Quando a pandemia de Covid-19 chegou, o mundo foi pego de surpresa. Por mais que historiadores e gestores de saúde soubessem que, em média, uma pandemia surge a cada cem anos, ficou evidente que o SUS, hospitais, planos de saúde e clínicas não estavam prontos. Nunca foi tão importante pensar na inovação em saúde.

Eu diria que, com toda a corrida científica com base em tecnologia e inovação aberta, a pandemia vai acabar talvez antes do que esperamos. Mas enquanto especialistas alertam para o grande número de pessoas que adiaram tratamentos, o que está sendo feito para dar conta da alta demanda que surgirá nos próximos meses e anos? 

Já passou da hora de pensar no mundo pós-Covid. E se há um lado positivo no caos, é a capacidade de a humanidade se reinventar e inovar. Especificamente na saúde, em pouco mais de um ano de pandemia, houve uma revolução. Precisamos aproveitar os avanços para os próximos anos. 

Por exemplo, a Covid deixará como legado a regulamentação da telemedicina no Brasil. Ademais, a oferta de exames remotos aumentou no mundo, com produtos feitos por startups como a brasileira Hilab. Mas se por um lado os gestores de saúde estão cientes das novidades, teriam eles a consciência de como trazê-las em primeira mão para suas empresas, sejam elas hospitais, planos de saúde ou mesmo clínicas médicas?

Primeiro vamos falar sobre bem-estar

Em todas as áreas corporativas, vemos que consumidores gostam de ser valorizados, e de se sentirem acolhidos pelas empresas. Com pacientes, na área médica, isso também é igualmente importante. Nesse sentido, existem muitas novas iniciativas para a Valorização da Vida e não só dos tratamentos necessários quando já se detecta uma enfermidade.

Não à toa, as instituições de saúde de todos os tipos e segmentos percebem o quanto é necessário focar e centralizar esforços para buscar o conceito de Customer Centric, ou seja, do consumidor no centro dos negócios. E isso é ainda mais importante em um ambiente onde seus pacientes estão sofrendo pelo isolamento e restrições de relações humanas. Confira como o Hospital de Amor de Barretos faz isso: 

Do lado da gestão interna, como essas instituições podem potencializar e melhorar também a forma de trabalho de seus profissionais? Isso é possível trazendo inovações e ações voltadas para a Gestão Central de Pacientes ou visão 360º do que acontece em seu ambiente, sem que seu quadro clínico tenha que despender energia de forma desnecessária em suas rotinas de trabalho. Se você está se perguntando como fazer isso, abaixo eu trago algumas ideias. 

O que os melhores hospitais do mundo têm em comum?

Eu, pessoalmente, posso não ter conhecimento médico, mas sei como as inovações fazem a diferença no mundo dos negócios. E posso garantir que no universo da saúde isso é fundamental, com o grande diferencial de que isso pode salvar vidas. Uma das maiores autoridades da inovação em saúde no Brasil, José Cláudio Terra, escreveu em setembro de 2020 sobre a capacidade de comunicação dos sistemas de saúde (interoperabilidade dos sistemas):

“Comparado ao setor financeiro nacional e mundial, o setor de saúde, apesar de sua importância e relevância, está várias décadas atrasado. E não se trata de obstáculos tecnológicos. Há toda uma gama de alternativas para a rápida transformação para se realizar a transformação por meio da interoperabilidade. Os ganhos, principalmente para os pacientes, podem ser extraordinários.”

Nesse sentido, percebo a grande importância – e ausência – das empresas do setor estarem conectadas à inovação aberta: quantos hospitais, hoje, têm uma área dedicada à inovação no Brasil? Coincidência ou não, os únicos dois hospitais brasileiros na lista dos 100 melhores do mundo possuem Centros de Inovação, segundo pesquisa da revista Newsweek (EUA): o Albert Einstein (36º), em São Paulo, e o Hospital Moinhos de Vento (76º), de Porto Alegre. 

