Hoje em dia, grande parte das empresas e organizações buscam formas de aprimorar o produto, ou serviço, o desempenho e a produtividade, dentre tantas outras coisas. Tenho certeza de que você que está lendo esse artigo, se identifica com isso de alguma forma. 

Em um movimento muito comum, e até lógico, as organizações buscam modelos organizacionais que potencializam o seu negócio. E que, por consequência, geram o melhor resultado, melhor experiência para o time que executa e para o cliente final. 

Mas quais são as que conseguem fazer isso melhor? 

Certamente, as organizações versáteis e que entendem a importância do design organizacional são as que promovem a cultura de inovação e acabam desenvolvendo características fundamentais para o crescimento exponencial. É a busca por uma gestão ágil, a cultura de autonomia nos times e lideranças que gerenciam sistemas ao invés de pessoas.

E o unFIX, pode ser um desses modelos nessa busca.

Mas, afinal, o que é o unFIX? 

O unFIX é um modelo criado por Jurgen Appelo, escritor holandês e especialista em inovação em temas como gestão 3.0, liderança e agilidade. O modelo criado pelo autor foi publicado em janeiro de 2022 e tem o objetivo de criar padrões de organização e estrutura organizacional em qualquer empresa. 

Esse é um entendimento muito importante, porque diferente de outros modelos, o unFIX não busca trazer processos e também não é um framework. Por consequência, pode ser aplicado em diferentes departamentos, divisões e organizações. 

Além disso, a partir desse modelo, temos a possibilidade de criar organizações que sejam mais flexíveis e que se adaptem a qualquer circunstância. Essas são duas características fundamentais para qualquer empresa do futuro. Interessante, certo? Então vamos descobrir como esse modelo funciona:

O modelo é formado por alguns componentes principais no unFIX: Crew, Bases e Forums. Além de papéis como Captains, Chairs e Chiefs. Na tradução livre, seriam as tripulações, bases e fóruns, e os capitães, moderadores e chefes, como mostra a imagem a seguir:

fonte: unFIX

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Aposto que o gráfico acima despertou seu interesse, certo? Então vamos componente por componente para entendermos juntos um pouquinho mais desse modelo:

Crew (Tripulação)

O autor define as tripulações como times compostos de três a sete pessoas. Essas pessoas trabalham majoritariamente dentro da sua tripulação, mas também podem fazer parte de um fórum – que veremos a seguir. 

Aqui o importante é saber quais são os sete tipos de tripulações no unFIX: Fluxo de Valor; Facilitação; Capacidade; Governança; Plataforma; Experiência e Parceria. Esses são os padrões de tripulação, mas como o próprio autor descreve, em um negócio normal, a maioria das equipes provavelmente deve ser uma equipe de fluxo de valor, mas trago a definição dessa tripulação mais adiante.

Essas crews são equipes auto-organizadas e multifuncionais que gerenciam suas próprias reuniões (planning, dailys, review e retrospectiva). Elas podem definir sua própria identidade, regras compartilhadas e muito mais. E o próprio modelo unFIX permite crews que não são alinhadas a um único fluxo. 

E, claro, existem boas razões para adotar qualquer um dos outros sete tipos de Tripulação. Vamos abordar cada uma delas:

  1. Tripulação Fluxo de Valor: Essa tripulação é responsável pelo fluxo de valor da organização, de ponta a ponta. Ou seja, desde o momento em que recebem uma solicitação do cliente até o momento em que entregam valor ao cliente. 
  1. Tripulação de Facilitação: A tripulação de Facilitação tem o objetivo de ajudar outras tripulações a fazer um ótimo trabalho. Essas equipes não têm fluxo de valor próprio. Em vez disso, elas garantem que as equipes de fluxo de valor na base possam operar sem problemas. Um exemplo prático seria uma equipe de Scrum Masters ou Agile Coaches.
  1. Tripulação de Capacidade: A tripulação de Capacidades é composta por pessoas com habilidades avançadas sobre determinado tema, produto ou serviço. Seu objetivo é ajudar as outras tripulações quando suas habilidades são necessárias. Os especialistas trabalham (temporariamente) nessas equipes de fluxo de valor, mas são considerados membros convidados. 

Aqui na Haze Shift nós temos uma comunidade de especialistas de diversas áreas, os Inovadores & Inquietos. Muitos deles são os consultores em alguns dos nossos projetos, mas de maneira integrada com o time interno. Essa tripulação é muito semelhante a isso.

