Planos e operadoras de saúde vêm enfrentando um problema. Para eles, é mais barato fazer o acompanhamento de um cliente saudável do que atuar apenas quando esse paciente precisa de atendimento médico. Mas como fazer isso? Uma aposta são as startups de saúde no Brasil: planos podem e devem mirar nessas parcerias.

Em primeiro lugar, é importante dizer que nem sempre aquilo que parece óbvio (o investimento em prevenção) é possível de imediato. Vamos entender: uma pessoa saudável que paga a mensalidade do plano de saúde hoje paga o tratamento de quem está doente neste exato momento.

O custeio funciona mais ou menos como ocorre na Previdência Pública (INSS), que tem o chamado regime solidário. Os trabalhadores contribuem para a Seguridade Social no presente para terem direito à aposentadoria no futuro. Mas o dinheiro que entra hoje banca a aposentadoria de quem já está aposentado.

Por isso, os planos precisam pensar que, para promover a cultura da inovação, eles precisam determinar um capital para projetos inovadores. Como já escreveu meu sócio Marcos Daniel, uma tese de inovação facilita o entendimento do porquê inovar, onde inovar e quanto investir.

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Podemos adiantar que o investimento para isso não precisa ser absurdamente caro, pois a inovação aberta vai proporcionar algo comum buscado pelas startups de saúde no Brasil: parcerias com empresas do setor. Mas podemos perceber que existe a dúvida de por onde começar. 

Tendências do setor e startups de saúde no Brasil

Essa dor que o setor de saúde enfrenta depende de uma mudança cultural. Normalmente, percebemos campanhas para gestantes, controle de diabetes,para exames de próstata e câncer de mama, por exemplo. Qual o problema aqui? Já passou da hora de que as campanhas se tornem ações individuais para pacientes por meio do monitoramento personalizado, agora que startups de saúde vêm oferecendo essa possibilidade com sucesso.

Esse tipo de personalização é apontada como tendência por esta pesquisa da Accenture para sobre o setor de saúde, elaborada em 2020 e que mostra a amplificação do valor da transformação digital por conta da pandemia. 

A pesquisa destaca a imersão pessoal em experiências por meio do uso da inteligência artificial em combinação com smart things (aplicativos de controle remoto). Já o Tech Trends Report 2021, do Future Today Institute (Instituto do Futuro da Inovação), destaca a importância dos dispositivos vestíveis (wearabless) nessa revolução de dados digital.

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Essas soluções podem se tornar um grande diferencial para planos de saúde que oferecerem aos clientes, seja por meio de descontos para clientes do plano que contratarem o serviço, seja pela oferta direta inserida no pacote de convênios. E a boa notícia é que já existem startups de saúde no Brasil que oferecem esse tipo de personalização de dados e, melhor ainda, elas estão em busca de parcerias para distribuir seus produtos. Vou explicar o porquê.

Hunting de startups de saúde

Recentemente, nós da Haze Shift promovemos o hunting de startups para uma operadora de saúde que é nossa cliente. A partir de uma base construída com mais de 600 possíveis startups, realizamos 3 níveis de seleção:

  • Primeiramente, reduzimos as escolhas para as primeiras 50;
  • Em seguida, selecionamos 20;
  • Por fim, chegamos a 10 possíveis startups que poderiam trabalhar juntas com a empresa na solução de problemas, conforme necessidades previamente mapeadas e construídas em conjunto com o cliente. 

As startups apresentaram excelentes soluções e puderam construir diversas oportunidades e parcerias. Inclusive, por meio desse trabalho foi perceptível algumas tendências aqui no Brasil. Confira o que identificamos:  

Sobre Data Analytics com inteligência artificial

Uma prática comum no mercado das operadoras de saúde é prefixar os preços dos planos conforme a idade do cliente. Apesar disso, ainda mais em tempos modernos, vemos alguns jovens adultos na faixa dos 30 anos terem comorbidades que os tornam menos saudáveis do que adultos de, digamos, 50 anos com saúde impecável. Mas essa forma de custear a operação poderia ser melhorada considerando as condições de cada indivíduo?

Esse tipo de benefício a clientes saudáveis pode baratear os planos. Mas para fazer isso é preciso fazer o cruzamento de dados das condições de saúde de cada paciente. E isso pode ser monitorado pelos próprios planos de saúde conforme os exames que os pacientes realizam em seus laboratórios e clínicas parceiras, por exemplo. 

Lembra quando afirmei alguns parágrafos acima que já há soluções para esse cruzamento de informações? A startup Hupdata é uma delas. Confira como funciona:

  • Algumas ferramentas de inteligência artificial oferecidas por startups determinam eventos que podem ser previstos. No caso da saúde, o foco pode ser eventos como infartos, doenças genéticas, entre outros problemas;
  • Ao analisar dados de vários pacientes, a ferramenta utiliza um algoritmo próprio de machine learning, o que significa que uma inteligência artificial aprende com dados passados o que pode acontecer com o paciente, e se eles têm maior ou menor propensão a terem determinados problemas de saúde;
  • Com o cruzamento de dados, é possível predizer eventos futuros, como quando um paciente pode ter um problema de saúde.

Score de saúde

Dessa forma, com um birô de informações pessoais de saúde, é possível gerar um score da saúde da pessoa. Talvez, isso possa gerar preços mais justos para algumas pessoas que contratam planos de saúde.