O Innovation Lab do Einstein, por exemplo, promove parcerias estratégicas de inovação aberta com universidades, startups e empresas de tecnologia e saúde, e a organização possui ainda uma incubadora própria de startups. Já o hospital gaúcho possui uma ampla estratégia de atração de startups e ideias externas de inovação.  

Mas não é preciso mover montanhas para criar centros de inovação e programas de inovação aberta que abram as portas para startups e grandes ideias, por exemplo. E é isso que, espero, que os profissionais de saúde entendam. Continue comigo que vamos falar mais disso logo abaixo. 

Transformação tecnológica e inovação em saúde

O Future Today Institute (Instituto do Futuro da Inovação) divulga anualmente as tendências tecnológicas, de diversas áreas. No Report Tech Trends 2021, a área de saúde tem grande destaque. Confira este trecho do relatório que destaca transformação tecnológica e inovação em saúde:

“A Covid-19 acelerou a adoção da telemedicina, que incentivou um novo esforço de transformação digital na área de saúde. Mais diagnósticos estão sendo feitos em casa por meio de dispositivos, incluindo espelhos inteligentes e banheiros inteligentes. O último ano (2020) foi um teve uma reformatação repentina de para o monitoramento remoto de pacientes.”

Revolução diagnóstica da doação de órgãos à doação de dados

Com tantos avanços, hospitais, planos de saúde e clínicas brasileiras precisam, mais do que nunca, abrir os olhos. Centros de inovação e saúde, na minha visão, serão elementos cruciais para manter o negócio em pé. E é por isso que a inovação aberta é tão importante, com parcerias com startups e universidades.

Há profissionais da área que estão na linha de frente dessa revolução. Médica intensivista e diretora de Inovação em Saúde Digital do Oswaldo Cruz, Maria Perroni destaca que a chamada medicina de precisão acaba se tornando medicina de imprecisão porque, em geral, se baseia em estudos científicos que levam em consideração 1% da população mundial. Em geral, pesquisas com homens, brancos e jovens (geralmente com menos de 65 anos).

Agora, se cada ser humano é único, como as respostas desses estudos podem valer para todos? Não valem. E é por isso que o cruzamento de dados é tão importante. Mariana Perroni destaca as condições com que são feitas doações de órgãos. Mas informa que o uso de smartphones e de monitoramento remoto amplia o leque de cruzamento de dados, pela inteligência artificial, de diagnósticos mais precisos para seres humanos de diferentes perfis. Confira a palestra dela e ganhe 14 minutos do seu dia:

Quais tecnologias de inovação em saúde são essas?

No atual contexto global, eu sugiro aos gestores de saúde ficarem de olho em algumas tecnologias e startups das seguintes áreas, apontadas como tendência pelo Future Today Institute para transformação digital inovação em saúde:

  • Menos exames presenciais (Doctorless Exams): Apps de smartphones e outros dispositivos, como smartwacthes, são capazes de medir a pressão arterial e até mesmo realizar eletrocardiogramas, inclusive com aval do FDA (Food and Drug Administrarion), equivalente no Brasil à Anvisa. Esses aparelhos coletam dados e os interpretam. Imagine a quantidade de estudos científicos que podem ser feitos com esses dados – se devidamente autorizados pelos usuários, claro. O ponto falho aqui é o acesso global, que ainda está distante para comunidades mais pobres.
  • Exames laboratoriais em casa: com o avanço da Covid-19, rapidamente laboratórios ampliaram a disponibilidade de coleta de materiais humanos em casa. Aqui mesmo em nosso quintal há ótimos exemplos. A startup Hilab, de Curitiba, oferece exames remotos de Covid-19. Isso mostra a capacidade da rápida transformação digital da medicina levada às residências e oferece uma lista de outros exames para colaboradores de empresas. Além de exames rápidos de coronavírus.
  • Telemedicina: a pandemia foi o motor da expansão desse ramo da saúde. A Startup Dr. Consulta se especializou no ramo e, inclusive, é candidata a ser um unicórnio (valor de mercado acima de US$ 1 bilhão) e oferece atendimentos com preços acessíveis ao público geral. O movimento também é observado em hospitais. O Albert Einstein tinha, até 2019, menos de 20 médicos dedicados à telemedicina. Em 2020, eram mais de 200, segundo esta reportagem. Além de consultas, conforme o atendimento, médicos podem solicitar exames, emitir laudos e fazer monitoramento a distância. Com o parceiro ideal, hospitais e clínicas podem ganhar escala com esse tipo de serviço.  

