Compreender, criar e validar. Em três verbos, é possível ter uma visão básica do design estratégico. Contudo, não de toda a modelagem de negócios: o empreendedor precisa gerar e entregar valor para o cliente. Já o design estratégico auxilia a validar esse modelo.

Em uma forma simplista, pode-se dizer que um efetivo modelo de negócios é o que gera lucro. Entretanto, é muito mais que isso. Você já deve ter notado que, em muitas reuniões, executivos e empreendedores colam post-its coloridos em um mural. Sabe o motivo? 

Quando um empreendedor tem uma ideia, identifica uma necessidade ou uma proposta de valor para um negócio, ele pode inserir um post-it em um mural ou, como muitos gostam de citar, dentro um plano de negócios Canva (também conhecido como Business Model Canva). E olha que isso são apenas alguns exemplos do que os posts podem elencar.  

Cinco categorias do design estratégico

Além disso, o design estratégico funciona como um elo essencial para dizer se um Canva ou Post-it faz sentido. Ele conecta o negócio a clientes ou a um segmento, um nicho específico. Para facilitar o entendimento, aqui eu explico cinco categorias do design estratégico que irão, posteriormente, culminar na modelagem de negócios:

  • Descoberta: começa aqui a pré-modelagem de negócios. Os empreendedores percebem uma “dor” em um segmento específico para, então, definir um problema a ser trabalhado.  
  • Definição: nesta etapa entra a validação do problema identificado e verificação real se o problema tem aderência no mercado.
  • Ideação: aqui ocorre o desenvolvimento de uma ou mais ideias para resolver o problema identificado.
  • Prototipação: o empreendedor cria um protótipo da ideia, a custo reduzido ou nulo. Um protótipo é o primeiro contato do cliente com um produto ou serviço.
  • Testagem: empresa convida clientes ou especialistas para testarem o protótipo.

Aqui tenho uma dica para que você jamais caia na tentação de passar para a etapa de ideação sem explorar bastante as duas primeiras etapas: um dos maiores erros é a pouca atenção que empreendedores e startups dão à fase de descoberta e definição. Abaixo eu explico os porquês, acompanhe. 

O design estratégico e a modelagem de negócios: a descoberta e a definição

No dia a dia com meus clientes, faço questão de explicar que a primeira parte do design estratégico é a imersão, ou seja, a observação. É por meio dela que o empreendedor descobre as dores. Podem ser dores de comunidade, de um público-alvo, de um bairro, cidade, estado ou mesmo um país. Confira algumas das ferramentas de descoberta do design thinking que auxiliam na construção de uma pré-modelagem de negócios:

  • Shadowing: em que uma pessoa acompanha outra durante uma ação ou atividade ou mesmo durante um dia de trabalho para entender melhor as dores e problemas para, posteriormente, pensar na solução;
  • Entrevistas pessoais para compreender um ou mais problemas;
  • Pesquisas quantitativas e qualitativas para aprofundar o conhecimento da dor do cliente ou funcionário.

Aqui, inclusive, cabe uma curiosidade: você sabia que essas técnicas servem tanto para empreendedores criarem novos produtos quanto para gestores, dentro de suas equipes, identificarem oportunidades de inovação nos processos, por exemplo? Pense nisso. 

Ademais, após a descoberta, a fase de definição responde à pergunta: Quais dores e problemas representam oportunidades para desenhar uma solução? Nesse sentido, o empreendedor “ajusta a mira” para definir quem são as personas (público-alvo) e tem a certeza de que a necessidade é real. Em outras palavras, ele observa se a dor do cliente potencial realmente é um problema.

Ideias para o modelo de negócios

Concluídas as etapas de descoberta e definição, o empreendedor está livre para pensar em soluções para suprir o problema. Há uma série de ferramentas capazes de potencializar o desenvolvimento de uma ideia para resolver essas dores. É aqui que entram os workshops e brainstorms com ambientes criativos que impactam positivamente na ideação.

Nesse sentido, é importante proporcionar um ambiente leve, ventilado e acolhedor. Afinal, o design estratégico é colaborativo. Além disso, aposto que você nunca viu uma grande ideia sair de uma sala quente, com gritos e clima pesado. Algumas pessoas podem trabalhar bem sob pressão, por outro lado, desenvolver ideias inovadoras, certamente, não é na base do desconforto. Basta reparar: quem nunca teve uma boa ideia para o trabalho fora do ambiente corporativo, seja no bar, no chuveiro ou no sofá?  