Outra vantagem é que ferramentas de inteligência artificial aprendem cada vez mais quando novos eventos ocorrem. Ou seja, quando um paciente precisa do plano de saúde, a causa do evento é registrada no sistema, e isso leva o robô a aprender automaticamente sobre possíveis ocorrências. Com essas informações em mãos, os planos de saúde podem tomar uma série de atitudes, como campanhas para nichos de risco e dar acesso a abrir esse tipo de informações para médicos cadastrados, por exemplo. 

Startups de saúde no Brasil fazem acompanhamento personalizado

Outras soluções ocorrem por meio do atendimento personalizado. Com a evolução dos smartphones, já há startups de saúde no Brasil que oferecem praticamente uma enfermeira digital. Pode parecer exagero, mas alguns aplicativos fazem exatamente isso.

Vejamos o caso startup Cuco Health, por exemplo. A proposta é engajar o paciente com doença crônica a fazer tratamentos da forma correta. Gratuito para pacientes e cuidadores, mas pago por hospitais e planos de saúde, o app personaliza a compreensão da patologia para a doença, envia lembretes de recompra quando tomar medicações e oferece conteúdos pedagógicos.

Segundo o site da empresa, o Hospital do Coração Hcor teve aumento da adesão ao tratamento por parte de pacientes cardiopatas de 40% para 79%, reduzindo as reinternações e aumentando a qualidade de vida. Para planos de saúde, especificamente, a redução de internações de um paciente com uma enfermidade específica é uma forma de reduzir despesas.

Em outro desses exemplos, a startup Wilson Care auxilia empresas e colaboradores a identificarem sintomas que podem gerar atendimento médico. Ao digitar sintomas para o “Wilson”, o colaborador recebe respostas possíveis para seu problema e a empresa consegue mapear, por meio da inteligência artificial oferecida, o grau de risco de desenvolvimento de doenças na equipe e até mesmo receber alertas para suspeitas de Covid-19.  

Como sabemos que grande parte dos convênios de saúde têm origem por planos corporativos, soluções assim podem ser úteis para o empregador para evitar o afastamento do trabalho e para o plano de saúde por reduzir internações dispendiosas – ainda mais em tempos de pandemia.

Atendimento à distância

Mas, além de aplicativos, outro meio de incentivar a melhoria da saúde dos pacientes é por meio de cuidados com a saúde mental. Segundo a Associação Brasileira de Psiquiatria, em 2020 houve aumento de 25% nos atendimentos e de praticamente 83% no agravamento de sintomas.

Nesse sentido, startups de saúde emocional como a Eyhe podem ajudar. A empresa treina pessoas para conduzirem conversas em situações emergenciais de depressão, ansiedade, saúde, entre outros problemas. Por meio de parcerias com planos de saúde, por exemplo, startups do gênero podem oferecer descontos a clientes de determinados convênios. Ou seja, uma verdadeira relação de ganha-ganha e inovação aberta.

E claro que não poderíamos deixar de falar na telemedicina, um dos legados da Covid em nosso país. A prática foi regulamentada pelo governo federal, o que fez com que algumas startups de saúde no Brasil aproveitassem esse novo nicho de mercado. A Dr.Tis Telemedicina é um exemplo, ao oferecer um software para conectar pacientes, médicos e instituições de saúde, ao oferecer em um único local itens como:

Agendamento realizado no próprio software e fila de atendimento virtual por ordem de acesso para necessidades de pronto atendimento e questionário para triagem para classificação de risco:

  • Atendimento por vídeo, áudio e até mesmo chat;
  • Prescrição, atestado e prontuário digital para médicos e paciente de forma online com assinatura digital;
  • Itens como histórico de evolução médica na plataforma (independente de quem realizou o atendimento anterior) e encaminhamento para especialistas da própria plataforma;
  •  Exames e laudos disponibilizados em nuvem para médicos e pacientes.

Que lição podemos tirar desses exemplos?

Em primeiro lugar, podemos ver que alguns pacientes podem pagar valores menores e, assim, melhorar a retenção de clientes de uma operadora de saúde na formatação de preços especiais para crianças, adultos e idosos saudáveis.

Além disso, fica evidente com os exemplos acima que fatores como acompanhamento remoto e personalizado, e atendimento à distância por meio da telemedicina e outros recursos de apoio psicológico podem auxiliar em alguns fatores:

  1. Primeiro na redução de internações, algo que gera alto custo para os planos de saúde;
  2.  Em segundo lugar, na própria limitação de risco de pacientes se dirigirem a hospitais e consultórios em um período de pandemia, onde podem estar mais expostos ao risco de contrair a Covid-19, por exemplo.

Eu não sei quanto a você, mas como consultor de inovação para mim fica evidente que startups para planos de saúde são mais do que uma ideia: elas já são realidade. Mas há muitos outros benefícios que essas parcerias seguindo as rotas de inovação aberta podem gerar, como transformação digital constante, maior cultura da inovação, retenção de clientes e benefícios exclusivos. Você identifica outras vantagens? Deixe um comentário aqui mesmo em nosso blog e aproveite para compartilhar este texto.

Escrito por:

Digital Transformation Leader & Co-Founder de Haze Shift | + posts

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