Robôs que cuidam de seres humanos

Bem como esses serviços revolucionam os diagnósticos, cada vez mais existem robôs apoiados por médicos para aumentar ainda mais a precisão das cirurgias. Nesta reportagem vemos como o “doutor Da Vinci”, um robô com quatro braços, é guiado por um cirurgião. O robô tem câmeras e micro instrumentos que tornam as cirurgias menos invasivas. Há diversos hospitais no Brasil que já têm o recurso disponível.

Se por um lado o Da Vinci é um recurso importado, no Brasil há exemplos nativos. É o caso da robô Laura, criada por um analista de sistemas, que perdeu uma filha devido à uma sepse, também conhecida como infecção generalizada. 

O profissional identificou, mesmo após a morte da filha, que poderia utilizar dados para um robô fundamentado em inteligência artificial que aprendeu a identificar sinais precoce de sepse, a partir da leitura de sintomas em diferentes pacientes. O Hospital Nossa Senhora das Graças, de Curitiba, percebeu a oportunidade e aceitou trazer a proposta de inovação aberta (que traz um profissional externo para a empresa) foi o primeiro a adotar o recurso. 

Atualmente, Robô Laura é uma startup que cresceu e está presente em diversos hospitais e mantém parcerias com operadoras de saúde e secretarias de governo. 

Inovação e saúde: competição baseada em valor  

Por fim, vejo um grande desafio para o setor de saúde após a pandemia: oferecer tratamentos mantendo o custo baixo. E há provas claras de que isso é possível com a inovação na saúde. Em seu livro Repensando a Saúde, Michael Porter – um dos maiores autores do planeta em relação à Administração e Inovação – descreve como a inovação é possível para o setor de saúde a partir da competição pela inovação.

Ele dá como exemplo a área de cirurgia plástica. Médicos e gestores de saúde passaram a oferecer novos procedimentos que derrubaram os custos e atingiram resultados melhores. Confira um trecho do livro:

Os médicos têm que competir convencendo os pacientes do valor dos serviços oferecidos e são totalmente responsabilizados pelos resultados alcançados. Nesse campo, os rápidos avanços têm melhorado a qualidade e, ao mesmo tempo, reduzido os custos. O caso da cirurgia plástica (…) dá uma ideia do progresso que poderia ser alcançado se a natureza da competição na assistência à saúde mudasse.

Pessoalmente, acredito que a observação de Michael Porter é perfeitamente aplicável no cenário de transformação digital da saúde. Mas, para isso, é preciso conectar gestores de saúde, médicos e desenvolvedores tecnológicos.

Nós da Haze Shift podemos ajudar com nossa experiência de estruturar projetos de inovação aberta e transformação digital que conectam diferentes áreas e stakeholders que podem, certamente, fazer a diferença na gestão da inovação em saúde. E se você tem algum exemplo de inovação aberta ou transformação digital em favor da vida e da sociedade que não citei aqui, escreva nos comentários para enriquecer ainda mais essa conversa.

Escrito por:

Digital Transformation Leader & Co-Founder de Haze Shift | + posts

Atuando sempre com mudanças nas organizações através de pensamentos diferentes aplicados à processos com tecnologia e cultura. Buscando auxiliar empresas e organizações sobre os paradigmas da Transformação Digital e como a Inovação Aberta pode mudar a forma de garantir a sustentabilidade dos negócios!