Principalmente, é preciso deixar preconceitos bem longe. Ideias que parecem absurdas também devem ser acolhidas para melhorar a geração de ideias. Posteriormente, as ideias entram em uma matriz de prioridade como ferramenta de definição de ideias. Em resumo, a mais qualificada será desenvolvida. A equipe cria opções e, ao final, alguém escolhe as melhores (ou a melhor).

Muitas vezes, a ideia até mesmo pode vir pronta. Por exemplo, startups podem ter ideias geniais. Às vezes, elas acertam em cheio. Contudo, nem sempre percebem que a proposta – por melhor que seja – não será lucrativa. Na maior parte dos casos, justamente por pularem as etapas de descoberta e definição. Isso terá impacto direto na posterior modelagem de negócios, como veremos a seguir.

Ideias, protótipos, testes e modelagem de negócios

É importante compreender que a prototipação não existe sem a fase da ideação. Pode parecer óbvio, mas, antes de um protótipo, existe a ideia. Contudo, ideias não são o modelo de negócios em si. Nesse sentido, o protótipo pode antecipar a viabilidade de um produto. De antemão, o protótipo pode identificar se a ideia precisa ser (ou não) revista ou até mesmo aprimorada.

Do mesmo modo, a prototipação é o primeiro contato que o um cliente vai ter com uma parte de seu produto. A fim de que um protótipo funcione, o empreendedor precisa ser criativo. Nesta fase, ele precisa reduzir riscos e custos (ou torná-los nulos). Nesse sentido, as ferramentas de prototipação básicas são tão inusitadas quanto divertidas. Protótipos podem ser maquetes, massinhas, legos, stortyboards (roteiros), wireframes (rascunhos que mostram a estrutura de um site ou de um aplicativo a partir de ilustrações), entre outros.

Uma vez aprovados os protótipos, em seguida, têm início os testes. Essa nova fase deve seguir a versão de MVP. Pode deixar que traduzo a sigla: Produto Mínimo Viável. Em resumo, significa construir uma versão enxuta do produto e fazer testes. Após isso, o produto está pronto para ir ao mercado. Aqui, finalmente, chegamos realmente à completa modelagem do negócio:

  • Juntamente com o produto pronto, o empreendedor precisa definir um ou mais canais de distribuição;
  • Paralelamente, a modelagem de negócios precisa contar com parceiros para auxiliar nessa logística e distribuição;
  • Ao mesmo tempo, a modelagem de negócios precisa contemplar o custo de fornecedores. Assim como há custos de montagem do produto, do mesmo modo, é preciso calcular o projetar os gastos envolvidos.

Modelagem de negócios na prática

Respondendo, portanto, à pergunta do título, é o design estratégico que apoia a modelagem de negócios. E não o contrário. A modelagem do negócio começou de forma inibida na pré-modelagem, mas desponta após a testagem. Apesar disso, podemos perceber como eles estão absolutamente conectados. Digamos que um não vive sem o outro.

Inclusive, nós da Haze Shift podemos compartilhar alguns exemplos. O programa de inovação aberta e educação empreendedora da Nissan, o Inova-san, desafia estudantes universitários a apresentar projetos que mitigam dores da região Sul Fluminense. Eu fui um dos mentores de um projeto chamado Adote uma Árvore.

O vídeo abaixo explica por si só como todas as etapas de design estratégico que descrevi acima estão presentes. Confira:

O projeto está descrito em detalhes neste link. Os jovens empreendedores descobriram e definiram um problema (desmatamento e queimadas), trouxeram uma ideia (um aplicativo que gera um QR Code ao se aproximar de uma árvore para que você possa adotá-la e realizar ações para cuidar dela), realizaram um protótipo e o testaram durante o Inova-san. 

Por fim, fica aqui o convite para que você entre em contato comigo ou com um dos colegas sócios da Haze Shift. Dessa forma poderemos trabalhar juntos para identificar dores de seu segmento de mercado, definirmos um problema, para gerar novas soluções. Bem como, juntos, poderemos criar e testar protótipos. Logo poderemos avaliar a distribuição e concluir nosso modelo de negócios. Aguardo seu contato.  

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Designer estratégico, empreendedor, gestor de comunidades e com experiências em programas de pré-aceleração e aceleração. Sempre aberto a novos aprendizados e projetar novas soluções que agreguem valor ao negócio e à sociedade.