Há alguns anos me convidaram para uma oficina para falar sobre criatividade e design thinking, acho que lá por 2012 ou 2013. Quando vieram os requisitos, me assustei. Seria mais de 15 pessoas e eu só teria duas horas para executar a oficina, mas ainda não dominava totalmente as ferramentas do design thinking.

Mas com o desafio aceito, não tinha mais como dar passos para trás. O que poderíamos usar nessa oficina rápida? Nessa época, estava lendo o livro Design de Negócios do professor Roger Martin, diretor da escola de negócio Rotman em Toronto (CA). Foi quando surgiu essa inspiração:

Se não tenho um tema específico, e nem tempo para ter uma fase de empatia com algum nível de profundidade, o que poderia fazer? Uma alternativa seria criar um personagem, dar vida, personalidade e desafios e depois apresentasse entre eles e elas para então criar um negócio para atender esse personagem?

Assim, seria possível transformar a teoria do design thinking em algo prático em pouco tempo, mostrando de ponta a ponta o processo. Bom, mas antes de trazer a dinâmica, trago para você um esclarecimento sobre Design Thinking: 

Direto ao ponto: caso você já saiba o que é design thinking e queira conferir o passo a passo da oficina, clique aqui

O que é design thinking: conceito

Design thinking não é algo totalmente novo, mas foi explorado como negócio de fato na virada do século com a liderança da consultoria de inovação IDEO. Daí em diante, lá pela virada da última década, o conceito de design thinking ganhou velocidade.

Basicamente, o design thinking se baseia em dois conceitos: divergência/convergência, e no duplo diamante. Ele se divide entre as fases de descoberta, definição, desenvolvimento e entrega. É bem similar às cinco categorias do desing estratégico oriundo do modelo proposto pela universidade de Stanford, que meu colega e sócio Rodrigo Medalha expôs brilhantemente neste link. Veja como funciona o duplo diamante:  

A primeira fase se chama descoberta (ou empatia, dependendo do modelo que segue). É a primeira fase de divergência: basicamente, você precisa entender o problema, se colocar no lugar das pessoas. 

A segunda fase se chama definição, e é a primeira convergência: o objetivo é escolher um problema/oportunidade para solucionar.

Já a terceira fase se chama desenvolver (ou idear, como preferir): esta é segunda divergência, ou seja, criar várias ideias diferentes para poder ter diferentes soluções. 

Por fim, a quarta fase é a entrega (ou prototipagem), que é a segunda convergência, que basicamente você precisa escolher uma das soluções e testar com um protótipo.

Esta é a forma simples de entender o design thinking. Mas como colocá-lo em prática? Aqui segue a sugestão de como resolvi o desafio proposto no começo deste texto: 

Design thinking para a Alien Experience

Primeiramente, agora você já tem boas noções de o que é design thinking, preciso que  você faça uma escolha: você quer uma oficina  presencial ou online? Em tempos de pandemia, certamente a segunda opção é mais segura. Então vamos ao que você precisa para construir planetas e aliens:  

  • Para uma oficina presencial: folhas de flipchart (três a cinco por equipe), canetinhas coloridas e fita crepe para pendurar os desenhos na hora das apresentações. 
  • Em caso de oficina online
  1. Uma boa ferramenta de reuniões, preferencialmente alguma que permita dividir os grupos em salas, como Zoom ou Microsoft Teams – também é possível pelo Google Meets, desde que sejam criados vários links. 
  2. Acessos a uma ferramenta de post-its que permita colar imagens, como Mural.co ou Miro, ou – em último caso, a Jamboard do Google. 

Leia também: 10 dicas para fazer um workshop online. O que aprendemos após 1 ano de pandemia

Etapa 1. Crie um planeta – 5 a 10 min para criar  + 1 min de apresentação por grupo.

Pronto, chegou a hora de viajar pelo espaço. Com as ferramentas em mãos, cada grupo deve começar criando um planeta que apresente:

  • Fauna
  • Flora
  • Rochas 
  • E o que mais achar interessante

Dica:Se a oficina for online, peça para os membros do grupo comporem o planeta utilizando imagens captadas da internet. 

Tudo aqui vale, mas ainda não é hora de desenhar um ser de vida inteligente, ou seja, os seres humanos como acontece no planeta Terra. É importante deixar bem claro para que não haja dúvidas.

Dica: quanto mais fora do normal, melhor. 

Após a criação do planeta, cada grupo deverá apresentar para os demais como é seu planeta, e explicar em detalhes os elementos em apenas 1 min. 

Design thinking: oficina online realizada na ferramenta Mural

Dica: Em ambiente presencial, faça um membro do grupo segurar o papel para que todos possam ver enquanto acontece a descrição. Em eventos online, sugiro que o facilitador compartilhe a tela focando no planeta do grupo que estará apresentando no momento.

Etapa 2. Crie um morador inteligente – 5 a 10 min para criar  + 1 min de apresentação por grupo.

Pronto, agora sim você vai criar o habitante inteligente. Determine o que ele come, como ele anda (em quatro patas ou em duas), se voa, rasteja, no que ele e seus amigos trabalham. Basicamente, você deve: 

  • Determinar a forma física;
  • As características sociais do ser inteligente
  • Informar os hábitos de consumo do E.T
  • Determinar características únicas. 

Dica: Em oficina à distância, busque novamente imagens de internet para referendar seu habitante. 

Em seguida, apresente seu Alien às demais equipes em um minuto seguindo o mesmo formato de apresentação do planeta.

