A formação de parques tecnológicos depende de algumas variáveis, como a característica econômica da região e a existência de universidades no entorno. Muitas vezes, falta apenas um empurrão para purea criação. Foi exatamente isso que aconteceu na região Oeste do Paraná, com a criação do Biopark, em 2016.

Sem depender do poder público, o casal de empreendedores Carmen e Luiz Donaduzzi resolveu apertar o botão de start no município de Toledo, um dos polos do agronegócio e da saúde no Estado do Paraná.

Fundadores da maior produtora de doses de medicamentos genéricos do Brasil (Prati-Donaduzzi), eles disponibilizaram aproximadamente 5 milhões de metros quadrados para grandes, pequenas e médias empresas se instalarem. Também criaram cursos de graduação e pós-graduação e cursos para crianças se tornarem cientistas.

Por trás dessa estratégia está Paulo Victor Almeida, diretor de Negócios do Biopark. “Minha carreira não é nada linear, mas sempre fui empreendedor”, afirma o executivo, que tem a inovação e o empreendedorismo no DNA.

“Trabalhei entre 10 e 12 anos com meu pai empresário na área metalmecânica. Fui me aproximando da inovação no desenvolvimento de produtos, para impactar a cadeia. Trouxemos novos serviços e trouxemos as primeiras máquinas de corte a laser aqui da região. Para entender melhor tudo isso, fui para Japão e Canadá”, afirma.

Ele também foi um dos fundadores da Vittude, uma das maiores plataformas de terapia online do Brasil, e que integra o Cubo Itaú, o maior hub de inovação da América Latina. Participou de um período de experiências Google Campus, em São Paulo, e fez aceleração na 15ª turma do [concurso] Startup Farm. “De lá saíram startups como o Easy Taxi, o Max Milhas, entre outras startups”, revela Victor, que também é administrador com especialização em Lean Manufacturing.

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“Agora, como eu cheguei no Biopark? Bom, eu fui indicado para ser secretário de Desenvolvimento Econômico e Inovação do município de Toledo, em 2016. Eu assumi esse posto por um ano e meio. Nesse período, eu pude me aproximar de alguns conselhos, e isso foi bem na época que me aproximei do lançamento executivo do Biopark”, afirma.

Segundo ele, a evolução para a atual função aconteceu naturalmente. “Houve um convite para eu representar o poder público dentro do conselho do Biopark. Eu aceitei ainda como cargo representativo, sem custos, por aprendizado”, diz. Após integrar o grupo Prati-Donaduzzi, como gerente de projetos, e liderar uma equipe de 15 a 20 gestores, ele passou a dividir seu tempo entre a empresa e o Biopark.  “E aqui dentro eu fui galgando trabalhos e tarefas.”, diz.

Paulo Victor Almeida, diretor de Negócios do Biopark de Toledo. Foto: Divulgação Biopark.

A seguir ele explica como funcionam esses projetos, que contam com um grande diferencial: o Parque tem sua sustentabilidade baseada em sua própria territorialidade. Entenda:

Equipe Haze Shift – Vocês estão em uma região muito forte do Agronegócio brasileiro, mas também tem outras empresas fortes. De qual necessidade o Parque Tecnológico surgiu?

Paulo Victor Almeida – Nós temos três grandes focos: a TI, o Agro e a Saúde. Mas vamos contextualizar. Basicamente, dentro da árvore de inovação teórica, um parque tecnológico acaba sendo quase que orgânico à maturidade de uma região. Ele ocupa uma posição de representar e de recepcionar comunidades quanto aos ciclos de inovação. Normalmente começa com coworking, com hub, até chegar a uma migração que colide com pesquisas mais profundas, titulação, negócios e pequenas empresas. E aí você tem um parque surgindo no meio disso. E foi isso que aconteceu aqui.

