Se você costuma acompanhar os movimentos de inovação pelo mundo, talvez concorde comigo que a inovação é considerada um dos principais fatores que influenciam o sucesso a longo prazo das empresas nos mercados competitivos de hoje. Por isso, precisamos pensar sempre em como promover a inovação em longo prazo. 

Isso se torna ainda mais importante quando falamos sobre o advento da transformação digital nas empresas, negócios e na cultura da sociedade.

Dessa forma, há um crescente interesse na compreensão e domínio dos fatores determinantes da inovação. Hoje, o foco está em fatores relacionados às pessoas e ao comportamento, enfatizando o papel da cultura organizacional, como um fator que tanto pode estimular quanto inibir a cultura de inovação.

Como consultor de inovação, eu gosto particularmente da seguinte definição que relaciona a estratégia e cultura de inovação de longo prazo: 

Eu sempre digo ao falar para empresas sobre inovação que, para inovar, toda empresa precisa de uma boa estratégia, e a melhor estratégia é implantar a cultura de inovação. 

Essa sentença aponta para uma solução ao invés de apenas apontar o problema.

Mas, afinal, o que é cultura de inovação? 

A cultura da inovação é mais bem definida como o ambiente de trabalho em que os líderes cultivam e incentivam o pensamento não-ortodoxo e sua aplicação. Os locais de trabalho que promovem uma cultura de inovação geralmente endossam a crença de que a inovação não é criada apenas pela alta liderança, mas pode vir de qualquer pessoa na organização.

Mais especificamente, a cultura de inovação é baseada em atitudes e respostas ad hoc a ideias e projetos, avaliando índices preditores de inovação e desempenho. Isso nada mais é que implantação de metodologias ágeis de criação, experimentação e implantação de ideias e projetos. 

Criando uma cultura de inovação de longo prazo

Nesse momento, saímos do discurso teórico e entramos no processo prático. Continue comigo, aposto que vai gostar do que vai descobrir a seguir sobre cultura e inovação de longo prazo.

Se por um lado é inegociável que a vontade, a inspiração e os esforços para implementar e manter em operação uma cultura de inovação começa pela liderança, isso implica ter duas competências: 

  1. Uma é a visão de longo prazo; 
  2. Outra é a mentalidade ambidestra de negócios, que também comentamos neste outro artigo

1. Cultura de Inovação de Longo Prazo

A visão de longo prazo de uma empresa comprometida com a cultura de inovação sabe que se deve concentrar no ROI (retorno do investimento) de longo prazo. 

A liderança precisa ter visão ampla do mercado, de tendências e tecnologias para abandonar a mentalidade de aceitar – e esperar – ganhos incrementais em curto prazo, e tanto a liderança e quanto os demais stakeholders (outras partes interessadas) devem reconhecer que a verdadeira inovação nem sempre retorna valor no curtíssimo prazo. Daí a importância da cultura de inovação de longo prazo. 

Isso significa entender e implantar a mentalidade de tolerância ao erro. É preciso entender que as equipes podem falhar no curto prazo (dentro do processo ágil de idealização, experimentação e decisão), mas os ganhos de longo prazo com inovações disruptivas têm o potencial de superar em muito os benefícios de curto prazo das melhorias incrementais.

Infelizmente, nossa realidade local é de uma cultura imediatista e ansiosa por resultados. O melhor exemplo disso é a mentalidade que vem do futebol de “Domingo a Quarta-feira”. Se um time perde no domingo e empata na quarta-feira, se anuncia que o time está em crise. Caso um “milagre” não aconteça e o time finalmente vença (de goleada) no próximo Domingo, o técnico é demitido. 

Essa mentalidade se aplica no cotidiano de nossa sociedade. Isso explica a dificuldade de manter uma dieta ou assiduidade em práticas de exercícios físicos ou outros cuidados de saúde por mais de 3 semanas, e infelizmente essa mentalidade assola todos os níveis sociais e níveis corporativos. No Brasil, para uma cultura de inovação ser efetiva, precisamos lutar contra nossa cultura local e se esforçar para aprender a planejar e executar projetos em longo prazo.

2. Ambidestria de negócios

A Mentalidade Ambidestra de negócios pode ser definida como a capacidade de uma organização de ser eficiente na gestão dos negócios de hoje e adaptável para lidar com a demanda em constante mudança de negócios futuros. 

