Quero que você comece e termine esse texto ciente de que a grama do vizinho não é sempre mais verde. Longe disso. Especialmente quando falamos sobre startups universitárias. Claro que referências globais são fundamentais. Mas quero dizer aqui que não precisamos ir tão longe. Antes de mais nada, cito exemplos de startups nascentes de universidades, pense 99 e NuBank – o maior banco digital do mundo.

Essas duas startups surgiram na USP – Universidade de São Paulo. Posteriormente comprado por investidores chineses, o aplicativo de transportes 99 tem como mentores 3 estudantes da universidade. Já o NuBank foi criado por Cristina Junqueira, também egressa de lá.

Quando nós da Haze Shift visitamos a USP, em 2019, eles falavam com tanto orgulho que isso me contagiou. À época, o Brasil contava com seis unicórnios (startups que vale US$ 1 bilhão) – em 2020 já são 15, segundo levantamento da AceStartups. Desses, pelo menos unicórnios quatro têm DNA da universidade paulista.

Assim como outras universidades brasileiras, startups da USP têm um ótimo ambiente de inovação para gerar startups universitárias. Porém, não é justo falarmos apenas de São Paulo. Startups com DNA universitário no Brasil temos “a rodo”. Como assim?

Bom, um elemento fundamental para isso é o Open Innovation — ou Inovação Aberta, em português. De antemão, já adianto: muitas universidades no Brasil usam dessa estratégia de inovação para se conectar com as grandes empresas. Quer exemplos?

Startups universitárias no Renault Experience

Desde 2016 no Brasil, o programa de inovação Renault Experience busca soluções de mobilidade. O programa tem três fases para selecionar projetos de startups universitárias: ideathon, pré-aceleração e aceleração. As duas primeiras foram realizadas em ambiente on-line e depois uma fase presencial com os finalistas que vivenciam de forma imersiva a Renault e o mercado. 

Nós da Haze Shift somos a consultoria de metodologia e operação do programa aqui no Brasil, sendo uma das nossas histórias de sucesso. Até agora, quase 5 mil estudantes de 25 estados do país já participaram. Ali ao todo 100 startups foram criadas juntando as edições de 2016, 2017 e 2018. 

As 100 startups contaram com 423 empreendedores universitários de 52 instituições de ensino. Só na UTFPR (Universidade Tecnológica do Paraná) o programa gerou 29 startups, na PUC-PR foram 9 e a FEEVALE com 6. Quais as potencialidades de transformação que vem a partir disso? 

Vejamos o exemplo da FEEVALE, que nos dois últimos anos trouxe os times campeões. Em 2019, a equipe brasileira foi para Paris, sede da Renault, representar o Brasil na final do Twizy Contest, iniciativa global da Renault para startups universitárias apresentarem soluções de eletromobilidade. Eles concorreram com estudantes da França, Rússia, Turquia, Romênia e Coreia do Sul. Adivinha quem venceu? Sim! Confira:

A equipe brasileira desenvolveu uma proposta de assento para pessoas com deficiência rapidamente comandarem o veículo, sem enroscos. Um dos integrantes da equipe já mostrava veia empreendedora antes, chegou a aparecer no Caldeirão do Huck no quadro Jovens Inventores, e recebeu uma mensagem do próprio Luciano Huck. A história você confere neste post no Facebook. O projeto rendeu a criação da startup OrnyTwizy, de mobilidade urbana universal.

Conheça essa história de sucesso

Vou também citar outro exemplo que vai além dos projetos do programa Renault Experience. A transformação entra na veia do comportamento empreendedor nos estudantes. Conheça a história da Ticiana Santana, egressa do programa e atualmente embaixadora. Ela foi participante da edição 2017 e em setembro de 2020 teve um projeto aprovado para ser incubado no Nursing Innovation Hub de Chicago.  

Quem mais investe em startups universitárias

A Renault e outras grandes empresas apostam em novas ideias e as filtram com extrema qualidade. Mas vou dizer quem são os maiores investidores de startups universitárias: as próprias instituições de ensino. 

Onde mais alunos teriam livre acesso a laboratórios e mentoria com professores e profissionais qualificados? E não precisam ser apenas alunos de graduação. Podem ser tecnólogos, pós-graduandos em cursos de especialização, mestrandos, doutorandos, projetos de pós-doutorado.