Bem francamente, isso aconteceu olhando a matriz insumo-produto da região, e o que se tem de expertise. Toledo tem uma diferença de 20% a mais no PIB agro para qualquer outra cidade do Paraná. Seis das dez maiores cidades em PIB agro do estado são da região Oeste, onde estamos. Ou seja, é uma região muito rica, que inclui Cascavel, Toledo e Palotina. Então, seria abusivo não ter um parque com o DNA de agro, que é o que a gente vem tentando formar e atrair.  

Agora, o porquê da Saúde? Esse ramo vem dos nossos fundadores. O Dr. Luiz e Dra. Carmen são cientistas que fundaram a Prati-Donaduzzi sempre com base na pesquisa, e o mercado farmacêutico sobrevive de lançamentos. Você escala o produto, mas sempre precisa lançar novos.

Então, eles têm um know-how muito grande de transformar pesquisas em resultados. Que é, coincidentemente, o papel do Parque: pegar pesquisadores por meio de uma incubadora, pegar empreendedores e colocar todos eles “em um shake”, e fazer com que de lá saiam produtos e serviços. Os mais variados resultados geram crescimento para todos os envolvidos.

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Já sobre TI, podemos ver, por exemplo, que faz tempo que a C.Vale (de Palotina, a 60km de Toledo) não é uma cooperativa de frango. Ela cospe frango, mas ela depende de TI. E a Prati também faz tempo que não faz medicamentos: ela tem sistemas para fazer medicamentos. Então, precisa existir uma base de TI para desenvolver saúde e agronegócio.

É por isso que essas são nossas vertentes e porque estamos batendo nesses focos para o Parque. 

– Nesse ponto existe também a conexão do desenvolvimento de medicamentos e produtos de saúde para a própria cadeia do agronegócio?

Sem dúvida. Por coincidência, recentemente falei sobre isso com um professor da UTFPR (Universidade Tecnológica Federal do Paraná), que tem um curso de bioprogramação. Afinal, quando falamos sobre o Biopark, estamos falando de vidas, e não necessariamente apenas sobre vidas humanas.  Então, o agro, a nutrição, tudo isso impacta vidas. E a pesquisa de medicamentos é um hype, ou seja, ela está lá na frente, porque o nível de exigência é maior do que só a nutritiva.

Consequentemente, você tem profissionais e experiências para passar para esse ramo do agronegócio. Com grata satisfação, eu tenho recebido várias empresas que conseguem olhar muito para nosso ecossistema por causa da indústria farmacêutica como referencial para o desenvolvimento de medicamentos, de injetáveis e de líquidos para toda a indústria veterinária e do agronegócio como um todo.

– Também sobre o Biopark especificamente, ele é autofinanciável a partir de suas próprias receitas? De onde ver os recursos que mantêm a sustentabilidade financeira?

Primeiramente, precisamos entender o contexto. A Prati- Donaduzzi tem alguns sócios: dois membros da família Donaduzzi – o falecido sr. Arno e o dr. Lui – e o sr. Celso Prati. Já o Biopark tem uma família fundadora, do Luiz Donaduzzi e Carmen Donaduzi. então, são instituições diferentes, mas que beberam da mesma água. E a sustentabilidade do Biopark acontece pelo modelo de Real State. Ou seja, a gente sobrevive de rendimentos imobiliários.

Nós temos uma leva de terra da qual a gente traz vida e faz o desenvolvimento de gestão territorial para fazer todos nossos pagamentos de contas. Nós não captamos recursos públicos, mas fazemos o ancoramento e desenvolvimento territorial para atrair pessoas. É por isso que somos considerados um parque de quarta geração: porque congrega negócios, pesquisas, educação – que precisa ser a maior base de todos os parques. Consequentemente, essas pessoas podem trabalhar, morar e ter qualidade de vida aqui dentro. São, aproximadamente, 5 milhões de metros quadrados.

– Vocês também fazem aportes e investimentos em empresas e startups?

Eu costumo dizer que o Biopark é muito rápido, mas ele ainda é muito jovem. Estamos comemorando agora cinco anos de existência. Então, o funding dentro de um ecossistema é algo complexo. É como um marketplace: você precisa educar o lado de quem vai receber e o lado de quem vai ceder.

