem realizar algo novo e útil. Não existem truques, atalhos ou esquemas para se tornar criativo de uma hora para outra. O processo é comum, ainda que o resultado não seja. Criar não é magia; é trabalho, Ashton, Kevin. A história secreta da criatividade
O exemplo de Mozart é uma prova concreta de que, além da iniciativa de criar, ele tinha o que nós da Haze Shift reforçamos no podcast como acabativa, ou seja, a conclusão de uma ideia ou iniciativa. Afinal, é assim que ideias viram projetos e acabam gerando produtos, serviços e marcas inovadores. E isso pode ser incentivado de diversas formas, como, por exemplo, em projetos que fazem uso do design thinking (clique aqui para entender como isso gera iniciativa e acabativa).
Cada um tem a sua própria história secreta da criatividade
Em minha carreira como consultor de inovação, já vi soluções criativas surgirem por vários caminhos. Conheci pessoas brilhantes que, nem de longe, seriam o que muitos chamam de super dotadas. Mas elas tiveram algo em comum: dedicaram tempo e entusiasmo para resolverem problemas. É por isso que eu concordo com meus colegas no podcast acima quando eles dizem que o resumo da história secreta da criatividade é treinar a nossa própria capacidade de criar.
Como mostra o livro, cada capítulo com um bom exemplo, é que quaisquer tipos de pessoas são tão criativas como aquelas referências em criatividade. Logo de cara, já podemos ver um exemplo disso na obra a partir da história do garoto Edmond, um jovem escravo que descobriu como produzir baunilha na Ilha de Reunião (Oceano Índico). O produto até então só era possível no México devido à polinização natural de abelhas em flores de orquídeas.
Cientistas de todo o mundo já tinham tentado fazer a baunilha vingar em diferentes continentes, mas foi Edmond que matou a charada. Ele percebeu, pela simples observação, que existiam orquídeas machos e fêmeas e que, levando um pedacinho de uma planta para outra por meio de um bambu, depois de um tempo surgia um produto doce, gostoso e muito apreciado. Era a baunilha. Ele estava criando a partir da polinização com um simples bambu.
Quando o pessoal da ilha percebeu a baunilha, pediu instruções a Edmond sobre como fazer aquilo. O que podemos aprender sobre isso? Na minha humilde visão, que alguém que não era especialista, sem estar restrito em seu próprio conhecimento como muitos cientistas, conseguiu observar algo que, por muito tempo, especialistas e botânicos não perceberam.
O ensinamento da baunilha no mundo corporativo
Em uma analogia com empresas, quantas vezes pessoas de diferentes áreas de negócios foram capazes de observar problemas em outras áreas de uma organização por que tinham uma visão de fora? Eu chamaria isso de visão não viciada.
Nesse sentido, quando estamos acostumados com certas boas práticas, colocamos certos limites sobre a nossa atuação. Mas quando o conhecimento de uma área é aplicado em outra distinta, esse sim pode ser um grande diferencial. Esse é o caso, por exemplo, de engenheiros, advogados, publicitários e até mesmo ex-camelôs como Silvio Santos que se provam gênios da Administração de Negócios.
Mesmo com alguns fracassos e voltas atrás, esses empreendedores não desistem. É por isso que a inovação é um processo de muito esforço e erros. E Kevin Ashton traz isso em seu livro.
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Nós da Haze Shift também podemos apresentar casos de sucesso que aconteceram devido a visões trazidas por pessoas que não tinham tanto conhecimento de Administração, mas que se mostraram fundamentais na construção do planejamento estratégico empresarial.
Em um projeto que fizemos com a Volvo na América Latina, pessoas de todas os escalões do negócio fizeram parte da construção do planejamento estratégico da empresa, algo até então feito apenas pelo comitê de executivos. Esses colaboradores trouxeram visões diferenciadas, que fizeram com que o alto escalão enxergasse o plano com outros olhos.
Veja como isso aconteceu no caso da Co-criação do Planejamento Estratégico da Volvo com Stakeholders
Você percebe que esse caso é mais ou menos com o da baunilha? Neste caso, um garoto sem expertise em botânica enxergou algo diferente e que passou a ser adotado por cientistas. No caso da Volvo, colaboradores trouxeram pontos de vista diferentes e que puderam ser adotados pelos executivos no planejamento estratégico.
Estímulos à criatividade nas empresas
Entretanto, é possível ir além neste debate e ver como é possível gerar criatividade a partir de estímulos dentro das empresas, com métodos que incentivem as pessoas a saírem do óbvio. A Teoria U é um bom exemplo disso porque faz as pessoas suspenderem padrões, redirecionarem suas visões e executarem processos por novos meios, como mostrou meu colega e sócio Rodrigo Medalha neste post:
O que é a Teoria U e como ela pode dar um novo sentido a projetos de liderança e inovação
Como estou fazendo aqui um resumo de A história secreta da criatividade, de Kevin Ashton, posso mostrar um exemplo citado pelo autor que tem tudo a ver com a Teoria U. Ele menciona fabricante de aviões LockHeed, que foi demandada pelo governo dos Estados Unidos a criar aviões a jato na Segunda Guerra Mundial para combater os nazistas, que já tinham seus próprios aviões a jato.
Agindo sob pressão, as equipes não conseguiam fazer nada diferente, uma vez que estavam viciadas em seus processos antigos de fabricação. Então, uma equipe foi designada unicamente para o projeto secreto. Tiveram que se instalar em uma tenda ao lado da fábrica, em um depósito de materiais, e tiveram a incumbência de criar o produto do zero. Era uma equipe multidisciplinar, com especialistas em diversas áreas.
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Dessa forma, a LockHeed chegou a um resultado excepcional. A equipe da tenda suspendeu padrões, redirecionou sua visão e entregou um projeto de corpo e alma sem processos antigos. Sem a mesma hierarquia corporativa da fábrica, a equipe criou novas condições de trabalho. As lideranças surgiram de forma espontânea. A equipe ficou homogênea e a visão do novo gerou o novo avião a jato.
Mas não é preciso uma guerra para gerar a inovação nos processos. Recentemente, nós da Haze Shift apoiamos um cliente do setor da indústria moveleira através de uma iniciativa conjunta com o Sebrae PR em um programa de cultura da inovação para quebrar restrições de determinados processos.
A proposta é que os colaboradores sintam abertura para criar processos criativos. Isso foi feito com um programa de captação de ideias que oferece feedback aberto, tanto para ideias aprovadas quanto para as reprovadas, oferecendo até mesmo incentivo financeiro para ideias aprovadas. Também há outras frentes do projeto, que lidam com inovação aberta e comunidades, estimulando o contato criativo com pessoas de fora da empresa.
Tudo isso mostra que criatividade vem com insistência. A criação é um labirinto em que muitas vezes nossas ideias acabam precisando de ajustes, ou um passo atrás para nos encontrarmos. Mas são passos que valem a pena. E nós da Haze Shift podemos ajudar empresas a contornar esse labirinto com programas e projetos, como os que citei aqui neste texto ou em nossa página de casos de sucesso. Você também pode entrar em contato neste link ou mesmo nos comentários abaixo. Terei prazer em responder a dúvidas ou debater seu ponto de vista.