Quando me perguntam sobre qual a tendência em inovação em saúde, minha resposta é sempre direta: Femtechs. Femtech é a categoria de software, produtos, equipamentos vestíveis e implantáveis, diagnósticos e serviços que utilizam a tecnologia digital para saúde das mulheres.
Tenho alguns bons motivos para essa recomendação. Cerca de 50% do mercado Femtech é voltado para soluções em fertilidade Os demais 50% são direcionados a áreas relacionadas a saúde da mulher, a longevidade, saúde sexual, pós-menopausa, saúde psicossocial, segurança, medicina diagnóstica, bem-estar e estética.
História e significado de Femtechs: startups para o público feminino
O termo foi criado em 2013 por Ida Tin, criadora do app de fertilidade Clue. Apesar de não ser um conceito novo, foi a partir de 2016 que houve o ponto de inflexão do mercado de startups Femtechs. Foram US$ 600 milhões em investimentos no setor e com expectativas de se tornar um mercado de US$60 bilhões em 2027 (crescimento anual (CAGR) estimado em 15,6% no período 2020-2027).
No entanto, para que isso aconteça, o mercado precisará superar vários desafios globais para startups Femtechs, como por exemplo:
- Falta de Investimento – Femtechs respondem por apenas 1,4% do capital de investimentos atual em saúde;
- Educação – globalmente pouco é feito ou investido para desmascarar mitos e tabus em torno de questões relacionadas às mulheres;
- Historicamente existe pouco capital investido em startups Femtechs, ou seja, relacionadas a mulheres;
- Risco de tributação – receio do surgimento de uma tributação popularmente sendo chamada de imposto rosa aplicado a produtos comercializados para as mulheres;
- Dificuldades econômicas atrapalham acesso a produtos de alta tecnologia (por exemplo, dispositivos vestíveis ou implantáveis) para mulheres em zona rural no mundo;
- Subestimação de problemas – no âmbito global, quando se trata de questões de saúde, será preciso ouvir mais as mulheres para entender a realidade e identificar as necessidades não-atendidas.
Por que as Femtechs são importantes agora?
Assim como em outros momentos da história, mulheres do século 21 desempenham um papel central na criação de famílias. E como equilibrar isso em um universo em que as mulheres acabam tendo de enfrentar duplas ou triplas jornadas? As Femtechs podem ajudar. Vamos explicar os porquês.
Em primeiro lugar, é óbvio que as mulheres são fundamentais para sustentar famílias saudáveis. Além disso, independente de nacionalidade, classe social, nível de instrução ou poder aquisitivo, nos lares 80% dos gastos em em produtos de saúde são realizados por mulheres, e elas são responsáveis por 90% de todas as decisões domésticas sobre saúde.
Em adição a isso, existe ainda crescente uso de aplicativos médicos à medida que o conceito de gerenciamento saúde passa a ser uma tendência de mercado e se tornando parte da cultura contemporânea. Isso representa uma janela de oportunidades.
Exemplos de femtechs
Por isso,além de apresentar esse movimento de inovação, o conceito e significado de Femtechs, suas oportunidades e desafios também aproveito para chamar a atenção dos investidores, pois essas startups são uma grande oportunidade para investimentos.
Leia mais sobre valuation para decisão de investimento
Para tanto, vou apresentar rapidamente alguns exemplos brasileiros e estrangeiros de Femtechs em diferentes áreas.
Saúde reprodutiva e sexual
- Evofem Bioscience – Desenvolvedores do Phexxi™ o primeiro contraceptivo não hormonal
- Progyny – Opera como uma startup de gerenciamento de benefícios de fertilidade para mulheres em programas realizados em parceria com empresas.
- Gestar – Femtech com o objetivo de conectar profissionais da área de saúde materno-infantil a gestantes e mães.
- Ziel Biosciences – responsável pelo desenvolvimento do SelfCervix™, um coletor caseiro de material para testes de detecção do HPV
- Oya care – A femtech oferece um exame de hormônio antimülleriano, indicador utilizado para mensurar a fertilidade da mulher
Longevidade
- Fizimed – Desenvolveram o equipamento Emy™ para fortalecimento do assoalho pélvico e períneo, na prevenção de incontinência urinária;
- Haut.AI – Plataforma de inteligência artificial (IA) para análise e sugestão de produtos de cuidados com a pele apropriados de forma individualizada;
- Kheiron – Plataforma de IA para análise de imagens de exames para detecção de câncer de mama e ovário em estágio inicial;
- Hologic – Adquiriu a Acessa health, uma empresa de biotecnologia que desenvolveu soluções invasivas para o tratamento de miomas uterinos;
- KaNDy Therapeutics – Biotec focada no tratamento dos sintomas da menopausa, adquirida pela Bayer por U$ 425 milhões;
- PHP Biotech – Startup brasileira que atua no desenvolvimento de nova molécula para tratamento de câncer de mama do tipo triplo negativo, o mais agressivo.
