Eu sempre gosto de ouvir histórias sobre jornadas profissionais. Pois bem, eu também tenho uma história dessas. Foi em 2017, quando voltei intrigado de uma viagem ao Vale do Silício. Resolvi cursar um MBA em Transformação Digital e o Futuro dos Negócios para entender os impactos das grandes transformações atuais em empresas.
A primeira disciplina do curso que me chamou a atenção era Data Science e Big Data: com o professor Ricardo Cappra, uma referência no assunto.
Foi quando me deparei pela primeira vez com o termo Data Driven: que significa Orientado a Dados, em tradução literal. Aquele momento me despertou a curiosidade em pesquisar um pouco mais das questões relacionadas a dados.
O que é Data Driven
O termo Data Driven pode ser resumido como a decisão de uma organização em direcionar esforços, por meio de pessoal capacitado, a adotar dispositivos e programas tecnológicos que auxiliem no processo de tomada de decisão.
Para tanto, a organização conta com a coleta, armazenamento e processamento de dados com objetivo de identificar padrões a partir destes mesmos dados, padrões estes que orientarão decisões estratégicas.
Nessa jornada de aprendizado, vemos que é possível resumir em uma imagem como funciona o conhecimento a partir de dados. Confira:
A partir dessa imagem, vale a pena destacar que, em função da a amplitude do tema, de minha formação e background voltado para gestão e inovação, aqui vale um disclaimer: minha intenção é despertar em você a mesma inquietação causada em mim.
Agora, responda: que tal se aprofundar e tentar fazer uma análise dos potenciais impactos da questão, seja em seu negócio, carreira e na sociedade?
Aumento na velocidade de adoção de tecnologias
Em primeiro lugar, você está vendo que o mundo vem passando por transformações tecnológicas jamais vistas na história. E aqui precisamos pensar além das invenções ou mesmo das inovações criadas. Precisamos pensar na alta velocidade com que tudo vem acontecendo.
Tomando por base as informações dos últimos 100 ou vai lá, 200 anos, tivemos avanços consideráveis em muitas tecnologias, as quais trouxeram grandes benefícios à humanidade. Entretanto, o que mais chama a atenção nessa história toda é a taxa de adoção e a velocidade com que isso vem ocorrendo.
Analise a figura a seguir e observe que o telefone levou mais de 100 anos para ser plenamente difundido na sociedade. Em contrapartida, a internet teve uma taxa de adoção vertiginosa, tendo atingido quase a totalidade da população mundial em menos de 10 anos. Veja:
Novamente, isso pode ser um grão de areia na história da humanidade, mas é algo impressionante do ponto de vista do contexto que vivemos atualmente.
Com Data Driven, estamos gerando mais dados
Já ouviu falar na Lei de Moore, de 1965? A lei destaca que o poder de processamento dos computadores dobraria a cada 18 meses e durante 50 anos. Por um período, foi o que aconteceu: por décadas novos processadores dobraram de potência a cada dois anos.
O fato é que o avanço da internet, com dispositivos móveis e uma infinidade de sensores capturando dados de tudo que se possa imaginar, gerou uma condição ótima em termos de massa de dados para análise, jamais vista na história humana.
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Para se ter uma ideia, apenas nos últimos três anos armazenamos 90% de todo dado já produzido em toda história da humanidade. De acordo com a Data Science Academy, atualmente, são gerados 2.5 quintilhões de bytes por dia, e este número está dobrando a cada dois anos.
Esses novos dados gerados são utilizados quase instantaneamente para nortear indivíduos, empresas e governos. Os grandes avanços tecnológicos em hardware e software possibilitaram a criação e o armazenamento de uma massa gigantesca de dados à nossa disposição.
Esses volumes crescentes na produção de dados, com velocidade e variedade cada vez maiores é o que define o famoso Big Data. E isso impacta em como gerenciamos os dados, ou seja, em como nos tornamos um profissional ou uma empresa Data Driven.
