Se faltava algo em Londrina, agora a conta parece ter fechado. Segundo maior município do Paraná, polo nacional do agronegócio e 17ª melhor cidade para se viver segundo o Índice de Desafios da Gestão Municipal 2021, a cidade sede de uma das maiores feiras agro do país, a Expo Londrina, acaba de ganhar um novo hub de inovação: o CoCriagro.
Inaugurado dia 31 de agosto, o hub garantiu espaço nobre dentro do Parque da Sociedade Rural do Paraná (SRP), também conhecido como Parque Ney Braga, e deve ter a área física pronta até dezembro.
Mas os projetos já começaram, com uma meta ousada para a equipe do CoCriagro: o hub de inovação busca colaborar diretamente para a formação de um novo Parque Tecnológico, o SRP Valley, focado no agronegócio.
À frente do Hub CoCriagro está o agrônomo, empreendedor e inovador George Hiraiwa. Ex-secretário da Agricultura do Paraná e sócio da Value Group, ele conta que o convite para o secretariado partiu da então governadora Cida Borghetti, que o conheceu em uma visita na Expo Londrina de 2018. Foi “quase por acaso”, mas que valeu como reconhecimento por ajudar a formatar o ecossistema do agronegócio londrinense, mais conhecido como AgroValley.
Nesta entrevista, Hiraiwa mostra como a interação de um ecossistema de inovação gera resultados na prática, do reconhecimento como Polo de Inovação Agro junto ao Ministério da Agricultura à inauguração de uma antena móvel de 5G na cidade, até a formatação do Hub Cocriagro e os planos da consolidação de um novo parque tecnológico.
Equipe Haze Shift – George, você tem uma história conectada tanto com o empreendedorismo quanto com o agronegócio. Pode nos contar um pouco sobre como você uniu essas duas frentes e passou a trabalhar com inovação?
George Hiraiwa – Eu me formei em Agronomia na Esaslq USP de Piracicaba, em 1982. Durante o estágio eu já sabia onde queria desenvolver minha carreira. Então, catei meu canudo e fui para o Cerrado Mineiro, na região de Monte Carmelo, perto de Uberlândia, onde se estava se iniciando a conquista do Cerrado, principalmente na cafeicultura, que tinha se iniciado há uns 10 anos. Peguei esse início e fiquei lá até 1992.
Mas ainda em 1990 eu já tinha feito outra escolha em minha vida. Vim a ser um franqueado do McDonald’s na região de Londrina. Como meus dois irmãos estavam fazendo agronomia, eles ficariam lá [no Cerrado], e eu iria mexer com o comércio. Foi quando eu fiquei desenvolvendo os processos na vida empresarial.
Depois, em 2005, eu decidi mudar de novo. Eu vendi a franquia e comecei a empreender em vários outros negócios. Foi quando me veio a questão de investir no setor imobiliário, acompanhando oboom do setor, e montei uma consultoria junto com sócios, e fui o fundador do Sicoob cooperativa de crédito aqui em Londrina.
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Chegando mais perto de 2015, o Sicoob patrocinou um hackathon de mobilidade urbana. Foi aí que eu percebi o que estava acontecendo em Londrina, com movimentos junto ao Sebrae, ao Senai, ao arranjo produtivo local de TI e academia. Eu pensei e falei: “Olha, vamos fazer um do Agro? Há uns dois anos (2013) eu estive em Piracicaba e percebi uma digitalização chegando principalmente via agricultura de precisão”.
Então, em 2016, nós fizemos o primeiro Hackathon do agro dentro da Sociedade Rural do Paraná durante a Expo Londrina, a famosa feira de agronegócio. Depois viemos a saber que foi o primeiro hackathon estruturado do setor no país. Foi um sucesso, devido às proporções para o momento. Ali nasceu a startup Bart Digital, que recebeu um aporte milionário em 2017.
Em um segundo hackathon, nasceram mais cinco ou seis [startups] de IoT (Internet das Coisas, em Português), pelo skill de Londrina na área de tecnologia.
Vimos, então, que o negócio era mais sério do que a gente pensava, e montamos uma aceleradora na Sociedade Rural para impulsionar esses jovens.
E imagino que esses novos passos sempre aconteciam a partir de novas conexões, não?