Nesse sentido, quero dedicar mais comentários e importância a essa última capacidade. A ambidestria de negócios é hoje o maior diferencial que líderes devem dominar para serem capazes de desenvolver e implementar parte da cultura de inovação de longo prazo nas empresas. 

Isso significa manter a operação de negócios atual produtiva, efetiva e eficiente enquanto se pensa, descobre, experimenta e implementa novos produtos e modelos de negócios e se adapta ao fato que o modelo de negócio atual será obsoleto em um futuro próximo.

Essa capacidade é o que o escritor Vijay Govindarajan descreve em seu livro “The Three box solution” (a solução em três caixas), em que as caixas do presente (operação comercial atual), caixa do futuro (novos projetos e negócios) e caixa do passado (o processo de transição da operação presente em futuro) precisam estar em harmonia. 

Saiba mais sobre a solução em três caixas por meio da cocriação do planejamento estratégico 

A ambidestria em uma organização é alcançada equilibrando a descoberta e a exploração. A descoberta inclui processos como busca, variação, tomada de risco, experimentação, flexibilidade, descoberta ou inovação. Já a exploração inclui processos como refinamento, escolha, produção, eficiência, seleção, implementação e execução.

Aproveito para usar como exemplo de ambidestria em negócios o caso USA TODAY:

O jornal nacional, uma divisão da Gannett Corporation, percorreu um longo caminho desde sua fundação em 1982. Mesmo com críticos fortes, o jornal obteve seu primeiro lucro em 1992 e continuou a se expandir, tornando-se o diário mais lido nos Estados Unidos, combinando receitas com assinaturas e anunciantes.

Contudo, com a chegada da internet, Tom Curley, presidente e editor do USA Today, reconheceu que a empresa teria que se expandir além de seu negócio tradicional de impressão. Mas não foi o suficiente: era preciso inovações maiores.

Em 1999, o grupo decidiu que o USA Today deveria adotar uma estratégia de rede, na qual compartilharia conteúdo de notícias em três plataformas: o jornal, USAToday.com e as 21 estações de televisão locais da Gannett. Mesmo separadas, foram pouco a pouco criando sinergia.

Leia também: O que a Cultura de Inovação significa em mudanças em um mercado acelerado

Deu certo, e a ambidestria ao atuar em mais de uma frente (impresso, online e TV) mostrou a capacidade dos produtos darem ainda mais capilaridade ao negócio de jornalismo. 

A estratégia também mudava o programa de incentivo para executivos, substituindo as metas específicas da unidade por um programa de bônus comum vinculado a metas de crescimento em todas as três mídias.

Quando os lucros de outros jornais caíram, o USA Today faturou US$ 60 milhões, impulsionado em grande parte pela capacidade da empresa de continuar atraindo anunciantes nacionais e pelas receitas de sua lucrativa operação USAToday.com.

Portanto, a base para dominar a visão ambidestra de negócios é ser totalmente e rapidamente adaptável, e para tanto, preciso citar a frase do escritor e futurista Alvin Toffler, que é a mais mencionada em palestras sobre inovação nos últimos 5 anos:

 “O analfabeto do século 21 não será aquele que não sabe ler e escrever, mas aquele que não consegue aprender, desaprender e reaprender”

Conclusão

Concluindo, a cultura de inovação de longo prazo é um movimento revolucionário nas empresas que depende da iniciativa e apoio da liderança, associado a capacidade de criatividade analítica ágil e adaptação. 

Além disso, é preciso ter a vontade para se descolar da cultura local de imediatismo para uma visão de longo prazo para que as inovações disruptivas aconteçam de fato. E nisso nós da Haze Shift nos destacamos. 

Estamos dispostos a mostrar nossos projetos, promover um diagnóstico especializado, uma tese de inovação e, juntos, fazermos da sua organização um local com uma cultura de inovação de longo prazo. Por isso, fica o convite: vamos conversar e co-criar as melhores soluções inovadoras para sua empresa.  

Escrito por:

Robert Frederic Woolley
+ posts

Robert Frederic Woolley é consultor associado da Haze Shift, bacharel em Ciências Farmacêuticas, mestre em Administração de negócios e agente de propriedade Intelectual. Realiza trabalhos sobre inovação em modelos de negócios com foco na auto-disrupção, desenvolvimento de mercado e novas tecnologias.