Etapa 3. Chegou a hora do design thinking: descoberta  – 5 a 10 min para conversarem sobre o alien.

Então você pensou que já estava fazendo design thinking? Pensou errado. É agora que começamos a brincadeira. 

Em oficinas presenciais, pedimos que os [desenhos dos] Aliens construídos girem em sentido horário. Quando o desafio é online, a equipe 1 pode passar seu Alien para a equipe 2, e assim por diante – a última equipe passa seu Alien para a equipe 1. Assim, cada grupo terá em mãos seu próprio planeta e o alienígena de outra equipe. 

Eis que chegamos ao desafio: criar uma experiência única para o Alien que está visitando seu planeta, por meio de um produto ou serviço. 

Aqui temos a primeira fase do Duplo Diamante. Você precisa entender em que contexto o Alien da outra equipe vive. Em outras palavras, é a fase da empatia. É o momento de identificar ou problemas ou oportunidades para o visitante intergalático aproveitar dentro de seu ecossistema. Pergunte-se:

  • De acordo com o perfil físico, as características sociais e os hábitos desse visitante, o que ele precisa para se adaptar mais rápido ou desfrutar a estadia no meu planeta? 
  • Quais dificuldades o Alien pode enfrentar em meu planeta? 

Lembre aos grupos que esse é o momento de entender o contexto, problemas e desafios desse alien visitante. Ou seja, não é para apresentarem ideias ainda.

Etapa 4. Definição  – 5 a 10 min para conversarem sobre a escolha

Agora que você já fez uma pesquisa, é hora de resumir as descobertas. Defina e crie post-its de pelo menos três problemas e/ou oportunidades. Dentre esses três problemas, defina exatamente o que que você quer contornar para criar uma experiência única ao Alien visitante. 

Dica: pode ser por votação ou discussão, mas vocês precisam decidir um único problema/oportunidade. Lembre-se ainda que no design thinking temos uma ferramenta chamada: Como nós podemos. Isso permite que você torne um problema numa pergunta. Basicamente, determine um problema. Por exemplo, esse alien só come doces e meu planeta não tem açúcar? Então a pergunta seria: Como nós podemos alimentar o alien a partir dos recursos do nosso planeta?

Perceba uma coisa: aqui você está definindo um problema ou oportunidade que existe em seu planeta para criar um produto ou serviço ao visitante. É a partir desse conhecimento que você terá em mãos um briefing para desenvolver soluções. 

Etapa 5. Desenvolvimento ou ideação  – 10 min para criar as ideias + 5 min para escolherem uma ideia

Aqui você começa a desenvolver soluções para o problema ou oportunidade identificado. Faça um brainstorm de ideias. Isso significa que você irá pensar em produtos ou serviços que poderá oferecer dentro de seu ecossistema para o Alien visitante. Nesta etapa você deve: 

  • Criar o máximo de ideias possíveis
  • Não restringir a criatividade e nem ficar no lugar comum
  • Não criticar a ideia de ninguém
  • Criar propostas em cima das ideias já geradas

Ao fazer esse refinamento, você e seus colegas ficarão cada vez mais perto da solução, pois está chegando a hora da entrega. 

Depois de algumas ideias criadas, passem a conversar sobre as possibilidades. Inclusive é possível fundir uma ideia à outra, dividir uma ideia, ou somente descartá-la.

Dica: Existe uma forma clássica de fazer brainstorm, todos criam juntos, escrevendo em post-its. Cada membro do grupo cria sua ideia e depois, no momento correto, apresenta todas essas criações para os outros membros do grupo.

Etapa 6. A entrega do produto criado pelo design thinking

Corra, pois o disco voador do Alien visitante está chegando. É hora de entregar um protótipo para validar a ideia escolhida para concluir seu projeto de design thinking. Aqui a ideia é fazer um protótipo de baixa fidelidade, e que seja simples.

Esta é a fase final de teste para o lançamento, e pode – por exemplo – ser apresentada por um storyboard, onde será apresentado o passo a passo de uso de seu produto ou serviço pelo turista intergalático. 

Vale lembrar também que é sempre importante nesta fase de design thinking pensar um mecanismo  de feedback, ou seja, você deve pensar em como o Alien visitante pode opinar sobre a experiência criada. Dessa forma, sempre será possível refinar seu produto, fazer novas descobertas e definições e desenvolver melhorias para o produto. 

Leia também: Criatividade e inovação nas empresas: do design de Santos Dumont às ferramentas modernas

Enfim, chegamos ao fim de nossa jornada intergalática. Aqui na Haze Shift, nós facilitamos essa oficina em mais de  20 empresas. Em uma delas (executada no jornal Gazeta do Povo), foi uma forma de acender a fagulha criativa antes da oficina principal para identificação de desafios e criação de ideias, com pelo menos 30 pessoas de várias áreas diferentes. Serviu para muitos colegas de trabalho que não se conheciam terem seu primeiro contato mais pessoal – e também serviu para quebrar o gelo entre eles.

Seja como forem as jornadas intergaláticas em sua empresa, gostaria de lembrar que nós temos a expertise de criar oficinas de design e workshops sobre temas específicos – e não apenas sobre Aliens -, especialmente se sua organização já tem um problema definido. Por fim, fica o convite: deixe aqui um comentário sobre algum problema de outro planeta que você ou seus clientes vêm enfrentando em sua empresa para podermos pensar em como solucioná-lo fazendo uso do design thinking. 

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Consultor em inovação aberta, especialista em design estratégico, com experiências em desenvolver programas e ações criativas para grandes empresas.