Sim, durante o Hackathon da Expo Londrina de 2017 nós fizemos um painel: Londrina, Piracicaba e Cuiabá. De Piracicaba veio como representante o Sergio Barbosa da EsalqTech, e de Cuiabá veio o Daniel Latorraca da AgriHub, que é liderada pela Famato (Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Mato Grosso).
Já em 2018, fizemos o terceiro hackathon. Foi quando passou pelo pavilhão de exposições a então governadora Cida Borghetti. E ela gostou muito da nossa governança, que se chama AgroValley, e que vai além do agro. A Fundação Certi, de Florianópolis, fez um estudo com a gente e apontou seis ecossistemas em Londrina: tecnologia, agro, saúde, metalmecânica, construção civil e químico.
Pela natureza local, o agro logicamente se deu super bem. Saúde também está indo muito bem. E TI já estava estruturada há alguns anos.
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Então, essa estruturação de ecossistema chamou a atenção da governadora, que me pediu para ser o secretário da Agricultura, e eu aceitei por oito meses para deixar essa semente da inovação agro no estado como um todo.
E também organizamos, em 2018, o Agro BIT, um grande evento em que mostramos as inovações do agro. Isso foi realizado com a curadoria do Agro Valley, que, como eu disse, é a nossa governança.
Aí, em 2019, aconteceu outro fato muito interessante. Durante a Expo Londrina, em abril, a ministra da agricultura, Teresa Cristina, fez uma visita e teve o mesmo sentimento da [ex-]governadora. Ela disse: “Como vocês estão organizados e com o ecossistema unido e todos trabalhando em parceria. Eu vou nomear vocês como polo de inovação agro do Ministério da Agricultura”.
Nós aceitamos o desafio e, em novembro, durante a Agro BIT 2019 ela voltou e assinou a chancela de Polo de Inovação Agro do Mapa para o nosso ecossistema de Londrina. Essa é uma outra conquista.
Ainda em 2019, outro ponto importante foi que, com a evolução das startups que surgiram em 2017, fizemos um grande esforço durante todo o ano para que elas ganhassem cada vez mais mercado.
– Mas em 2020 veio a pandemia. Com tantos eventos, como vocês conseguiram se reorganizar?
Quando veio a pandemia, pensamos: o que faríamos sem hackathon, sem Agro BIT? Bom, o Agro BIT foi realizado na forma digital em novembro de 2020.
Mas em um ecossistema como a AgroValley, são 40 pessoas que traçam a estratégia do que a gente pode olhar pela inovação. E vimos que em Londrina estava faltando um Hub. Olhei para o lado, e percebi que já tinham 15 no país. Estava pipocando hub para tudo que é lado: Bahia, Rio Verde (GO), Goiânia (GO), Belo Horizonte (MG), Porto Alegre…
Nós precisamos entender que hub é um instrumento privado que conecta startups com as empresas, e as empresas com a Academia, e também a Academia com as Startups. É um espaço de convivência, onde se criam várias formas de compartilhar e criar.
Mas um hub que tenha um ecossistema tão forte como o nosso por trás, acho que acontece em muitas poucas cidades. Então, se não tiver um ecossistema consistente e apoiando, a sobrevivência é mais árdua. E esse é o grande desafio hoje para manter hubs em pé.
Foi quando nós, em 2021, lançamos uma iniciativa, dia 31 de agosto, com um processo para reformar um espaço dentro da Sociedade Rural e termos lá dentro o Hub Cocriagro.
– Muito legal. E como vocês estão montando essa estrutura da Cocriagro como um novo hub de inovação em Londrina?
O Hub Cocriagro deve ter a parte física em meados de dezembro (de 2021), Mas a parte de inteligência e estratégia, nós já estamos executando. Temos duas empresas: uma multinacional japonesa e outra empresa centenária do agronegócio no Brasil com quem estamos implementando alguns trabalhos para que se formem grupos, departamentos de inovação e centros inovadores dentro dessas empresas. É um desafio muito gostoso porque podemos realmente sentir, ao longo desses últimos cinco anos, a nossa contribuição para as empresas e para o agro.
– Além do Hub Cocriago, recém-lançado, poderia detalhar um pouquinho mais sobre como funciona a governança da Agrovalley?
