Você já deve ter lido por aí que o conceito de inovação aberta surgiu em 2003 com Henry Chesbrough. Mas sinto lhe dizer que não foi bem assim. Precisamos voltar ainda mais no tempo para entender o que é inovação aberta: exemplos existem desde quando empresas ou governos buscam inovar em parceria com universidades.

O Vale do Silício é um bom modelo para comprovar isso. Surgiu durante a Segunda Guerra Mundial quando o governo norte-americano criou um laboratório secreto em Harvard para superar tecnologicamente os radares alemães. Mais tarde, na Guerra Fria, foi possível continuar convencendo o governo que era necessário manter no país um centro de tecnologia de ponta. Neste caso, já temos um formato de inovação aberta.

A popularização da inovação aberta: conceito de Henry Chesbrough

Este artigo intitulado A Era da Inovação Aberta (Henry Chesbrough), publicado na MIT Sloan Management Review em 2003, popularizou e formalizou o termo que explica o que é inovação aberta: conceito que perdura até hoje.

Conheça os 4 grandes formatos de inovação aberta

Basicamente, inovação aberta significa: incluir novos agentes em sua cadeia de inovação, sejam universidades, parceiros, os próprios clientes, enfim, quem mais você conseguir atrair para este processo. O lema desse modelo é que o conhecimento está em toda a sociedade, não apenas dentro da própria organização.

Chesbrough comparou o conceito de inovação aberta com um funil cheio de furos, em que as ideias têm um fluxo aberto para entrada e saída, tanto no processo de pesquisa quanto no desenvolvimento.

Alguns princípios da inovação aberta são:

  • Nem todas as pessoas inteligentes trabalham para nós, portanto, devemos encontrar e aproveitar o conhecimento e a experiência de pessoas brilhantes que estão fora da empresa.
  • Pesquisa e desenvolvimento externos podem criar um valor significante para minha empresa.
  • Não é necessário originar uma pesquisa para lucrar com ela.
  • Construir um bom modelo de negócios é melhor do que chegar primeiro ao mercado.
  • Se fizer o melhor uso das ideias internas e externas, maiores serão suas chances de sucesso.
  • Devemos lucrar com o uso de nossa propriedade intelectual por terceiros e devemos comprar a propriedade intelectual de terceiros sempre que isso promover nosso próprio modelo de negócios.

Atualmente até mesmo grandes empresas já perceberam que a inovação aberta traz resultados mais rápidos e efetivos. Nós da Haze Shift já participamos de vários desses processos de inovação aberta, veja estes exemplos com a Renault e a Nissan.

4 grandes formatos de inovação aberta

A forma mais simples de adotar a inovação aberta é ter uma organização porosa, estar aberto a oportunidades que surgem no mercado e que ele traz para você. Existem 33 rotas conhecidas para se fazer inovação aberta, e que iremos apresentar em outro artigo de forma mais detalhada. Nesse momento, vamos focar nos quatro maiores formatos.

Inovação aberta com parceiros

Neste caso, se busca a inovação com parceiros para fins comerciais. Esta colaboração pode acontecer de forma cooperativa, por exemplo, com o co-branding: quando uma empresa oferece um produto ou serviço em parceria com outra empresa que tenha o mesmo cliente. Em 2014, Uber e Spotify fizeram uma parceria em que o usuário que viajava com a Uber poderia escolher a trilha sonora do próprio passeio colocando no som do carro sua própria trilha do Spotify. 

Há também a possibilidade de cooperação técnica entre empresas, co-licenciamento, co-marketing e etc. 

Inovação aberta com consumidores

Você já sabe que ouvir o cliente é uma premissa básica para ter sucesso no negócio. Descobrir a necessidade do cliente (mesmo quando ele não a verbaliza) pode ser a chave para encontrar um meio de inovar. 

Aqui vou aproveitar para falar algo que gosto bastante que é a utilização do design thinking. Uma construtora do mercado imobiliário ouviu de alguns proprietários que, no dia a dia, eles saíam mais vezes pela garagem do que pela entrada do prédio, sendo que o maior investimento era aplicado no hall de entrada. Depois dessa percepção, a construção dos novos prédios tornou o estacionamento um ambiente mais claro, decorado e convidativo. 

É possível ter estas percepções quando se cria uma aproximação com seus consumidores, fazendo com que eles se sintam conectados com sua marca. 

Sistemas com atores de inovação

Sua empresa pode buscar apoio em ecossistemas de inovação, atuar de forma colaborativa com empresas e empreendedores que têm objetivos em comum. Muitos desses ecossistemas atuam com investimento público e privado.  

Caso você esteja buscando parceiro para inovação tecnológica pode procurar Arranjos Produtivos Locais (APLs), que são um conjunto de empresas de tecnologia e inovação de uma mesma região com vínculos de articulação, interação, cooperação e aprendizagem entre si. As APLs contam com apoio da iniciativa pública, sendo coordenadas pelo Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços.

Ambientes e sistemas com consumidores

Uma parte importante da inovação aberta é estar em contato com diferentes pessoas, empresas e iniciativas. 

Nos últimos anos o que contribuiu para isso foi a popularização dos coworkings no Brasil, assim empreendedores de diferentes setores compartilham a mesma estrutura física e tem um ambiente favorável para troca de ideias, novos contatos e negócios. 

Algumas vezes apenas estar nestes ambientes não é o suficiente para que a inovação de fato aconteça. Na fase inicial um dos principais desafios que encontramos para implantar o processo de inovação em uma empresa pode ser a falta de recursos. 

Mas não desanime, se você já tem o projeto bem definido é possível conseguir investidores por meio de um crowdfunding, ou seja, um financiamento coletivo. A plataforma Catarse é um dos meios que conecta investidores e projetos de todos os tipos que buscam tornar boas ideias em realidade.

Para você que chegou até aqui deve ter percebido que os caminhos para começar a fazer inovação aberta são muitos. Qual desses você acredita que podem dar certo em sua empresa? 

Um exemplo Haze Shift

Em 2018 fomos convidados para ajudar uma área da BRF chamada BRFi a revisar seu projetos dentro do funil de inovação. Essa área já é bastante voltada à pesquisa e desenvolvimento, e naturalmente já conta com parcerias com universidades e centros de pesquisa, então, o conceito de inovação aberta não era algo novo para a equipe.

Se por um lado, a área já demonstrava competência para atuar junto com outros pesquisadores externos, o mesmo não poderia ser dito sobre a conexão com outros atores do ecossistema de inovação e principalmente, com os clientes.

E foi nesse viés que atuamos, onde conseguimos juntos com a equipe construir uma ação que trouxe o cliente para dentro de casa, num processo envolvendo design colaborativo, team building, desenvolvimento de lideranças para inovação, empoderamento de novos líderes e recriação do antigo sistema usado na gestão do funil para um novo, com novas ferramentas. O que resultou dos vários encontros, começando com as dores do clientes e seus insights serviu para criar toda uma nova série de oportunidades de produtos e serviços que posteriormente foram colocados no funil para evolução da pesquisa e eventual desenvolvimento.

O que pode ser mais estimulante e centrado no cliente do que ter esse mesmo cliente ajudando na criação de produtos e serviços que irão gerar um alto valor para o seu negócio? Um tipo de colaboração não tão comum, mas certamente, um dos mais importantes para o ambiente complexo e incerto em vivemos.

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Consultor em inovação aberta, especialista em design estratégico, com experiências em desenvolver programas e ações criativas para grandes empresas.