O que é mais importante para o seu negócio e seus resultados financeiros: melhoria contínua ou inovação? 

À primeira vista, tanto a melhoria contínua quanto a inovação compartilham muitas semelhanças. Por exemplo, quando empregadas adequadamente, ambas envolvem toda a organização, ambas podem melhorar a eficiência e a produtividade e ambas fornecem oportunidades para melhorar a qualidade e aumentar o valor para os clientes.

No entanto, existem diferenças e um dos meus objetivos neste texto é deixar claras as diferenças entre Melhoria Contínua e Inovação, quando você também perceberá como as duas caminham lado a lado.

De onde vem a melhoria contínua?

Sabemos que a Melhoria Contínua precisa ser parte da cultura empresarial, do dia a dia dos colaboradores, uma vez que envolve toda empresa.

De acordo com a definição de Masaaki Imai, fundador do Kaizen Institute, temos uma palavra muito conhecida que expressa esta definição:

KAIZEN, onde Kai significa mudar, e Zen significa para melhor

Em outras palavras, Kaizen significa uma mudança para melhor, ou seja, a melhoria contínua na vida pessoal, social e profissional. Como define Masaaki Inai, “a melhoria contínua é feita por todos, em todos os lugares, todos os dias.” 

Vamos explicar isso melhor. Kaizen (Melhoria Contínua) é uma estratégia em que colaboradores de todos os níveis de uma organização trabalham juntos, de forma proativa para alcançar melhorias regulares e incrementais no processo de fabricação, por exemplo. De certa forma, combina os talentos coletivos de uma empresa para criar um poderoso motor de melhoria. É certo que nem sempre uma empresa que trabalha a melhoria contínua de forma isolada é inovadora. É preciso desenvolver esta combinação, ou seja, andar lado a lado com a cultura da inovação, como na sequência. 

Para contextualizar um pouco mais o Kaizen (melhoria Contínua), vamos entender os seus 5 princípios:

  1. Conheça o seu cliente, crie valor para ele identificando interesses para melhorar a experiência
  1. Elimine os desperdícios. Todas as organizações devem estar focadas em criar valor agregado e eliminar os desperdícios
  1. Vá para onde tudo acontece. O que agrega valor para o seu cliente é criado onde tudo acontece, ou seja, no Genba do Kaizen. Calma que eu traduzo: Genba significa chão de fábrica.
  1. Empodere as pessoas. Defina os mesmos objetivos para o seu time e disponha para eles os sistemas e ferramentas para que possam alcançar os objetivos.
  1. Seja transparente. Só fale com dados e fatos. A performance e melhoria devem ser tangíveis e visíveis.

Estes princípios regem toda a formação de uma cultura de Melhoria Contínua. Ela foca em elementos organizacionais e oferece oportunidades para identificar e eliminar desperdícios, reduzir defeitos, melhorar a qualidade de seus produtos e serviços para gerar maior satisfação do cliente.

Agora vamos falar sobre Inovação

A inovação envolve transformar uma ideia criativa ou um conceito em realidade. Diferente de melhoria contínua, inovar significa sempre fazer algo novo, diferente ou melhor que resulte em uma diferença positiva para sua organização. 

A inovação pode vir de qualquer lugar, pelas ideias dos funcionários da empresa, pela análise de mercado e oportunidades, etc. Aqui mesmo no blog da Haze Shift, nós fizemos uma entrevista com um especialista que reforçou a real definição de inovação:

“Inovação é gerar negócios. Não tem como pensar diferente, já que não existe inovação sem negócios. Inovação sem negócios é invenção”, completa Rodrigo Régis, diretor de Negócios e Inovação do Parque Tecnológico de Itaipu. Confira a entrevista.

Se as definições de melhoria contínua e inovação são tão diferentes, é possível utilizar as 2 para potencializar o negócio e resultados financeiros?

Claro que sim. Afinal, ao alavancar uma cultura de melhoria contínua, você obtém ganhos de eficiência e produtividade que podem levar ao aumento da lucratividade. 

O compromisso com a inovação colabora e muito para que sua organização tenha um processo, orgânico ou não, para desenvolver e produzir continuamente produtos e serviços que entreguem resultados positivos. Já a combinação dos dois proporciona um efeito duplo real e oferece grandes benefícios para as pessoas, produtos e processos da sua organização e seus resultados financeiros.