Tudo começou com a Sociedade Rural do Paraná (SRP), que é uma entidade de pessoas que trabalham com o agronegócio. Uma cooperativa pode ser sócia da SRP, assim como eu posso, e também a Belagrícola – que é uma grande empresa. O seu João dono de uma pequena propriedade pode ser sócio. Todos que trabalham com o agronegócio podem ser sócios da SRP. Paga-se uma anuidade para usufruir de todas as benesses, incluindo 50 hectares dentro da cidade de Londrina. É um patrimônio monstruoso.
Com essa estrutura, a SRP propiciou o início das atividades do ecossistema de inovação agro em Londrina.
Com a organização e o crescimento desse ecossistema, nós nos organizamos em um grupo de 40 pessoas e nós a denominamos Agrovalley como uma governança. Então, a Agrovalley é a governança do ecossistema de Londrina, e que utiliza as instalações dentro da SRP. Por exemplo, as reuniões físicas eram todas lá.
Então, em algum determinado momento, sentimos que o Parque SRP precisava de uma vida, principalmente nesses últimos dois anos. Foi quando começamos a pensar o que poderíamos fazer dentro do Parque. Mas para fazer o Parque ser tecnológico, nós tínhamos que ter uma âncora. E essa âncora é o Hub CoCriagro, que ficará dentro do Parque SRP, e será um chamariz de empresas.
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Vamos pensar em um exemplo prático. Estamos falando com uma grande empresa que transforma dados de Inteligência Artificial (IA) e os transforma em produtos e serviços. É uma empresa que vai entrar no HubCocriagro, vai ocupar uma sala de cinco lugares e, sem dúvidas, em um ano vai expandir e crescer para 10, 15, 50 funcionários, e pode precisar sair da sala.
Nesse momento, ao invés de a empresa sair da SRP, nós vamos ofertar para um novo espaço dentro do Parque SRP, porque lá tem vários barracões e casas que podem ser reformados. Com essa finalidade nós também batizamos o local como SRP Valley: ou seja, SRP Valley será o nosso parque tecnológico. Será um outro braço dentro da SRP, uma espécie de spin-off dentro da SRP.
Isso tudo vai conviver dentro do Parque. Ano que vem a exposição (Expo Londrina) deve voltar. E ela é realizada dentro do Parque. Mas nada impede que a SRP Valley se desenvolva, já que ela busca dar sustentabilidade para o Parque. Já que esse instrumento que utilizamos é usado 10 dias por ano durante a Expo, agora queremos que ele seja utilizado todos os dias do ano, servindo para uma causa nobre, que aliás é finalidade da SRP: defender o agronegócio.
– Ou seja, as empresas podem começar no novo Hub Cocriago e, com o crescimento, ocupar um espaço maior… Certo?
Sim. O hub Cocriagro será um inquilino, pegando um barracão dentro da SRP, pagando aluguel, mas que ficará pulsando lá dentro como âncora. Já tem empresas e startups tanto de fora quanto da cidade de Londrina negociando aluguel de espaços dentro do parque porque sabem que a Cocriagro será um grande chamariz.
– Você diz que Cocriagro será um inquilino, mas de onde virá a sustentabilidade financeira?
Será como todo hub que cobra por uso de espaço. Teremos 12 salas e vamos cobrar pelas salas. E também com oferta de serviços: os projetos de inteligência que faremos constantemente.
A parte física é um detalhe que estamos estruturando, mas já começamos como projeto de inteligência para atender principalmente algumas empresas que se associaram [ao projeto], como Coamo e Bayer e startups. Elas já estão usufruindo dos nossos serviços. Só na base de Londrina são 57 startups que estamos apresentando o CoCriagro. Outro exemplo é a Baldan, empresa centenária de implementos agrícolas, com quem fizemos a primeira parte de um trabalho e que em breve vão estar em condições de inovar ainda mais em seus produtos e serviços.
– E quais são esses serviços que o Hub Cocriagro oferece para empresas e startups?