Saúde Psicossocial e Segurança
- Dorothea – App de cuidados com saúde mental para nichos específicos como adolescentes, TDHA, idosas, entre outras
- WomanIterrupt – App brasileiro premiado mundialmente que analisa e contabiliza as interrupções (de forma abusiva) de falas de mulheres por homens em reuniões e conversas. App voltado para mudança cultural e coibir abuso no ambiente de trabalho
- AliceGo – Criada para conectar bares e restaurantes parceiros que se comprometem a seguir protocolos de segurança da mulher, proporcionando um ambiente livre de assédio e mais seguro para elas
- PenhaS – App criado pelo Instituto AzMinas para enfrentamento à violência contra mulher. App foca nas etapas de conscientização e formação de rede de apoio.
Carreira e empoderamento profissional
- Elas que lucrem (EQL) – surgiu com o objetivo de igualar o número de homens e mulheres na bolsa de valores e em cargos de liderança
- B2Mammy – Plataforma que capacita e conecta mães ao ecossistema de inovação e tecnologia
Além de soluções digitais, cabe comentar que influenciadas pelas necessidades não-atendidas e crescimento das Femtechs, surgem grupos de investimento focado em startups lideradas por mulheres como a Wishe.
Um exemplo de um programa de inovação aberta
Mas onde as Femtechs podem surgir? Por diversos meios. Um deles é por meio de aceleradoras e mentorias. Outro por capital próprio. Ou ainda por desafios de inovação aberta.
Este último modelo aconteceu recentemente no programa Inova-San, co-organizado por nós da Haze Shift. Nele, equipes de universitários do Sul Fluminense participam de um programa de inovação aberta junto ao Instituto Nissan. O objetivo, em 2021, foi gerar soluções para os segmentos de Meio Ambiente, Mobilidade Inteligente e Mulheres e Inovação.
O projeto vencedor do segmento mulheres foi a startup Diverse, que já rodou um MVP – sigla para produto mínimo viável – e que tem tudo para se juntar à lista de Femtechs acima. A proposta é criar conexão entre organizações e a contratação de profissionais PCDs mulheres. Confira no pitch da proposta:
Femtechs: tendência crescente
Como você pode ver, já existem uma ampla gama de soluções focadas pelas startups para o público feminino.
Nesse sentido, as Femtechs surgem como soluções para amplo espectro de tecnologias digitais dedicadas à melhoria da saúde e bem-estar das mulheres. Em especial a satisfazer as necessidades não atendidas das mulheres e desenvolver soluções tecnológicas para Longevidade, gravidez e cuidados de enfermagem, bem-estar sexual, saúde do sistema reprodutivo, soluções para menopausa, oncologia feminina e saúde geral.
Por isso, cada vez mais investidores têm voltado suas atenções às startups para mulheres. Isso resultou em uma consciência muito maior do mercado, o que é muito benéfico para a sociedade e aumento do investimento. O resultado positivo é o crescimento exponencial do mercado de Femtechs e com isso as mulheres, seus desafios e desejos recebendo a atenção merecida.
Nós da Haze Shift podemos ser o parceiro ideal no desenvolvimento de soluções para necessidades não atendidas de mulheres que podem originar em uma Femtech, e programas de cultura de inovação para identificação, empatia e idealização de soluções.
Finalmente, por que investir em Femtechs? Respondo com a justificativa mais importante e óbvia: porque metade das pessoas no planeta são mulheres e a outra metade filhos e filhas delas.
Escrito por:
Robert Frederic Woolley
Robert Frederic Woolley é consultor associado da Haze Shift, bacharel em Ciências Farmacêuticas, mestre em Administração de negócios e agente de propriedade Intelectual. Realiza trabalhos sobre inovação em modelos de negócios com foco na auto-disrupção,desenvolvimento de mercado e novas tecnologias.
Excelente e completa análise sobre o assunto. Uma visão do potencial que a contribuição feminina tem a trazer nos dias de hoje. Argumentos que valem a pena ser considerados por todos os segmentos da sociedade, começando pelas próprias mulheres para que nunca desistam dos seus sonhos e que as mentorias e investidores possam apoiá-las para o ganho de todos.
Ficamos muito felizes por você ter deixado esse comentário nesse post tão importante para todos nós sobre Femtechs! Continue conosco. <3