Certa vez ouvi de um professor uma frase que nunca esqueci: as empresas têm que parar de achar as pessoas das universidades teóricas demais e os acadêmicos pararem de achar que não existem pessoas inteligentes nas empresas. Nós temos que evitar esta visão distorcida que é muito antiga, vem lá do século 18. Mesmo no Iluminismo qualquer tentativa de encontrar aplicações comerciais para o conhecimento científico era considerada uma traição à disciplina. Era ciência pela ciência. Mas agora universidade e indústria precisam andar juntas.

Veja que interessante, a aproximação da pesquisa e aplicação prática aconteceu pela primeira vez no século 19 nos Estados Unidos. O presidente Abraham Lincoln sancionou uma lei que possibilitou a fundação de novas instituições acadêmicas com práticas de agricultura e ‘artes mecânicas’. Com o tempo, isso estabeleceu uma conexão entre a universidade, produtores e empresas locais, com todo conhecimento centralizado no Departamento de Agricultura do país para que outros estados também tivessem acesso. Esta foi a primeira vez que a pesquisa acadêmica foi direcionada de acordo com as necessidades da comunidade. E olha a inovação aberta já ocorrendo aí, sem rótulos, sem buzz words, mas acontecendo na prática.

E essas interações entre universidade-indústria-governo formam até hoje um modelo chamado tríplice hélice de inovação e empreendedorismo. Essas são a chave para o crescimento econômico e o desenvolvimento social baseados no conhecimento.

O exemplo da HP: universidade e indústria na prática

Pense comigo, quando esta relação se torna constante, traz resultados duradouros. Gosto de citar o exemplo da HP que começou na década de 1930 com dois estudantes que criaram um aparelho oscilador de áudio para testagem de som, que foi inclusive utilizado pela Disney. Por 30 anos a HP criou equipamentos para nichos empresariais, como radares e componentes de armas. 

Depois vieram as impressoras, notebooks e outras inovações que a tornaram uma referência em tecnologia.  Muito dessa história da HP tem relação com a história de Stanford e o Vale do Silício, onde a empresa se fixou dentro do Stanford Research Park na década de 50 e está lá até hoje desenvolvendo e inovando em parceria com uma das maiores universidades do mundo.

E hoje, como estamos?

Durante a pandemia a relação entre universidade e sociedade se intensificou ainda mais e foi fundamental para que houvesse soluções rápidas e úteis em meio à crise. Por exemplo, estudantes passaram a produzir dentro das próprias universidades álcool em gel que abasteceu hospitais. Outros encontraram alternativas criando ventiladores pulmonares, e softwares para uso de câmera térmica para auxiliar na medição de temperatura corporal.

As universidades são uma fonte importante de inovação, abrir as portas de sua empresa pode ser enriquecedor para encontrar soluções ao seu negócio. Aqui na Haze Shift nós fazemos esta conexão entre universidades e empresas para fomentar a inovação de diferentes formas, levando em consideração a necessidade e objetivos de cada empresa. 

Por exemplo, realizamos com o Renault Experience um programa de inovação e empreendedorismo por meio do modelo de startups coordenado pelo Instituto Renault, criado especialmente para universitários. 

Os resultados são sempre surpreendentes e vou citar para vocês alguns que observo nestas experiências:

  • Profissionais das empresas se tornam mais qualificados e motivados com a oportunidade de desenvolver estes novos projetos.
  • Universitários conseguem aliar teoria e prática, muitas vezes pela primeira vez conhecendo a rotina de uma corporação.
  • Facilita à empresa a busca de novos talentos e ao estudante é uma vitrine para o mercado.
  • Posiciona a empresa e a universidade como organizações que acreditam e investem em inovação e colaboração, o que as tornam mais interessantes e desejáveis para a nova geração de profissionais que estão entrando no mercado.
  • Reduz custos para a busca de soluções criativas e inovadoras, ao passo que coloca nas mãos de estudantes e pesquisadores acesso a dados e informações valiosas para várias pesquisas.

Estimula um modelo mental mais rico de compartilhamento, troca e respeito mútuo entre atores de enorme peso na sociedade.

Universidade e indústria: relações com pequenas empresas

Vem comigo conhecer mais um exemplo da relação da tríplice hélice que está acontecendo no Paraná e que envolve empresas menores. O projeto de Economia Solidária e Turismo da Universidade Federal do Paraná e do Ministério do Turismo tem realizado ações desde 2013 em Guaraqueçaba, onde fica localizado o Parque Nacional do Superagui. O município está inserido no meio da mata atlântica com uma população predominantemente indígena, quilombola e caiçara que enfrenta dificuldades para desenvolvimento econômico e social, mostrando relações entre universidade e indústria de turismo.

Os relatórios técnicos do projeto indicaram que o turismo de base comunitária é a alternativa mais indicada para a região. Então foi criada uma cooperativa com artesãos locais, com orientações para fortalecimento de autogestão e estratégias de comercialização que tem beneficiado as aldeias indígenas. 

O projeto da UFPR também fomentou o diálogo entre os gestores do Parque Nacional do Superagui e a comunidade local para que juntos buscassem soluções para os problemas sociais e ambientais da região.

Dessa forma, você pode notar que essa relação pode ser benéfica para grandes empresas ou mesmo para as pequenas, inclusive boa para o poder público. Mas estamos falando de relacionamento, indo além de uma ação pontual, e que seja colaborativa e benéfica para todas as partes inovarem e crescerem.

Sua empresa já teve alguma aproximação com as universidades? Nós da Haze Shift estamos abertos a compartilhar nossa expertise em aproximação com universidades para construir essa relação orientada à inovação e que certamente irá gerar muito valor aos seus negócios.

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Consultor em inovação aberta, especialista em design estratégico, com experiências em desenvolver programas e ações criativas para grandes empresas.