A inovação pode ocorrer em decorrência da busca por melhorias nos produtos e processos existentes, o que faz parte das 33 rotas de inovação que mostramos neste artigo (clique para ler), mais especificamente as rotas 5 e 10. Isso pode gerar oportunidades de inovação, tanto tecnológica quanto organizacional. O acúmulo de melhorias individuais pode resultar em resultados mais significativos em geral.

De acordo com este estudo dos especialistas em inovação Fabiane Lizarello, João Carlos Toledo e Dario Allimprandini, da Universidade Federal de São Carlos e do Centro Educacional FEI, a melhoria contínua trabalha de forma auxiliar à cultura da inovação; confira um trecho da publicação: 

“Ao se praticar a melhoria contínua, estamos auxiliando a criação de um ambiente e uma cultura da inovação. O foco no cliente impulsiona as organizações a encontrarem novas necessidades de consumo e, consequentemente, para atender a essas necessidades, as empresas desenvolvem novos produtos e realizam modificações nos já existentes, sustentando a inovação; com a melhoria contínua, os colaboradores aprendem a pensar de forma mais criativa, quanto à forma como o trabalho é executado, promovendo a aquisição e transformação do conhecimento na organização; o trabalho em equipe relacionado à melhoria contínua promove a autonomia e o compartilhamento de ideias entre os colaboradores, melhor comunicação, fluxo de informações, estimulando toda força de trabalho a desenvolver a capacidade de inovar.”

Um modelo combinado de melhoria contínua e inovação

Recentemente, nós da Haze Shift atuamos na definição do planejamento estratégico e desdobramento de objetivos e metas em 2 empresas de ramos diferentes, uma do setor automotivo e outra do setor público. O grande diferencial foi a aplicação dos três primeiros passos da metodologia Hoshin Kanri, onde definimos os fundamentos (ou pilares) da visão estratégica, objetivos e estratégias de médio e longo prazo. 

Nessas etapas utilizamos a co-criação com uma equipe multidisciplinar e ficamos focados em promover uma melhoria do que já era feito anteriormente (melhoria contínua) e também desafiar as equipes definindo objetivos e estratégias inovadoras para os próximos anos. Como resultado desta implementação, aumentamos o valor percebido pela equipe, geramos maior impacto e retorno promovendo a sustentabilidade do negócio.

Leia também: A inovação no planejamento estratégico por meio da cocriação feita por pessoas para pessoas

A melhoria contínua e inovação, ou CI&I (Continuous Improvement & Innovation), é um processo que visa alcançar melhorias e inovações regulares e frequentes que contribuam diretamente para os objetivos do negócio.

Como podemos ver na figura abaixo, temos a relação da velocidade de melhoria e inovação com os impactos gerados em função do tempo. Analise comigo: 

Perceba que, nesse gráfico, fica claro que na linha vermelha se encontra a típica ação de fazer mais do mesmo. Neste cenário, sabemos que é muito difícil ter resultados diferentes aplicando da mesma maneira de sempre. Afinal, o mundo dos negócios está em constante mudanças e desafios e, desta forma, em pouco tempo a empresa não estará satisfazendo as necessidades dos clientes.

Já na linha roxa temos as mudanças ocasionais, ou seja, trabalhos de melhorias que estão sendo desenvolvidos, mas sem uma constância, ou em escala. Representa muitas equipes que trabalham em função de demandas e de forma tímida quando falamos em inovação e melhoria contínua.

Na linha azul vemos um claro processo de melhoria contínua sendo aplicado em toda a corporação. Equipes focadas em encontrar oportunidades de eliminar desperdícios aumentando o valor agregado do produto/processo, agir, controlar o processo e padronizar para não retornar ao estado anterior. Aqui falamos muito de aplicação constante do PDCA (Planejar, Fazer, Controlar e Agir).

A linha verde mostra o aumento dos retornos financeiros, produtividade, satisfação do cliente, que é possível com a melhoria contínua e a inovação bem-sucedidas trabalhando de maneira ordenada e juntas.

Como aplicamos esta combinação obtendo maiores retornos para a empresa?

Aposto que você se interessou ainda mais pelo CI&I. Então, vamos descobrir uma forma de aplicar essa combinação potencializando os resultados para a sua empresa. Uma aplicação robusta desta combinação é a referenciada no conceito de oito etapas do processo de CI&I (Melhoria Contínua e Inovação) do “Department of Primary Industries and Regional Development’s Agriculture and Food division”. Confira: 

Etapa 1: Focar

Nesta etapa envolvemos o desenvolvimento de metas baseadas em atividades e resultados. Traçamos objetivos “inovadores” utilizando um robusto plano de aplicação do planejamento estratégico. Definimos também as métricas para monitorar o desempenho (objetivos, estratégias e KPIs).