  1. Tripulação de Plataforma: em muitas Bases, as Equipes de Fluxo de Valor precisam compartilhar uma arquitetura e infraestrutura comuns para realizar seu trabalho. Por um tempo, você pode conseguir isso com uma equipe de facilitação que ajuda os fluxos de valor a manter uma biblioteca de serviços compartilhados juntos. Porém, com o tempo, talvez seja necessário criar uma nova tripulação.

E o objetivo de uma Tripulação de Plataforma é oferecer serviços compartilhados para as outras tripulações em uma Base. Qualquer atividade que gere muito trabalho para as tripulações pode ser utilizada aqui para ajudá-las a acelerar suas entregas.

  1. Tripulação de Governança: é a equipe de gerenciamento. É composto por vários chiefs que são os gerentes de todos na Base. No caso de uma Base ser uma empresa inteira, a Tripulação de Governança é a equipe executiva.

Uma responsabilidade da Equipe de Governança é a liderança: eles definem a visão e o objetivo da Base; decidem sobre o modelo de negócio; discutem, delegam e traçam a estratégia e fazem o possível para garantir que todos os colaboradores se sintam reconhecidos e com senso de pertencimento.

  1. Tripulação de Experiência: O objetivo desta Tripulação é garantir que a experiência do cliente seja a melhor possível. Eles monitoram toda a jornada do cliente e ajudam a tripulação de fluxo de valor a otimizar suas entregas. Além disso, mantêm o foco na integração e nos processos fluídos que abrangem mais de um produto ou serviço. 
  1. Tripulação de Parcerias: A Tripulação de Parceria tem um papel quase idêntico ao da Tripulação de Experiência. Enquanto o segundo se concentra em clientes e usuários, o de parcerias mantém seu foco em fornecedores, parceiros, freelancers, consultores externos, entre outros. Da mesma forma, mantém a integração e processos fluídos e operantes para toda a cadeia.

Captain (Capitão, Líder)

Ao falarmos de tripulações, automaticamente vamos trazer o papel do Capitão: essa pessoa é o contato principal com o mundo exterior e ela tem a responsabilidade final pelo que quer que aconteça na jornada (semelhante ao Product Owner do Scrum). 

Nem pense que o capitão é aquele que dá ordens a todos. Pelo contrário, no livro Turn the Ship Around, de David Marquet – que é referenciado pelo autor do unFIX no artigo original -, ele explica que um bom capitão toma poucas decisões. Uma tripulação com bom desempenho sabe como se auto-organizar, e seus membros entendem suas responsabilidades. 

Uma tripulação pode ter algumas funções adicionais, como Líder de Produto, Líder Técnico, entre outras. Dependendo do produto e de suas dependências no mundo exterior, diferentes membros da tripulação podem gerenciar diferentes canais de comunicação. 

Na verdade, cada membro pode ser um líder em alguma área. Não há nada de errado com isso. Mas uma responsabilidade compartilhada é igual a nenhuma responsabilidade. A Base insiste que apenas uma pessoa seja responsável por como toda a Tripulação opera em sua jornada. Esse é o capitão.

Capitães

Importante dizer que o Capitão nunca tem responsabilidade de gerenciamento em uma Tripulação. Inclusive, esse é um princípio do Management 3.0 que eu referenciei no início, cujo autor é o mesmo que criou o modelo unFIX – ou seja, uma liderança ágil gerencia sistemas e não pessoas. 

Saiba mais sobre o management 3.0 

Dependendo do contexto da sua empresa, o papel oficial dessa pessoa pode ser gerente de produto, gerente de projeto, ou outros tipos de lideranças. 

Bases

A base deve servir como uma casa para os colaboradores, em que se tem um negócio autossustentável, formado por uma ou mais tripulações. Isso porque a base tem um modelo de negócios definido e focado no valor do cliente. 

Por isso, idealmente, a Base cobre um domínio de cliente, não um domínio técnico. É  semelhante a uma tribo no modelo Spotify e um Agile Release Train (ART), no Scaled Agile Framework (SAFe). No entanto, a cadência e a sincronização do trabalho são opcionais . 

Um trabalho crítico da Base é se reorganizar continuamente dependendo das necessidades da experiência do cliente. E sabemos que a estrutura organizacional está diretamente ligada à arquitetura do produto. Quando a arquitetura precisa mudar, a organização precisa mudar. Portanto, a Base faz todo o possível para apoiar suas tripulações a permanecerem flexíveis. Isso inclui cuidar dos padrões e regras mínimas para que seja o mais indolor possível.