Quando o aluno está dentro da universidade, ele tem acesso mais fácil a recursos do que empreendedores fora do ambiente universitário. Além disso, a chance de sucesso é maior. E aqui peço licença para voltar a falar das startups da USP. 

Por lá, eles têm um coworking para projetos que [ainda] não faturaram. Nesse sentido, assim que as startups da USP passam a ter algum faturamento, elas deixam o coworking e passam a frequentar outras estruturas, como o CIETEC, dentro da própria universidade, gerando economia e sustentação do ambiente como um tudo. 

Leia também: 33 formas de inovação aberta: rotas para transformar seu negócio

Em Curitiba, a FAE Business School também virou um centro de referência. Ela criou um Hub de Inovação Aberta em parceria com o Distrito.Network, ao destinar um andar de coworking para empresas e profissionais. Como contrapartida, é promovido todo um ecossistema para ideias e projetos de alunos que resultam em novas empresas. E esse é um dos lugares onde a Haze Shift está presente.

Programas regionais e nacionais

Para quem ainda não está convencido de que é melhor começar logo na universidade a criar esse modelo de negócios, gostaria de citar outros exemplos de possibilidades de apoio e investimentos em startups universitárias:

  • Sebrae Garage: No Paraná, o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas fez parcerias com mais de 10 universidades para qualificar projetos de graduação e pós-gradução com eventos e mentoria de profissionais do mercado. Nós da Haze Shift fizemos parte de uma dessas experiencias – foi gratificante.
  • Conecta Startup Brasil: O Ministério da Ciência e Tecnologia, o CNPq, a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial e o Softex selecionam startups para receberem investimentos em projetos. Saiba mais.
  • Conecta CNT: A Confederação Nacional de Transportes dispõe de um programa de impulso a startups com soluções para transporte e logística. Neste caso, os concorrentes já devem ter iniciado alguma operação. Veja o site.  

Inova-san 2020: um case de incentivo às startups universitárias

Entre setembro de 2020 e janeiro de 2021, estudantes do sul fluminense puderam colocar em prática suas ideias. Nós da Haze Shift fomos parceiros do Instituto Nissan e da comunidade de inovação Rio Sul Valley na segunda edição do programa de inovação aberta para startups universitárias Inova-san.

Com a participação de estudantes matriculados em instituições de ensino superior do Sul do Rio de Janeiro (graduação, tecnólogo, pós graduação, mestrado ou doutorado), o Inova-san 2020 viu a criação de 21 startups na região. O programa premiou três projetos de três diferentes temas a serem desenvolvidos por startups universitárias:

  • Inovação de saúde: ações inovadoras que auxiliem a população da região sul fluminense ou no enfrentamento à pandemia ou que melhorem as condições de saúde ou sanitárias. Equipe vencedora: Lótus, com o desenvolvimento de um aplicativo para denúncias de violência contra a mulher disfarçado de app de monitoramento menstrual;
  • Meio Ambiente: iniciativas de impacto ambiental para preservar recursos e reduzir danos ambientais na região sul fluminense. Equipe vencedora: Aang Company , com projeto de produção de energia eólica em rodovias, aproveitando o vento gerado pelos veículos;
  • Mobilidade inteligente: soluções de inovação urbana inteligente para implementação na região sul fluminense. Equipe vencedora: Safe Speed System, com a criação de um dispositivo que limita automaticamente a velocidade de veículos conforme a velocidade máxima de cada trecho viário.  

Nós da Haze Shift traçamos a metodologia desse programa, que tem quatro fases. Quer saber quais são elas? Clique aqui.

Um conselho e um convite

Por fim, se você for um estudante curioso ou com vontade de empreender vou dar uma última dica. Aproveite programas como os que citamos acima. São oportunidades de ouro para se conectar a mentores no mercado e, quem sabe, conquistar pessoas que apostem em você. Ademais, não pense que o mercado leva em conta apenas currículos e estágios. A busca é por soluções, por projetos que façam a diferença.

Ficou com alguma dúvida? Eu adoraria que você fizesse uma pergunta nos comentários dessa postagem, assim, podemos começar novas conexões aqui mesmo em nosso blog. 

Escrito por:

Digital Transformation Leader & Co-Founder de Haze Shift | + posts

Certified facilitator of LEGO® SERIOUS PLAY® & Digital Transformation Enabler with a demonstrated history of working in the information technology and food & beverages industry.