Data Driven: Data Matters
Em 2017, o tema Big Data foi matéria de capa de uma das mais respeitadas revistas do mundo, The Economist. A revista trouxe a seguinte frase: Data is the new oil (Dados são o novo petróleo). Foi uma clara analogia das gigantes da tecnologia (Amazon, Google, Tesla, Microsoft, Uber e Facebook) como se fossem as mais novas petrolíferas do mundo.
Assim como na indústria petrolífera, é importante lembrar que os dados também necessitam de infraestrutura e pesquisa para exploração, matéria prima de qualidade e, ainda, precisam ser refinados.
Neste ponto destaco um outro fator primordial e responsável pela popularização do Data Driven, que foi o aumento da capacidade de processamento dos atuais computadores. Afinal, de nada adianta termos uma massa incrivelmente grande de dados sem poder processá-los para encontrar respostas ou tirar insights deles.
De acordo com a Gartner:
“Uma estratégia de dados é um processo altamente dinâmico empregado para apoiar a aquisição, organização, análise e entrega de dados em apoio aos objetivos de negócios”.
Graças a este avanço em desenvolvimento de hardwares e a redução em seus custos de produção, foi possível aumentar as possibilidades para coletar, armazenar e processar dados como vemos nos dias atuais, o que potencializou a obtenção de insights a partir de cruzamentos, análise e interpretação dos dados.
Data Driven na prática
Do ponto de vista prático, o interesse por dados tem crescido pelas possibilidades que grandes massas de dados nos oferecem, tais como: personalização extrema, melhora em atendimento, desenvolvimento de novos produtos e serviços ou melhora expressiva dos negócios atuais. Seja em ofertas ou experiências de compras, para potencializar decisões analíticas ou descobrir o que não sabemos a respeito de questões relacionadas ao nosso próprio negócio.
Neste último ponto me lembro de uma startup que visitei em San Carlos, CA no Vale do Silício. Ela se chama FBN (Farmer Business Networking) e o negócio deles é dados.
Funciona assim: eles criaram uma plataforma em que recebem dados gerais, desde informações relacionadas à propriedade até informações pessoais dos produtores rurais.
A proposta de valor inicial da FBN era devolver informações, por meio de relatórios com preços médios pagos pelos insumos na região do produtor. Assim, a FBN ajudava produtores, visto a dificuldade de se ter acesso a informações de qualidade e confiáveis no segmento. Dizia um diretor da FBN “o produtor nunca sabia se estava pagando caro ou barato no insumo”.
Confesso que na ocasião para mim não havia ficado tão claro o potencial do negócio da FBN, e sua estratégia com base nos dados. Pois bem, tenho acompanhado o desenvolvimento da FBN. Certa vez tive a oportunidade de fazer um call com o diretor de expansão delas, com intuito de entender seus próximos passos.
Passados quatro anos da minha primeira visita, hoje a empresa conta com operação, além do Estados Unidos, no Canadá e Austrália, saiu de 7.000 produtores (2017) para mais de 30.000 membros na sua base em 2022. Além disso, os relatórios a empresa suprem outras necessidade de seus membros associados a plataforma, tais como: Proteção de Cultivos como Herbicidas, inseticidas e fungicidas, sementes de soja, alfafa, sorgo, Milho, comercialização de produção, Produtos farmacêuticos e de alimentação animal, financiamentos, seguro de vida, planos de saúde e outros.
O que mais me impressiona nesta empresa é o poder do Big Data e o quanto ser Data Driven independe de conhecimento profundo em áreas de tecnologia, ou mesmo investimentos vultuosos em infraestrutura.
Vivemos tempos em que ser orientado a dados é necessário e é acessível a todos, até mesmo a um pequeno produtor no interior do Kansas de posse de seus dados trabalhados e ter acesso dados de sua rede, como é o caso da FBN, com acesso a soluções que orientam sua tomada de decisão.
É fato que contamos com mais dados para nos adaptarmos aos novos tempos, e teremos que adotar uma postura mais analítica. Mas a boa notícia é que existe um batalhão de soluções à nossa disposição. Basta sermos Data Driven.
Não por acaso, de acordo com a Deloitte:
“O uso mais comum de dados entre as organizações foi para impulsionar a eficiência operacional (61%). Quase todas as organizações (97%) relataram benefícios ao adotar o aprendizado de máquina”.