Chiefs (Chefes, Gerentes, Executivos)

Os chefes da tripulação de Governança são os únicos gerentes em uma base. Isso porque a base precisa manter sua agilidade e versatilidade pelo maior tempo possível. E isso significa que a ideia é não ter gerentes ao longo da base. O maior erro que as empresas cometem é adicionar gerentes quando não há necessidade disso.

Dado que todos na base têm um chief como seu gerente, e que estes na tripulação de Governança têm um alcance limitado de controle, eles precisam resolver o problema de escalonamento. 

No início, eles podem adicionar alguns chefes à equipe, mas a equipe de gerenciamento não deve crescer muito. Mas depois de um tempo, a Base terá que se dividir quando crescer muito. A escala é alcançada dividindo o trabalho horizontalmente entre as Bases, não adicionando camadas de gerenciamento verticalmente.

Forum (Fórum, Chapter, Guilda)

Nos Fóruns, as pessoas discutem conhecimento, trade-offs e oportunidades que servem ao bem maior da Base. Às vezes, as formas de trabalho precisam ser sincronizadas. Além disso, ferramentas e tecnologias podem precisar de padronização. Isso nem sempre é fácil, mas para tornar o lugar habitável para os integrantes, e a autonomia dos membros deve ser compensada com as necessidades do todo. 

Outro ponto fundamental é que não há gerentes nos Fóruns. Para garantir a agilidade e versatilidade da Base, deve ser fácil criar e dissolvê-los. E isso nunca acontecerá quando um gestor sentir que o Fórum é seu território.

Chair (Moderador, Speaker)

Quando sua Base tiver Fóruns, será necessário alguém gerenciando suas reuniões. Essa pessoa é o Moderador. No design organizacional versátil, como os capitães das tripulações, os moderadores não são gerentes de seus fóruns. Isso torna seu papel consideravelmente diferente dos gerentes de organizações tradicionais.

Um exemplo prático é um Fórum de UX (user experience), por exemplo. O moderador do Fórum coordena as reuniões dos designers de UX e os incentiva a encontrar consistência nas formas de trabalhar entre as tripulações das quais fazem parte.

Turfs (Áreas, Territórios)

Para desenvolvermos organizações exponenciais precisamos deixar velhos costumes para trás, certo? Mas ao mesmo tempo, precisamos cultivar e guardar aquilo de bom e fundamental que criamos até aqui. Até porque cada organização tem sua história, desenvolvimento e algumas bases precisam ser mantidas.

Turf é uma área cultivada e protegida pelas mesmas pessoas. Pode ser uma base de código, uma área de produto, uma máquina, uma casa ou um distrito da cidade que um grupo de pessoas cuida coletivamente. 

Para um corpo de bombeiros, seria seu prédio e equipamentos. Para uma tripulação de avião, seria o avião. Para uma equipe de software, seria a base de código e a tech stack (que é a lista de todos os serviços de tecnologia usados ​​para construir e executar um único aplicativo)

O conceito de um Turf também desempenha um papel crucial quando se discute um reagrupamento dinâmico. Quando as Tripulações se reorganizam dentro do mesmo território, haverá pouco ou nenhum impacto em sua produtividade, porque todos devem estar familiarizados com toda a área.

Leia também: Mais do que produtos e serviços, você precisa da inovação em modelo de negócios

Há mais de dois anos o mundo todo precisou parar por conta da pandemia, e repensar a forma que as organizações agiam e pensavam. Tudo mudou de maneira abrupta e exigiu (mais do que antes) das empresas, versatilidade e muita vontade de fazer diferente. Um exemplo de case na aplicação do unFIX é a fintech espanhola BBVA Next Technologies, especialista em soluções digitais e produtos inteligentes.

O modelo organizacional unFIX nos desafia a isso. Claro, a sua aplicação e entendimento pode ser um desafio, mas esses padrões e princípios podem ser moldados naquilo que sua organização precisa.

E claro, o céu é o limite!! Esse é o primeiro vislumbre de algo que pode se escalar e ser exatamente aquilo que você procura. Tenho certeza de que ouviremos falar muito do Unfix daqui para frente.
Por isso, fica o convite. Vamos conversar e entender mais desse mundo unFIX. Nós da Haze Shift estamos sempre prontos para explorar novos mundos e modelos de negócios.

Escrito por:

Maria Clara Risental Raicoski
Maria Clara Rizental Raicoski
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Atua na na Haze Shift na área de projetos e novos negócicos. Consultora de Gestão Ágil no Instituto Talanoa, de políticas públicas para o clima. Voluntária no UNICEF, Fundo das Nações Unidas pela infância e adolescência. Com experiência com educação empreendedora e políticas públicas para a juventude.