Por isso, hoje, ainda não estamos trabalhando com isso porque o Parque não quer sobreviver de ações de empresas. Nós queremos fazer o desenvolvimento para que a região seja um referencial disso, consequentemente, inove na vida das pessoas. E é justamente essa a nossa missão.

Nossa missão é reter bons cérebros por meio de boas empresas que estão pagando bons salários. Não seria adequado ficar com grandes margens de empresas, até porque o empreendedor pode, em algum momento, perder a vontade de tocar seu próprio negócio.

– Vocês também têm um programa de residência para empresas e uma incubadora. Qual é a diferença?

Vamos começar pela incubadora. Ela é um modelo mais padrão no mundo. Etimologicamente, ela surgiu para conseguir pesquisadores e dar a eles uma roupagem empreendedora para que eles desenvolvam produtos. Ali, no final das contas, pode sair um produto, ou prova conceito. Se a gente estiver falando de uma incubadora com selo Cerne, ela tem que gerar no mínimo uma prova conceito para ser graduada, validada em mercado.

Então, a incubadora é um produto do Parque para pegar projetos que ainda não são empresas. Recebemos ideias, bem early stage, no começo mesmo. O projeto se inscreve na incubadora porque não tem faturamento, não tem colaboradores, nem uma estrutura, e os gestores também precisam de maturidade.

Para esses casos a gente oferece uma atenção redobrada: ele recebe uma trilha empreendedora para estudar empreendedorismo e vai vender. Porque na nossa incubadora exigimos que o cara saia com a primeira nota fiscal, ou seja, saia com a primeira venda formalizada. Se ele não tem CNPJ, a gente ajuda a abrir. Se ele não tem endereço, cedemos até esse ambiente gratuitamente. Ajudamos nisso para conseguirmos auxiliar a vencer as obstruções para chegar no que importa para a empresa, que é crescimento e faturamento dentro de um ponto ético e legal.

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Já o programa de residências é direcionado a empresas um pouquinho mais maduras. Se eu estivesse falando da vida humana, eu diria que a incubadora seria para um bebê ou uma criança. Para a adolescência e adultos já iria para a residência. Porque ela fica flexível, e a gente trabalha com demandas e necessidades especificas conforme o tamanho de cada um desses seres. Por exemplo, já temos aqui âncoras (indústrias) que têm 100 colaboradores.

Então, diferente de outros ambientes, esse é um diferencial nosso. No nosso território recebemos desde startups a grandes indústrias. Nesse sentido, eu tenho um leque de opções para quem está vindo que é muito interessante. Vai desde o incipiente. Por exemplo, se os alunos da universidade têm ideias, eles participam de um edital de incubação e a gente ensina eles a serem empreendedores. Agora, em outro exemplo, se uma indústria como a Bayer quer ter um novo centro de distribuição, e ele cabe dentro do Parque Tecnológico, eu tenho uma área industrial destinada a isso.

Portanto, o programa de residência é mais abrangente, só que tem algumas exigências, como R$ 20 mil a R$ 25 mil de faturamento, quatro colaboradores, entre outros. E nós cedemos três anos livres de aluguel de salas, desde que eles cresçam em faturamento e/ou o número de colaboradores aqui dentro. Não se pede nada em troca além do crescimento deles.

– Falamos muito sobre incubadoras, aceleradoras. Mas é importante saber qual é a diferença delas quanto aos serviços oferecidos dentro um parque tecnológico como o de vocês? 

A diferença é que não temos o funil de venda da startup. Uma aceleradora olha para quem ela quer investir, porque ela atrai com um foco no qual ela já está pensando no investimento e como vai ganhar dinheiro com o exit, a saída desses caras.

Aqui no Parque eu estou preocupado que eles se desenvolvam e acreditem cada vez mais na força do boleto do que no investimento. Porque todo investimento traz junto um sócio, e nem todo mundo está maduro para isso.