Primeiro buscamos entender as dores que as empresas têm. E muitas vezes o problema não será resolvido somente pelas startups. Será resolvido pelas instituições de pesquisa, por professores e acadêmicos. Nós já temos parceria com a UTFPR e estamos finalizando com a UEL. Também já fizemos parceria com a Fealq, que é a fundação de estudos agrários da Esalq-USP, que fica em Piracicaba e já assinamos convênio. Ou seja, tudo isso vai acontecer, e não apenas com startups, mas com todos os membros da quádrupla hélice: governo, academia, empresas e social.
Agora, para as startups, vamos oferecer o caminho inverso. Desde a oportunidade de mentorias com agrônomos da Embrapa, da Emater, das universidades e das empresas parceiras. Essa interação que os hubs oferecem é muito interessante. É um universo em que todo dia estamos tropeçando em novas informações. E o mais importante é a questão da informação.
– E a maturação da ideia do Hub Cocriagro, pelo que entendi, já vinha acontecendo desde antes da pandemia, certo?
Sim, já vinha desde antes. O Hub Cocriagro é um fruto da Agro Valley. Porque são os debates que a gente fazia, são as estratégias que a gente montava. Aliás, teve também um grande empurrão que veio pelo Ministério da Agricultura como polo, que nos pediu para avançar na ideia do Parque Tecnológico. Mas para viabilizar tinha que ter o Parque, tínhamos primeiro que viabilizar o coração, que é algo que fica pulsando e que vai ser o chamariz.
Então, é uma ideia que vem desde antes da pandemia. Já sentíamos que precisávamos de um elemento como o hub para executar os projetos da Agro Valley. E a governança que eu digo quando falo em 40 pessoas é feita toda voluntária. Aqui nós somos voluntários. Quando acaba a reunião, cada um tem que voltar a defender seu negócio, sua profissão. Eu brinco que o que acontece dentro da Agro Valley é uma gestão dos sonhos coletivos. Por isso que tínhamos que ter realmente o Cocriagro: para que os projetos comecem a fazer sentido.
– Existe um plano de investimento em startups com participação nos ganhos a partir do CoCriagro?
A priori não. Na SPR Valley existe a aceleradora, que embora estejamos olhando para algo consistente. Pede-se um equity (participação) em 2%. Mas o Cocriagro quer ser um hub realmente para fazer a ponte, e não de aceleração. Futuramente podemos até ter uma aceleradora dentro do hub, mas não será algo tocado pelo CoCriagro.
– Voltando especificamente para a questão das startups. Existe algum foco em para o desenvolvimento de novas startups ou será algo mais focado em startups que já estão, digamos, concebidas?
Essa é uma boa pergunta. Nós somos reconhecidos como um berçário nacional de startups. Esse é nosso principal ativo. Duvido que tenha no Brasil uma cidade do agro vertical com mais startups que Londrina, pois 57 nasceram em Londrina. Claro que a pandemia afetou bastante. Mas mesmo assim, em outubro, vamos fazer um hackathon virtual. Será uma experiência para dar continuidade.
E porque eu digo que Londrina assumiu essa posição? Primeiro, pelos ecossistemas que já estão fortalecidos: do TIC (Tecnologia da Informação e Comunicação), da metalmecânica, do agro… esse é o primeiro ponto. Em segundo lugar, além dos ecossistemas, quem participa? São os próprios ativos que estão conosco. A gente se conversa muito rápido. Falamos com agentes do Sebrae, Senai, e isso é importante para formatar o hackathon. Assim, damos continuidade.
Para isso, o berço da Academia é fundamental. Mas eu diria que startups de sucesso não nascem só na universidade. Vemos pessoas de mais de 30, 40 anos com grande experiência em um setor e que resolvem empreender. Isso está acontecendo demais.
E claro que tem os jovens, também. A última startup que recebeu um aporte de R$ 1,5 milhão foi criada por um guri de 21 anos que nem terminou a faculdade ainda. Isso é muito bacana. Ele é um ícone, e um grande incentivador para os jovens universitários começarem a sonhar. Lógico que ele teve que trancar o curso de Agronomia, mas quando foi ser acelerado, lá na Bahia, eu mesmo sentei com o pai e a mãe e falamos para ele: “Você vai ganhar dinheiro, buscar seu sucesso, mas termina a faculdade”.
– Quanto a parcerias com incubadoras, o que já é possível adiantar?