Ferramentas importantes nesta etapa: Hoshin Kanri e Metas SMART

Etapa 2: Explorar

Nesta etapa buscamos encontrar maneiras de atingir as metas estabelecidas na etapa 1. É necessário desenvolver, através do pensamento criativo e co-criação, uma gama de ideias novas como opções para o atingimento das metas. A melhor forma é a utilização do Design Estratégico para geração de ideias e direcionamento das possíveis soluções.

Ferramentas importantes nesta etapa: Design Estratégico, Brainstorming, Diagramas, etc

Etapa 3: Selecionar

Nesta etapa selecionamos as melhores opções dentre as identificadas na etapa 2. Priorizar as atividades é o grande objetivo desta fase. É importante também avaliar as previsões fornecidas para os resultados esperados. 

Algumas ferramentas importantes nesta etapa e que vale pesquisa sobre, são as seguintes:: Custo x Benefício, Diagrama de Afinidades, Matriz de Priorização

Etapa 4: Projetar

Esta etapa é sobre como projetar a ação que você precisa realizar para implementar com êxito as opções escolhidas na etapa 3. Fazer testes em pequena escala nos ajudam a validar as propostas.

Algumas ferramentas importantes nesta etapa e que vale pesquisa sobre, são as seguintes: 5W2H, KPIs de desempenho, Campo de força, Design de soluções

Etapa 5: Agir

Nesta etapa implementamos a ação projetada na etapa 4 e monitoramos o desempenho. É também obter apoio regular para se manter motivado e no caminho certo.

Ferramentas importantes nesta etapa: 5W2H (implementação), KPIs de desempenho (implementação), Design de soluções (implementação).

Etapa 6: Avaliar

Esta etapa trata de avaliar os resultados alcançados na etapa 5 com os resultados previstos na etapa 3. Também se trata de observar o impacto geral sobre a meta desenvolvida na etapa 1. A etapa 6 também trata de observar coisas inesperadas que aconteceram.

Ferramentas importantes nesta etapa: 5W2H (controle), KPIs de desempenho (controle), regra SMART (avaliação), Análise de Custo x Benefício.

Etapa 7: Criar

De todo o trabalho desenvolvido, aprendizado recebido das etapas de 1 a 6, agora é hora de avaliar as novas melhorias que podemos implementar. Nesta etapa, fazemos os questionamentos e apresentação de ideias de melhoria contínua. Devemos, então, estimular a criatividade em um processo de cocriação e colaboração.

Ferramentas importantes nesta etapa: Debate entre times, observações, perguntas, ideias e oportunidades.

Etapa 8: Focar novamente

A etapa 8 trata de transformar uma ou duas das ideias para melhorias adicionais desenvolvidas na etapa 7 em metas de melhoria específicas, como foi feito na etapa 1.

Ferramentas disponíveis para esta etapa: Metas SMART, Priorização de ideias, Design Estratégico,

Como podemos avaliar, neste processo de 8 etapas, exercemos o PDCA em sua totalidade, e estimulamos, através da criatividade (observação, reflexão, debate, resultados atingidos), a busca por ideias inovadoras. Desde a etapa 1 onde definimos os desafios inovadores até a etapa 8 onde selecionamos a melhoria para irmos além, estabelecemos uma cultura de melhoria contínua e inovação.

Para concluir…

Ao trabalhar a melhoria contínua lado a lado com a inovação utilizando o design estratégico através da co-criação com equipes multidisciplinares, potencializamos os resultados de curto, médio e longo prazo do seu negócio. 

Nesse sentido, nós da Haze Shift podemos ajudar nessa busca de soluções para o seu caso. Já fizemos isso em vários projetos e teremos o prazer em traçar um planejamento sob medida em conjunto com você.

Se você é uma empresa privada ou pública que busca sustentabilidade do negócio, vamos conversar sobre como aplicamos o planejamento estratégico conectando melhoria contínua e inovação? Certamente, podemos chegar a um ótimo caminho!

Escrito por:

Junior Chapim
Junior Chapim
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Junior Chapim é consultor associado da Haze Shift, engenheiro, profissional com 20 anos de experiência em indústrias multinacionais nas áreas de treinamento, Lean Manufacturing, planejamento estratégico e gestão de projetos. Atuou por 14 anos como líder de equipes fomentando o intraempreendedorismo nas organizações.