Desta forma, os dados importam e estão cada vez mais pulverizados em todos os processos de uma organização, será impossível operar eficaz e eficientemente sem o uso deles.
Como podemos ser Data Driven
Toda organização tem condições de desenvolver, nas palavras do Professor Ricardo Cappra, uma cultura analítica. Isto é, a capacidade de promover um ambiente onde os profissionais sejam orientados por dados.
O curioso é que para ser Data Driven, ao menos em um primeiro momento, você dependerá mais das pessoas do que infraestrutura tecnológica (hardware e softwares). De acordo com uma pesquisa conduzida pela Harvard Business Review, muitas empresas ainda estão lutando contra, não apenas tecnologia legada, mas também a culturas incorporadas que são resistentes a novas maneiras de fazer as coisas – mais de 90% das empresas pesquisadas relataram que a cultura era a maior barreira deles.
Recentemente participei de um projeto junto com a Haze Shit em uma empresa no ramo de equipamentos para o agro e é interessante refletir que a estratégia de dados da empresa segue a mesma lógica do case da FBN.
A proposta é estruturar um Big Data, com dados advindos dos produtores, para oferecer informações que auxiliem em decisões pautadas por dados, ou seja, promover uma cultura orientada por dados, isto é, Data Driven. Entretanto, o projeto foi além, a equipe de tecnologia tratou de protocolos e arquitetura, que são fundamentais para a entrega, e nós, da frente de negócios, conduzimos estudos profundos do mercado com o olhar para desenvolver o modelo de negócios.
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Nós conduzimos pesquisas, diversas entrevistas com profissionais do agro, produtores, empresas de ERP, centros de pesquisa, startups e empresas do agro, com a proposta de compreender suas necessidades e possibilidades de uso da tecnologia em prol de melhores decisões e consequente maiores resultados para todos os stakeholders da cadeia.
Portanto, mesmo que sua empresa não possua uma infraestrutura de pessoas, sistemas e equipamentos para ser uma gigante em tecnologia, você já tem trabalho a ser feito. Afinal, para as questões tecnológicas, atualmente há inúmeros fornecedores de tecnologia que têm buscado prover soluções, dados e informações, ou mesmo comercializam sistemas que podem potencializar seu negócio.
Já a decisão de ser Data Driven passa pela disposição em formar pessoas, promover o ambiente e investir em soluções para melhorar a qualidade de nossas decisões.
Para finalizar…
Para ser Data Driven você precisa desenvolver uma cultura analítica, ou seja, as pessoas necessitam aceitar, serem preparadas e as decisões precisam ser embasadas, a orientações por dados.
Em um mundo repleto de dispositivos medindo a todo momento, essa é uma necessidade crucial de sustentabilidade para os negócios. Afinal, como diria Willian Edwards Deming, que sabiamente disse certa vez:
“Se você não tem dados você é só mais uma pessoa com opinião”.
Pensem a respeito disso.Nós da Haze Shift podemos ajudar sua empresa a trabalhar melhor com dados já disponíveis pela sua própria empresa. Vamos começar a ser Data Driven e a coletar esses dados, organizá-los e fazê-los trabalhar a favor de você? Entre em contato.
Escrito por:
Jonathan Mendes
Profissional com mais de 17 anos de mercado, tendo atuado nos últimos 7 anos no Agronegócio como coordenador corporativo para gestão da inovação e estratégia, estruturação de sistemas de gestão da qualidade e melhoria de processos. Foi executivo de expansão em uma startup de Inteligência Empresarial. Atuou como Gerente de Qualidade Assegurada na indústria de bebidas e possui vasta experiência na agroindústria, tendo atuado tanto no processo produtivo, quanto em setores de garantia da qualidade. Foi sócio administrador em uma empresa no ramo de prestação de serviços, participou de imersões em ambientes inovadores no Brasil, Estados Unidos e Portugal. É idealizador do Canal Vidas Empreendedoras, atua como mentor e investidor anjo de startups, professor e consultor em estratégia, processos e inovação.
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