Em Londrina, existe a Intuel (Incubadora Internacional de Empresas de Base Tecnológica da UEL – Universidade Estadual de Londrina). Existia por aqui em Londrirna atambém a aceleradora HotMilk (atualmente baseada em Curitiba), que são parceiros, pode ser que voltem [a atuar na cidade] este ano. Mas a incubadora da UEL é muito interessante, tem boa estrutura, com pessoas extremamente capacitadas, e tem espaço. Ela não é vertical agro, mas acredito que tem espaço para empresas que queriam ir para o lado de alguma incubação específica.
– A Sociedade Rural também comenta muito sobre o tema Smart Farm. Como isso funciona e como vocês estão posicionados?
Na Sociedade Rural, nós chamamos de Smart Farm as startups que querem fazer trabalhos específicos, e as que buscam fazer trabalhos menores podem utilizar a estrutura dentro do nosso próprio ambiente [da SRP]. Agora, se uma startup precisa de uma área maior, tem fazendas como a Figueira, da Unifil, as áreas do Iapar (Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná ), da Embrapa, e de empresas como o Semegrão, da Belagrícola, e também a área da Integrada.
Veja que só aqui já citei sete. Eu diria que esse ativo faz parte do smart farm. Então, a ideia é sempre darmos o pontapé pertinho, pensando em locais que merecem área maior e escolher qual é o parceiro ideal para somar conosco.
Londrina é muito grande, é muito rica. A grande vantagem de Londrina é isso. E outra: dessas sete que eu citei, é possível chegar a cinco minutos de carro saindo da Sociedade Rural. Qualquer uma delas têm condições. Nós somos reconhecidos pela excelência na produção de grão, mas ao mesmo tempo olhamos também para valor agregado aos produtores pequenos, fazendo áreas hortifruti crescer, buscando indicação geográfica em regiões próximas, como a goiaba de Carlópolis, o morango perto de Ribeirão Claro, o café de Ivaiporã, o mel de Ortigueira.
– Você disse que são 40 membros na AgroValley. Quem compõe essa lista, em linhas gerais, e quem compõe o time do CoCriagro?
Temos órgãos do governo, como o IDR (Instituto de e Desenvolvimento Rural do Paraná), pessoal da Emater, da Universidade Estadual de Londrina, da UTFPR. Entre os entes privados temos representantes da Cooperativa Integrada, da Belagrícola, Agro100, Cobratec, a minha empresa Value Group. E instituições de pesquisa pública, como a Embrapa, e de pesquisa privada como GDM, TMG, IDM.
Além disso, startups não poderiam faltar, então lá estão algumas das mais adiantadas e com mais mercado. Também temos advogados sócios porque é bom termos esse tipo de pessoas, e uma consultora sensacional que faz trabalhos ESG, a Rosileine Rosado, que foi nossa “aquisição” mais recente. E é isso que é legal de um ecossistema, em que precisamos estar atentos sobre aonde o mercado está indo. E o mercado está exigindo cada vez mais sustentabilidade.
Mais recentemente, indústrias [passaram a integrar a Agrovalley], porque não queremos ficar só no agro. Então convidamos recentemente o Moinho Globo, e estamos convidando indústrias a fazerem parte dessa governança.
Já no CoCriagro temos um outro CNPJ, em que fazem parte eu, como líder, e outros dois sócios.
– Dos projetos que vocês fizeram tanto na Agrovalley quanto mais recentemente no CoCriagro, quais seriam os cases de maior destaque?
Olha, eu diria que nós temos facilidade para fazer hackathons. Mas veja que no último dia 12 de agosto, por exemplo, tivemos a inauguração de uma antena móvel de 5G como experiência. Fomos a única cidade do Sul do país a ter essa prerrogativa de antena, por uma articulação da Agro Valley juntamente com a Embrapa Soja de Londrina e o Ministério da Agricultura, uma vez que somos polo dela.
Ou seja, esse tipo de articulação é muito importante. O impacto que a gente consegue realizar junto ao mundo do empreendedorismo. Esse vai ser um case importante para a gente.
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Outro exemplo que sempre cito é a cidade de Assaí, aqui vizinha a Londrina. Eles têm um colégio técnico estadual fantástico, com um pequeno ecossistema. É uma garotada de 15, 16 anos que vem competir todos os anos no hackathon aqui em Londrina. E fazem bonito.