Nós auxiliamos com mentorias e ações para fazer o empreendedor saltar de nível. Mas a velocidade é imposta pelo empreendedor. Auxiliamos para que ele cresça. É diferente de falar em prazos de aceleração que a pessoa tem que entregar, e enquanto não entregar, não dorme.

Então, um programa de aceleração tem início, meio e fim. Já no programa de residência nós auxiliamos com mentorias e planos de ações para fazer o empreendedor saltar de níveis. Mas a velocidade é imposta pelo empreendedor. Nós estamos juntos auxiliando para que ele cresça. É diferente de falar em prazos de aceleração que a pessoa tem que entregar, e enquanto não entregar, não dorme.

Já a incubação tem outro tempo, mais longa, porque estamos falando de um ser mais imaturo. Mas a residência é um produto nosso, que não existe em outros lugares. O Biopark criou essa solução porque ela é uma necessidade do cliente. Por sermos um parque privado, focado em resultados, não podemos sentar e aguardar as coisas acontecerem. É por isso que precisamos o que é mais atrativo para o cliente, e chegamos nesse modelo.

– Então, digamos, que vocês chegaram a um modelo diferenciado…

É muito interessante. Vejamos, por exemplo, o NUMA em Paris, que foi a primeira aceleradora e incubadora do mundo. Eu tive a oportunidade de visita-los e, hoje, eles não têm mais aceleradora nem incubadora. Porque eles aprenderam com o tempo – e podemos dizer que eles estão na vanguarda disso – que o mais importante é desenvolver resiliência empreendedora. Eles trabalham com mentorias, com assessorias e coachs para que empreendedor saia com um mindset diferente. Depois ele pode, se quiser, fazer uma aceleração e incubação. Mas o grande segredo está na cabeça de cada empreendedor.

Nossa missão é reter bons cérebros por meio de boas empresas que estão pagando bons salários. Não seria adequado ficar com grandes margens de empresas, até porque o empreendedor pode, em algum momento, perder a vontade de tocar seu próprio negócio.

– E como é a relação de apoio de vocês à inovação aberta especificamente na conexão dessas empresas ou startups com outras organizações?

Evento e diagnóstico. Uma coisa que sempre gera negócio, apertar a mão e tomar café.

Nós temos uma rotina de eventos, mesmo que online. Nós temos produtos que geram isso. Um deles, por exemplo, é o BPK To Be: um programa que vai ao ar e fica disponível no YouTube para nossas empresas residentes, e que sempre tem convidados. Existe também o circuito BPK, em que colocamos os residentes para falarem com eles mesmos, e eles desenvolvem outros negócios juntos.

Nós também criamos circuitos específicos, por exemplo, o Circuito Agro, em que eu posso falar, por exemplo, com a C.Vale e o Alfredo Lang (presidente da C.Vale) me atende e fala que a cooperativa está precisando de soluções do agro para suínos. Eles vêm até aqui, apresentam essas demandas e fazem essas conexões.

Portanto, quando digo eventos e diagnósticos, isso significa observar qual é o foco de uma demanda, e olhar para dentro: ver quais empresas podem solucionar e convidar a comunidade para participar. Porque o Parque, diferente de outros ambientes que são incubadoras ou aceleradoras, depende da comunidade para fazer com que tudo gire.

– Imagino que a pandemia tenha afetado bastante a realização desses eventos e participação de empresas no programa de residência, não? 

As grandes palavras para isso foram adaptação e resiliência. Ao mesmo tempo em que não deixamos de cumprir todas as métricas, tivemos que nos reinventar. Por ser um parque privado, nós não temos tempo de luto. Consequentemente, a gente olha para o problema e pensamos no que podemos fazer para solucionar.

No meio disso tudo vieram inúmeros, talvez centenas de eventos online, e nós aproveitamos esse momento para participar de todas as feiras e eventos que estavam perdendo patrocinadores. Entramos firmes com patrocínios online. E isso nos posiciona porque a pandemia vai passar e a gente está criando marca e renome para ter um grau de branding reconhecido.

Consequentemente, também avançamos na atração de empresas internacionais porque elas têm uma necessidade de tempo maior. Então, essa distância de tempo é combatida à distância, de forma online. Mesmo sem pandemia, eu teria que fazer os contatos online.

