Quando você teve contato pela primeira vez com educação empreendedora? Poucos têm acesso e a maioria das pessoas em nosso país nem sabe o que isso significa. Para se ter ideia, segundo este relatório do Global Entrepreneurship Monitor (GEM), em 2020, o Brasil ocupou o 49º lugar em uma lista de 54 países quando se trata de educação empreendedora na fase escolar. 

Mesmo nas universidades não estamos muito à frente, nosso país ocupa a 37ª posição. A título de curiosidade, a Holanda ocupa o topo de ambos os rankings. E sabe o que isso significa para nós, brasileiros? Em primeiro lugar, que a maioria dos nossos jovens não aprendem sobre empreendedorismo no período escolar, e poucos durante seu período de formação superior, o que poderia ser muito útil para escolha de uma carreira ou até mesmo no sucesso da abertura do próprio negócio.

Como bem lembra o professor José Dornelas neste artigo, um estudo com 2 mil jovens da Universidade de Zurique (Suíça) e da Universidade de Siegen (Alemanha) chegou à conclusão que pessoas com equilíbrio de atividades escolares, contatos com negócios, bom relacionamento com família e conexões com amigos são mais propensas a se tornarem empreendedores. 

Por aqui, no Brasil, em especial no ensino público, falta um dos pilares mostrados na pesquisa de Zurique-Siegen. Estou falando sobre o incentivo à educação empreendedora: especialmente no ensino fundamental e médio. Isso seria essencial para o ciclo de vida empresarial. 

O que é educação empreendedora?

Educação Empreendedora é mais do que aprender como abrir uma empresa. Trata-se do desenvolvimento de uma cultura em que a pessoa tenha suas habilidades desenvolvidas e se sinta preparada para traçar e alcançar objetivos ao abrir um novo negócio.

Ainda que esteja atrás no ranking de educação empreendedora, o brasileiro costuma ser uma pessoa empreendedora. Seja por necessidade, seja por oportunidade, o Brasil encerrou 2020 com 19,7 milhões empresas ativas. Apenas no mês de novembro de 2020, segundo o Ministério da Economia, os brasileiros abriram 298 mil novas empresas. 

Contudo, a falta de capacitação leva ao fechamento precoce das empresas. Para você ter uma ideia, 1 a cada 5 empresas fecha após um ano aberta, e apenas 25% chegam aos 10 anos, de acordo com o IBGE.

Por que é tão importante investir na educação empreendedora?

Além de ser um fator importante para a sobrevivência das empresas, investir em educação empreendedora nas escolas e universidades estimula a formação crítica dos estudantes. Também os torna aptos a observar o mercado, as oportunidades e a planejarem seu próprio negócio. Porém, precisamos também incentivar ainda mais o interesse em empreendedorismo para que os próprios professores levem o tema à sala de aula, independente da área de atuação. Essa é uma forma de conectar mais suas disciplinas com oportunidades de negócios reais.

Eu tive grande contato com educação empreendedora enquanto professor de ensino superior, e também atuando como gestor de uma aceleradora de startups universitárias. Eu ministrei a disciplina para estudantes e também para seus sócios em startups. É realmente motivador conduzir o desenvolvimento dessas ideias, e ver que os alunos desenvolvem autonomia, criatividade e se dedicam muito.

A universidade também é um ambiente enriquecedor para contatos com grandes empresas. Por exemplo, uma startup universitária pode ser parceira de inovação aberta que uma multinacional precisa naquele momento.

Além disso, quanto mais as universidades investem em educação empreendedora, mais elas desenvolvem negócios consistentes. E se programas de apoio forem criados, essas mesmas instituições de ensino poderão vir a ser sócias de empresas ainda nascentes que um dia podem se tornar grandes negócios. Todos ganham.

De startup para fornecedor de multinacional

Vamos a um exemplo. Com a mentoria do Núcleo de Empreendedorismo da USP (NEU), dois estudantes de engenharia transformaram seu trabalho de conclusão de curso em uma startup, a Mvisia. O produto era um software de visão computacional, a princípio voltado para a produção de eucaliptos.

Esta reportagem conta que eles não tiveram sucesso no primeiro produto lançado, voltado para a agricultura. Após 2 anos aperfeiçoando o software, eles entenderam como poderiam ter mais sucesso na indústria. Assim, a Mvisia começou a prosperar e chegou a ter 15 funcionários. E então chamou a atenção da multinacional brasileira WEG, que fabrica equipamentos elétricos.

Depois que analisou o negócio, a WEG comprou 51% da Mvisia e agora passa a ser um forte canal de distribuição de câmaras para o negócio da Mvisia. A startup continua sua operação de forma autônoma, mas agora responde por resultados à multinacional.  

Esta não foi a primeira startup que a WEG comprou.Isso faz parte de sua estratégia de iniciativas para inovação. Nós já conversamos em outro texto aqui no blog como é benéfica a aproximação da universidade e indústria e como isso proporciona desenvolvimento econômico e social da comunidade onde estão inseridos. 

Educação empreendedora dentro das empresas

Além das universidades, as empresas também podem estimular a cultura da educação empreendedora internamente. Ou seja, investir na capacitação para que seus colaboradores sejam incentivados a criar e inovar, com o objetivo de trazer mais valor para a empresa.

A Google é um exemplo clássico disso. Os funcionários são incentivados a ter 80% do tempo dedicados a projetos como um todo e os outros 20% em projetos pessoais de intraempreendedorismo, ou seja, empreender e criar novos negócios dentro da própria empresa. Isso significa que a Google incentiva os colaboradores a estudarem e proporem soluções para o negócio da gig tech. O Gmail era um desses projetos pessoais de Paul Buchheit, que aliou o sistema de buscas da empresa à caixa de e-mails, que hoje tornou-se parte de nossas vidas.

Educação empreendedora é meta mundial

Agora você já sabe que a educação empreendedora traz benefícios tanto no ambiente educacional quanto no corporativo. Mas sabia que também faz parte do plano de ação global de objetivos de desenvolvimento sustentável da agenda 2030, da ONU?

O objetivo Educação de Qualidade deseja levar o foco da educação para além básica, o texto da meta cita:

“A promoção da capacitação e empoderamento dos indivíduos é o centro deste objetivo, que visa ampliar as oportunidades das pessoas mais vulneráveis no caminho do desenvolvimento”.

Já sabemos que investir em educação empreendedora pode trazer resultados positivos para estudantes, empresas e toda a sociedade. Nesse sentido, precisamos de ações práticas. Por exemplo, que a grade curricular de escolas e universidades insiram o empreendedorismo de forma mais ampla e prática. Já as empresas têm a oportunidade de investir na capacitação dos colaboradores para que possam visualizar dentro da própria companhia  oportunidades de crescimento e inovação através do intraempreendedorismo. 

Já imaginou o que podemos alcançar até 2030 se isso acontecer? Nós da Haze Shift podemos ajudar sua empresa a desenvolver essa cultura empreendedora entre seus colaboradores ou conectá-la com universidades para construir juntos com a academia. Agora pense comigo: se existe todo esse potencial, o que falta para que a educação empreendedora seja ainda mais aplicada no Brasil? Deixe sua resposta nos comentários para conversarmos mais sobre esse tema tão importante.

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Consultor em inovação aberta, especialista em design estratégico, com experiências em desenvolver programas e ações criativas para grandes empresas.