Por isso que eu falo que um ecossistema não depende de cidade, nem de potência. Depende de pessoas. Veja que o Estado deve ter vários colégios como esse de Assaí, mas duvido que tenha um que a comunidade abraçou o colégio como nesse município. E tudo começou porque um professor pediu para o diretor para ensinar lógica no contraturno, de forma voluntária. Aí iam os meninos que tinham interesse, como um do técnico em Agronegócio, outro de Mecânica, outro que fazia Elétrica, e começou a criar essa turminha por lá.
Por isso que a gente incentiva muito, na questão da Agronomia por aqui, a visão do novo agrônomo. Os alunos não podem mais ter a mesma grade de dez anos atrás. Hoje é fundamental ter noção de programação. Não vou dizer que um agrônomo tem que sair da faculdade como programador, mas alguns têm mais facilidade. E quem sai com esse skill, um agrônomo que sabe programar, é raridade. E esse cara deve estar ganhando uma fortuna. Porque uma coisa é ter a tecnologia, e outra é ter como seguir esse caminho. Eu particularmente tive várias experiências acompanhando startups em reuniões com a IBM e com a Oracle, por exemplo. E a gente com experiência de negócios consegue ajudar um bocadinho essa gurizada.
– E é até nesse sentido que um Hub como o CoCriagro é importante para incentivar o empreendedorismo local… Mas o que você acha que ainda falta na região?
Além de empreender, está bem claro para mim uma coisa. Quando nós começamos 2016 com hackathon, todo mundo achava legal startup na fazenda, fazendo mapeamento via drone e pulverização localizada. Mas o que todos precisam hoje? Precisam compilar esses dados. E tudo bem que daqui a dois anos pode ser que tenhamos IA vendendo até na esquina. Pode até ser que tenhamos mais de 300 pessoas [especialistas] em blockchain. Mas hoje não temos.
É por isso que estou batalhando para trazer empresas de análises de dados para Londrina. Isso vai elevar a régua e as exigências tecnológicas das startups, das empresas e da Academia.
São empresas que, se querem entrar no agrotech, acabaram de achar a “Serra Pelada” em Londrina. Não precisa nem de pá e picareta. Basta pensar em todo esse ecossistema que nós construímos, com todo mundo sedento de informação.
Aliás, sabe onde está o único hub de IA do SENAI? Aqui em Londrina. Logicamente, o Senai tem que atender todos setores. Mas 40% dos projetos são do agro, já que lá estão a Integrada cooperativa, a Bunge, a Klabin, a Cocamar. E quando vem uma empresa assim…
Mas enquanto hub de IA do Senai ataca projetos únicos, para empresas. Eu quero que a gente tenha uma estrutura que ataque para todos.
– Para finalizar, como você vê a Agrovalley e também o CoCriagro nos próximos anos?
A visão que eu tenho é que vamos fazer juntos todo um trabalho para que o SRP Valley se torne um parque tecnológico. Sendo um parque tecnológico, ele tem isenções tributárias estaduais e federais, e podemos prepará-lo para entrar em editais da ABDI (Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial), do governo, da Finep (Financiadora de Estudos e Projetos). Esse é um ponto.
A expectativa é que, com o Parque, estejamos pulsantes nos próximos anos com várias empresas da área de tecnologia agrícola. Nós não vamos colocar ali uma empresa de medicamentos, já que teremos outros espaços em Londrina para isso. O espaço SRP Valley será para a questão do agro especificamente.
Com o Cocriagro, eu espero em dez anos poder compartilhar as alegrias, e falar o quão bacana foi ajudar e contribuir para a inovação do agro acontecer. Se o Cocriagro fizer um pouco e outros fizerem mais um pouco nós poderemos alimentar os 9 bilhões de pessoas, que as pesquisas vêm prevendo. Esse é um desafio gigantesco, e eu não tenho dúvidas que só virá a acontecer por meio da tecnologia. E qual tipo de tecnologia? Sinceramente, o que nós podemos fazer pelo agro é na busca da eficiência e da sustentabilidade. Precisamos buscar isso junto com as agritechs e as foodtechs. E o Cocriagro quer ser esse espaço. Onde todos poderão compartilhar ideias e buscar a felicidade.
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