Além disso, dobramos a equipe de prospecção de empresas. Hoje temos oito pessoas prospectando CNPJs, e temos mais de 20 mil empresas cadastradas para batermos rotineiramente na porta.

Nos últimos dias também tivemos um happy hour com todas medidas possíveis e cabíveis de saúde para fazer uma integração com uruguaios, chilenos e brasileiros. São pessoas que estão de moradia em Toledo e no Biopark, o que mostra que é um movimento econômico que não fica preso no parque.

Aliás, esse é um grande diferencial:  a economia que é gerada dentro do Parque não é para ele, é para o entorno. Mas aqui mesmo no Biopark, em relação aos investidores que compraram os primeiros terrenos, já estão saindo 14 prédios, e desses edifícios já são mais de 790 apartamentos locados esperando os prédios ficarem prontos.

Ou seja, a pandemia reduziu o salto para entendermos o cliente. Porque nossa sustentabilidade vem da venda [imobiliária] e não temos outra forma de captação.

– De todos os projetos que vocês fazem no Biopark, quais seriam os cases de maior destaque?  

Como somos um Parque, temos casos tanto de empresas quanto de outro vertical: a Educação, que é nossa menina dos olhos. Então eu sempre falo que trazer empresas é legal, mas ver uma criança se tornar cientista é mais legal ainda. E o parque tem esse propósito.

Nós somos membros da Associação Internacional de Parques Tecnológicos, a IASP, que tem sede em Barcelona. Eles têm premiações por boas práticas, e se reúnem em convenções anuais em todo o mundo. Veja que, no Brasil, são de 100 a 130 parques tecnológicos, e nós inscrevemos um projeto a nível mundial, e ficamos em segundo lugar na iniciativa infantil, por conta de um clube de ciência para crianças de 7 a 15 anos com contraturno. Isso foi algo que saiu literalmente do zero.

Nesse projeto, esses dias as crianças estavam montando uma rampa transportadora. Na outra semana estavam extraindo DNA de morango. Esse é um case que nos dá muito orgulho porque estamos impactando a cidade, a nossa região e estamos inspirando mentes e corações para as crianças se tornarem cientista. E, consequentemente, o papel do Parque também é rete-los, já que isso gera um ótimo problema, porque isso gera um outro nível intelectual.

Para mim, esse é um grande exemplo. Também da parte de Educação temos muitas coisas apaixonantes. Temos, por exemplo, um programa para formação de programadores, que é um déficit do Brasil e do mundo, e estamos dando R$ 1 mil para os primeiros colocados estudarem. Tudo sem fundo perdido de captação de poder público porque o Biopark nasceu com o propósito de deixar um legado.

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O que o dr. Luiz e a família Donaduzzi querem fazer é com que as pessoas mudem o patamar econômico e social da vida delas, e estão utilizando o Parque como ferramenta. Ou seja, não tem uma segunda fachada. Outro exemplo: a gente tem curso de farmácia a R$ 250 para colaboradores que é nota 5 no MEC (Ministério da Educação). Então, o que a gente faz é desenvolvimento, reaplicação em infraestrutura e gestão.

Agora, na área de empresas, temos um exemplo que podemos falar que é de uma que se chama Flexvet. Era uma empresa pequena que estava em Umuarama. O empreendedor trocou a incubação municipal para vir ao parque privado desenvolver seus produtos. E ele tem um dos produtos mais fantásticos que eu já vi: um mini consultório odontológico-veterinário para atender animais em fazendas.

Como é muito difícil locomover um cavalo, uma vaca ou até mesmo uma onça – dependendo dos parques ecológicos que existem –, ele criou um consultório de roda que pesa 16 quilos. E hoje esse empreendedor está com um novo produto para humanos acamados.

Ele vai fazer a doação do primeiro produto liberado pela Anvisa para Secretaria Municipal de Saúde de Toledo, para que seja possível atender pessoas idosas ou acamadas com esse consultório odontológico transportável.

