Em minha vida como consultor de inovação tive a oportunidade de conhecer vários métodos que auxiliam as empresas a fazer gestão. Nessa jornada, conheci uma abordagem para tomada de decisão muito efetiva. Ele se chama método Cynefin:  é um ótimo meio para gestão ágil de projetos e para entender o real contexto da inovação.

Em primeiro lugar, vale lembrar que metodologias ágeis aceitam a flexibilidade e a mudança de rotas em projetos. Mas o que é o Cynefin? O que ele tem de diferente? Além de auxiliar em decisões rápidas quanto para avaliar as necessidades de novos projetos, ele apresenta um quadrante muito útil, chamado Cynefin Framework, que ajuda a dar significado para situações de forma que possamos guiar mais efetivamente nossa abordagem de tomada de decisões e de gestão. Para explicá-lo, vale resgatar um pouquinho da história do autor do modelo.

Quem criou o Cynefin Framework?

O consultor de inovação Dave Snowden trabalhava na IBM no fim dos anos 1990. Graduado em Filosofia, ele pesquisava sobre o uso de histórias (storytelling) nas organizações para favorecer a gestão de conhecimentos tácitos, ou seja, de difícil expressão. Ele percebeu que alguns contextos favoreciam a compreensão de certas situações, e criou o Cynefin Framework.

Ele verificou que os tipos de tomadas de decisão dependem do contexto do atual ambiente corporativo e as dificuldades de cada momento. Em outras palavras, para cada caso existe um contexto que, se identificado, facilita a tomada de decisões. Vamos entender isso melhor? Primeiro, veja esta imagem:

Ilustração de Martin Berg baseada na interpretação de Rob Englands; presente no livro “Cynefin — Weaving Sense-making into the fabric of our world” de Dave Snowden, Cognitive Edge

Parece confuso? Então entenda melhor comigo como funcionam são quatro contextos do Cynefin Framework:

Caótico

Agora vamos pensar em uma situação inusitada envolvendo risco, como uma casa pegando fogo. O que você faz em um ambiente assim? Vai em busca de uma boa prática ou age imediatamente, com seus próprios conhecimentos, para apagar o fogo?

Isto é o que a gente chama de inconcebível e precisa de intervenção imediata, sendo preciso agir primeiro. Ocorre, por exemplo, em empresas que se veem envolvidas em uma crise súbita. Além disso, ademais de acionar pessoas para salvar vidas, há todo um trabalho dos especialistas de imagem e comunicação para contornar o caso.

Simples

Agora vamos para o ambiente simples do modelo Cynefin. Assim como o ambiente complicado, ele é mais linear e tende a ser mais gerenciável conforme as expectativas.

Por exemplo, se sua empresa é uma metalúrgica que produz partes de bicicletas, e um novo cliente surge, em outra cidade, pode ser que você tenha que ter uma nova planta para atender à demanda que surgiu.

Nesse sentido, será mais simples você utilizar conhecimentos internos e adequar as melhores práticas de sua outra fábrica para que a engenharia seja eficiente. É uma relação de adequação de padrões já conhecidos. Isso, claro, não impede que você busque meios de melhorar a inovação nos processos.

Complicado

Muita gente pensa que complicado e complexo são iguais. Primeiramente, entenda: são coisas diferentes. O ambiente complicado é aquele que normalmente responde bem a um plano de ação onde especialistas são requisitados e implantam soluções.

Um bom exemplo é a paralisação de um site por excesso de acessos em uma Black Friday: você precisa da intervenção de um analista de TI para resolver. Além disso, o ambiente complicado tem essa caraterística de análise-resposta de um problema. Precisa de um especialista, geralmente, pronto para agir. As metodologias clássicas de gestão, plano de ação, estão baseadas nisso.

Complexo

Aqui sim entram projetos com alto potencial de inovador. Enquanto o ambiente complicado tem uma demanda que pode ser resolvida com especialistas, projetos inovadores são mais imprevisíveis, pois um ambiente complexo é caracterizado pela possibilidade de diversas soluções possíveis. Nesse sentido, aqui vale o seguinte ditado como reflexão:

“O que torna belo o deserto é que ele esconde um poço em algum lugar.” (Saint-Exupéry)

Não à toa, a premissa de atuar em contexto complexo segue o processo de decisão no sentido de sondar— perceber— responder. Portanto, o que se mostra mais adequado ao trabalho em contextos complexos é a experimentação. Dentro de um domínio que possui muitas possibilidades, a criação de múltiplos (distintos e pequenos) experimentos gera a criação de opções válidas para atuação. Esse processo fomenta a cultura da inovação.

Leia também: O que é metodologia ágil por que ela faz parte da receita de sucesso em projetos de inovação

O miolo da desordem ajuda a entender para que serve o Cynefin

Se você observar a imagem alguns parágrafos acima, perceberá um miolo entre os quadrantes. Esse miolo nos ajuda a entender ainda melhor para que serve o Cynefin: ele é uma transição de modelos em que sua empresa pode ter que lidar com versões simultâneas de ambientes de complexidade, ou seja, você trabalha ao mesmo tempo em contextos diferentes.

O que eu quero dizer com isso é que pode ter o caótico, o complicado, o simples e complexo ao mesmo tempo. Por exemplo, crises são parte do ambiente caótico. Mas elas podem ser gatilhos para trabalhar, paralelamente, a inovação, característica de um ambiente complexo.

Pense comigo: se um local pegou fogo, qual será seu aprendizado para não pegar fogo novamente? Ou melhor, sua empresa já tem um plano de governança para gestão de crises? Quem seriam os parceiros adequados para pensar num novo plano, buscando inovação?

Bom, a resposta não é algo pronto. Você precisará buscá-la, pois após o fim do incêndio você ainda se encontrará em um ambiente complexo. Isso é representado pelo miolo da desordem, transitando do caótico para o complexo.

Isso também pode acontecer, por exemplo, na transição do complicado para o complexo. Se você sempre precisa acionar um técnico de TI para resolver um problema de sobrecarga do site, será que isso não representa um ambiente complexo, que exige uma inovação de processos, para evitar que aconteça repetidamente? Claro que este é um exemplo simples, mas vale a reflexão.

Comunidades de inovação podem ajudar

Nós da Haze Shift criamos, por exemplo, uma comunidade de inovação envolvendo toda uma operadora de planos de saúde com interações, por exemplo, com startups para oferecer soluções a clientes pessoa física e jurídica, por entendermos que o ambiente de promoção de saúde é altamente variável e complexo.

Como o ambiente exige mudanças constantes, fizemos um hunting de startups que se mantém permanente conectada com as pessoas-chave da operadora. Essa comunidade constante com possíveis fornecedores favorece a melhoria de produtos, serviços e também dos processos da empresa.

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Agora eu pergunto: você consegue identificar em que ambiente está, atualmente, sua área ou projeto em que você está envolvido em seu trabalho? É simples, complicado, complexo ou passa por uma situação caótica?

Nós da Haze Shift podemos ajudar sua organização a responder a essa pergunta e a criar um planejamento à luz da inovação que desenvolva soluções para tornar ambientes complexos ou caóticos em uma rodovia com vários atalhos e caminhos para facilitar a chegada em seus objetivos.

Referências

Escrito por:

Digital Transformation Leader & Co-Founder de Haze Shift | + posts

Certified facilitator of LEGO® SERIOUS PLAY® & Digital Transformation Enabler with a demonstrated history of working in the information technology and food & beverages industry.