Mesmo com a pandemia, o mercado de startups no Brasil está em franca expansão. Segundo o Inside Venture Capital Report, da plataforma de inovação Distrito, foram US$ 3,2 bilhões em investimentos nessas empresas até maio de 2021 – 90% do total de 2020. E se existe algo importante para fazer deste meio é entender o processo de aceleração de startups e como funciona a pré-aceleração.

Tanto empreendedores quanto empresas e investidores precisam estar ligados nas diferenças entre essas frentes. Os empreendedores para emplacarem suas ideias, as empresas para potencializar seus negócios com inovação aberta, e os investidores para direcionarem ainda melhor seu capital. Vamos começar!

Antes de tudo

Vale lembrar que nem todas as novas empresas são startups. Por mais que não exista uma receita de bolo, vemos no mercado de inovação algo consolidado para entender o que é startup: são empresas em fase inicial que desenvolvem produtos ou serviços inovadores para rápido crescimento.

Esses novos empreendimentos podem ser de diferentes áreas, mas geralmente oferecem serviços repetíveis e escaláveis, partindo de um modelo de negócios de incertezas. Para mitigar erros, uma startup segue basicamente a modelagem negócios do design estratégico, pois assim ela pode prototipar, testar e validar seu produto rapidamente. E para isso, antes de acelerar, é preciso pré-acelerar. Vamos entender isso melhor?

Diferença entre pré-aceleração e aceleração de startups

Quando um negócio ainda é incipiente, e o empreendedor tem uma ideia, ou identificou uma dor presente em empresas ou na sociedade, este é momento do processo de pré-aceleração de startups.

Mesmo que ainda não tenha nada estruturado, pelo menos a dor precisa existir. Essa estruturação começa entendendo quais são as principais diferenças entre programas de pré-aceleração e o processo de aceleração de startups:

  • Na pré-aceleração é o momento de desenvolver o modelo de negócio. Existe uma fase de descoberta, definição e geração de ideias, podendo incluir as primeiras versões de protótipos e testes. Pode haver um tutor dedicado ao projeto, além de mentores para temas específicos ou técnicos. Também é incentivada uma rede de contatos (networking), proporcionando todo um ecossistema de inovação e validação;
  • Na aceleração é o momento de realizar as primeiras vendas e parcerias estratégicas. Aqui a startup já trabalha com MVP (Produto Mínimo Viável) e testes mais avançados, e busca por captação de recursos, fazendo a validação do negócio. A startup também tem tutor, mentores e faz networking com parceiros.

Mas isso é apenas o básico. Chegou a hora de entender mais a fundo:

Programas de pré-aceleração de startups: como fazer 

Ao identificar uma dor ou ter uma ideia, os empreendedores precisam planejar o início do negócio. E é para isso que servem os programas de pré-aceleração de startups. Nós da Haze Shift, por exemplo, costumamos ser contratados para implementar esse processo em empresas e programas dispostos a inovar junto a startups.

Nossa proposta é de duração de oito semanas. Ao serem aceitas, as startups têm a companhia de tutores para fazer o acompanhamento de todo o processo de pré-aceleração, e quando precisam resolver assuntos mais técnicos, os programas disponibilizam uma rede de mentores. Em resumo, propomos quatro fases, com duas semanas cada:

Módulo I – Mercado

Nesta etapa os empreendedores buscam entender o terreno em que estão pisando, os valores a serem entregues com o projeto, seus concorrentes e o tamanho do seu mercado. A solução serve a um município, ao país ou ao mundo? Quais as regras que regem o mercado? Quem são os concorrentes diretos e indiretos? Uma forma de análise de mercado que propomos é pela Análise Swot, ou Fofa em português. Veja um exemplo:

Módulo II – Modelo de Negócio:

Esta etapa é a base do desenvolvimento estratégico da empresa. É o momento de definir como o produto será divulgado, como a startup fará para chegar ao cliente. Também se definem as fontes de receitas, parcerias, estrutura de custos, etc. Além disso, o empreendedor precisa conhecer e conversar com clientes em potencial já nesta etapa. Uma ferramenta útil que nós da Haze Shift recomendamos é o Canva do Modelo de Negócio.

Módulo III – MVP e Preço

É muito importante dedicar duas semanas para trabalhar com certa folga esses dois elementos. O preço do produto ou serviço será determinante na sustentabilidade do negócio. Já com o Produto Mínimo Viável (MVP na sigla em inglês) a startup identifica o mínimo que precisa entregar para que o cliente receba o valor prometido no modelo de negócio.

Módulo IV – Go To Market:

Com o MVP e uma primeira versão de preço, chegou a hora de fazer o primeiro teste em campo, ou seja, testar com um cliente. É o momento de evoluir o produto mínimo viável e preparar para acelerar a startup.

Nós utilizamos recentemente esse modelo de pré-aceleração, por exemplo, no programa de inovação aberta Inova-San, da Nissan, onde conseguimos fazer com sucesso a pré-aceleração de startups universitárias do Sul Fluminense nos temas: meio ambiente, mobilidade inteligente e saúde. Saiba mais sobre o projeto e confira abaixo o momento em que a startup se prepara para se tornar adulta, ou seja, vira maior de idade.