Até me desculpe a euforia, mas para mim isso é colocar a inovação de verdade. Porque você sai de um produto que nunca se imaginava, de uso veterinário, e que agora pode atender uma população humana. E esse empreendedor se mudou para cá com a família.

É apaixonante escutar essa história porque ele colocou o coração e vida dele a risco. E isso é o real empreendedor. E o que a gente está fazendo é blindar, amparar e alavancar esse negócio dentro do Parque.

– Projetos assim mostram realmente a conexão da Saúde com o Agronegócio

Sim, e outra coisa que chama a atenção das pessoas são pesquisas que transformaram em produtos. Aqui nós somos o que eu costumo chamar de um Biopark palpável, e isso é muito difícil de acontecer. Um exemplo disso é nosso projeto de queijos finos.

Hoje estamos desenvolvendo mais de 15 cepas de queijos que surgiram de uma necessidade da comunidade. Temos na região uma bacia leiteira muito boa. Por isso, nós gratuitamente ajudamos pequenos produtores vizinhos que se associam a nós, fazendo com que eles melhorem a qualidade da propriedade, do pasto, dos animais e ensinamos eles a como fazer marketing e a produzir queijos de primeira qualidade.

A partir desse projeto, surgiu a Flor da Terra, que é uma empresa que vende esses queijos. Essa queijaria representa todos os queijeiros associados. Já temos queijos Brie, Carmenber, Saint Paulin, Gouda, e estamos lançando Cheddar e Duplo Creme. São mais de sete tipos de queijo em desenvolvimento. E isso tudo já é real. E queremos que isso aconteça.

Para mim, esse projeto é o testa de ferro de como a pesquisa pode ser aplicada. Nós pegamos o pequeno produtor lá na ponta, e ele está saltando de vendas de R$ 20 a R$ 30 por quilo para uma venda de R$ 100 por quilo do queijo Brie. Ou seja, pinga dinheiro no bolso do colono, e ele consegue sustentar a propriedade. E esse é o papel do Parque Tecnológico. Esse projeto nos representa bem porque integra Educação, desenvolvimento de negócios e entrega a pesquisa aplicada. 

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– Para finalizar, como vê o Biopark entre cinco a dez anos? 

Em cinco anos, em território, teremos pelo menos 5 mil a 10 mil pessoas ocupando e vivendo dentro do território do Parque Tecnológico, consequentemente, com hospitais, mais cursos universitários e mais laboratórios de pesquisas.

Em âmbito de negócios, de atração de empresas, com certeza vamos buscar pelo menos 300 CNPJs residentes com mais de 10 colaboradores, auxiliando eles a crescerem aqui dentro. Hoje são cerca de 140. Destes, 27 são internacionais e devemos ter mais dois nas próximas semanas.  

Então, em um prazo de cinco anos, teremos a consolidação territorial, e em dez anos eu vejo que seremos um referencial quanto ao ambiente. É isso que nós estamos buscando e trabalhando.

Todos os dias nós estamos quebrando obstruções e fazendo modelos diferentes, novos, às vezes até malucos ou na contramão do que a cartilha diz que tem que ser feita, mas sempre para atender os clientes. E o que recebemos de satisfação e feedback das pessoas, é que eles permanecem, reinvestem e acreditam. É muito clara a sensação de que tudo está vivo e acontecendo.

O que a gente mais busca, dentro desse período, é que as pessoas entendam e saibam o momento de elas virem participar do Biopark. Porque com certeza ele vai se consolidar como parque extremamente inovador, e disruptivo em seu business. Mas sabemos que o desafio é gigante. Não é narrativa: temos que nos preocupar muito no dia a dia com as pessoas e com os resultados que estão se colocando.

E em 30 anos acredito que passaremos a ser um polo regional, e talvez nacional, de atratividade ao Health, ao Bio, com vitrines de agro e tecnologias sendo desenvolvidas, e talvez um dos grandes produtores de mão de obra para TI também. Essas são as grandes visões que temos hoje.

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