Processo de aceleração de startups: como fazer

Agora chegou a hora de ir além. Nesta nova etapa, também de geralmente oito semanas, o ideal é que a startup tenha todo o modelo de negócios validado. Em outras palavras, é importante já ter em mãos o desenvolvimento da identidade corporativa e um início de MVP para validar esse produto mínimo viável. Confira, em resumo, o que é processo de aceleração de startups:

  • Os mentores são, principalmente, especialistas da área do negócio proposto. Essas mentorias vão colaborar para o aperfeiçoamento do produto;
  • É aqui que o produto ganha forma. Por isso, quanto mais validações de testes e aperfeiçoamentos de protótipos, melhor para a startup e para o cliente.
  • O processo de aceleração de startups é ainda mais forte no que se refere a relacionamento e networking. A empresa precisa buscar stakeholders de peso para formalizar parcerias – como fornecedores, por exemplo, e parceiros para canais de vendas e distribuição logística, quando se tratar de produtos físicos. Isto é chamado de matchmaking;
  • O produto precisa começar a rodar, por isso, no mínimo um cliente é necessário. Isto é fundamental para convencer investidores a apostarem no negócio;
  • Tem início a captação de fundos para investimentos na startup.

Este último tópico que mencionei é um dos mais difíceis. Em meus anos como consultor de inovação, percebi que muitos empreendedores tentam vender a ideia como um todo. Contudo, os investidores dão muito mais foco na capacidade de execução da equipe, pois é nela que o investidor vai apostar seu dinheiro.

Afinal, o investidor vai olhar questões técnicas, como orçamento, potencial de lucro, precificação, margem de retorno, mas sobretudo ele quer ter a certeza de que a equipe da startup será capaz de executar sua proposta.

Com a palavra, o investidor

Nesse sentido, as startups precisam mostrar fortemente os planos operacionais e de custo de aquisição de clientes, por exemplo. Para que você entenda isso ainda melhor, eu convidei o investidor Marco de Biasi, da Latin American Angels Society (Laas), para nos mostrar quais são as características que um investidor leva em conta nos processos de aceleração de startups:

  1. Buscamos um empreendedor totalmente focado no empreendimento
  2. Preferência pela existência de pelo menos um co-founder;
  3. Cap table (tabela de descrição dos acionistas) limpo, ou seja, sem muitos sócios atuantes; 
  4. Robusta pesquisa em relação ao mercado/dor existente/ concorrentes/players/;
  5. Visão prudencial de 12 meses, com objetivo de vendas razoáveis;
  6. Visão ousada para 2 a 3 anos. 

Alguns exemplos e dicas para seu próprio processo de aceleração de startups

Caso você seja um executivo ou empresário que está em busca de startups, e avalia que tem o potencial para bolar seu próprio programa, estas dicas são para você. Primeiramente, parabéns pela iniciativa! Mas antes de começar, afinal, você sabe quem já oferece processos de aceleração de startups no Brasil?

Há editais de governo, de empresas público-privadas, comunidades de inovação, universidades com suas próprias aceleradoras. É nelas que você precisa se inspirar. Portanto, faça um bom benchmarking, ou seja, um estudo das melhores práticas. Além disso, recomendo que você responda a três questões:

Claro que você pode precisar de auxílio para responder a essas perguntas, e nós da Haze Shift podemos ajudar nesse brainstorming. Mas podemos adiantar alguns bons exemplos de programas e processos de aceleração de startups:

InovAtiva

O InovAtiva Brasil existe desde 2013 é organizado em parceria pelo Sebrae, pelo Ministério da Economia e pela Fundação Centros de Referência em Tecnologias Inovadoras (CERTI) para todos os setores. Já foram mais de 2 mil empresas capacitadas e quase 1 mil apresentaram soluções a bancas com investidores. Leia mais sobre a edição 2021.

Cietec

Desde 1998, o Centro de Inovação, Empreendedorismo e Tecnologia (Cietec) apoia o empreendedorismo e a inovação, e faz a gestão da Incubadora de Empresas de Base Tecnológica de São Paulo USP/Ipen – Cietec. As empresas passam por um processo de aprovação e passam por pré-incubação, incubação e pós-incubação. Saiba mais

Founder Institute

O Founder Institute é o maior programa de aceleração de startups do mundo e já auxiliou mais de 5 mil empresas em mais de 200 cidades, incluindo o Brasil. Temos orgulho de dizer que um dos projetos vencedores do Inova-San 2020, que nós da Haze Shift apoiamos, se formou em primeiro lugar do capítulo Founder Institute São Paulo – edição Summer 202. Inclusive, nós nos tornamos parceiros do  Founder São Paulo através do Inova-san. A startup em questão é a Safe Speed System. Clique para conhecer o projeto e assista um vídeo que explica a empresa:

Por fim, quero finalizar esse texto com uma provocação: como evitar que um processo de aceleração de startups não caia na armadilha de apenas virar uma rede de contatos, tornando-se mais um co-working (que também é uma maneira incrível de fazer negócios, diga-se de passagem)?

Na minha visão, todas as etapas aqui mencionadas precisam ser seguidas. Além disso, conhecer o mercado, identificar suas dores, buscar referências, conversar com empreendedores que passaram pela pré-aceleração e posterior aceleração são elementos cruciais.

Portanto, eu sinceramente recomendo que você, seja executivo, empreendedor ou mesmo investidor, conte com ajuda especializada de uma boa consultoria de inovação aberta. Por falar nisso, vamos conversar?

Crédito: Imagem de topo deste texto: Matheus Bertelli no Pexels.

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Designer estratégico, empreendedor, gestor de comunidades e com experiências em programas de pré-aceleração e aceleração. Sempre aberto a novos aprendizados e projetar novas soluções que agreguem valor ao negócio e à sociedade.