Um dia desses procurei alguém que não sofre de sobrecarga de informações. Não encontrei ninguém. Aliás, eu acho que nunca encontraria, ainda mais com a sobrecarga de informações que vivemos. Foi então que mudei meu pensamento e busquei dicas sobre processos de aprendizagem.

Nessa jornada, eu me deparei com o livro Design for How People Learn:  Design de como as pessoas aprendem. O livro da consultora e designer Julie Dirksen me parece a maneira ideal para entender como o chamado design instrucional é importante para aprendermos e ensinarmos coisas novas. No universo corporativo isso é essencial para criarmos uma verdadeira cultura de inovação, onde é preciso criar e ensinar ao mesmo tempo.

Basicamente, o design instrucional nos ajuda a estruturar, desenvolver e repassar conteúdos de valor a nossos colegas, das mais diversas formas. Inclusive como despertar interesse nos colegas para aquilo que estamos falando.

#08 Podcast Design de como as pessoas aprendem ou Design for How People Learn

Você também poderá conhecer um pouco mais sobre o livro Design for How People Learn neste post e em um podcast que eu gravei com os colegas Luiz Henrique Costa, host de nossos podcasts Hazeliente, a Helena Merk, head da comunidade Inovadores Inquietos; Eduardo Martyres, da área de Design e Oficinas da Haze Shift, e a Gabriela Garcia, da área de projetos. Ouça:

Processos de aprendizagem: vamos por partes

Primeiramente, eu vejo como essencial neste resumo do livro Design for How People Learn explicar o que a autora chama de lacunas de aprendizagem. Isto é, identificar as dificuldades para uma pessoa compreender um tema ou executar um processo. Com a autora, reforcei algo que desconfiava sobre como a tecnologia e o ambiente que vivemos são barreiras para os processos de aprendizagem. Mas elas não são as únicas.

Enquanto alguns estudantes ou mesmo colaboradores podem ter déficit de conhecimento para exercer seu trabalho, outros precisam desenvolver habilidades práticas. Outros podem ter problemas de motivação, por exemplo. Nesse sentido, acho importante destacar, primeiro, duas lacunas dos processos de aprendizagem:

  • Conhecimento: Essa lacuna se refere à falta de informações para realizarmos ações. Vamos trazer o pensamento para o ambiente corporativo. Bons vendedores precisam conhecer o produto que estão vendendo e, em vários casos, precisam conhecer seu cliente para vender seu peixe. Da mesma forma, conhecer matemática é essencial para a negociação de valores. Ou seja, mesmo que o vendedor tenha todas as habilidades de técnicas de vendas, isso pode ser insuficiente se faltar determinados conhecimentos, como os da matemática por exemplo..
  • Habilidades: O que é necessário para alguém ser proficiente em algo e quais são as oportunidades para praticar? Sempre que é preciso prática para colocar o conhecimento em ação, temos uma barreira de habilidade. Aqui o conhecimento teórico e equipamentos não bastam. Por exemplo, como um cirurgião pode executar seu trabalho apenas com conhecimento teórico? Ele precisa de treinamento prático. Assim, como destaca Julie Dirksen, ter uma habilidade é diferente de ter conhecimento. Mas pessoalmente ouso dizer que o grande segredo para as pessoas aprenderem é experimentando. Não basta só conhecer: é preciso experimentar, prototipar, testar, o que é uma base para a inovação destaca nos princípios de design estratégico para a modelagem de negócios.

Barreiras de ambiente e de comunicação

Entre as lacunas de aprendizagem, também é importante destacar dois fatores apresentados no livro Design for How People Learn. Uma está bem conectada à outra; confira:

  •  Ambiente: Será que o ambiente de trabalho está realmente adequado para o aprendizado? Nas oficinas de design que promovemos na Haze Shift, por exemplo,  buscamos fazer as equipes se sentirem à vontade e terem o conhecimento (olha aí a primeira lacuna de novo!) para a proposta de trabalho, geralmente conectada à execução de novas ideias ou propostas inovação. Quando a oficina é presencial, até a potência e o barulho do ar-condicionado interferem. Quando ocorrem workshops remotos, por exemplo, o organizador pode enviar materiais adicionais (como Legos) para criar um ambiente criativo, e viabilizar a prototipação, afinal a prática leva ao aprendizado. Leia mais sobre como fazer workshops online com meu colega e sócio Marcos Daniel.
  • Comunicação: Esta lacuna de aprendizagem está conectada, e muito, ao ambiente em que o aprendizado é proposto. Para tornar objetivos claros, obviamente, é preciso comunicação precisa. Desafios de inovação aberta, por exemplo, oferecem ferramentas para os participantes – além de se comunicarem – produzirem conteúdos e focarem no objetivo de comunicar inovações. O que eu quero dizer com isso? Que a comunicação precisa ser clara entre emissor e receptor e ocorrer em duas vias: ou seja de quem faz a comunicação e confere o entendimento do receptor promovendo um diálogo entre as partes. Da mesma forma quando um publicitário recebe um briefing incompleto, vai entregar uma proposta incompleta se ele não procurar entender melhor o briefing com o cliente.  

Os processos de aprendizagem da motivação e do hábito

Muitas vezes pensamos que professores chatos são os culpados por determinadas falhas de nosso aprendizado. Eu sou professor universitário e quero fazer uma defesa da categoria: será que o problema está apenas no professor ou você não encontrou um motivo para se aprofundar no conteúdo?

O professor tem a obrigação de ajudar você a encontrar sentido para o conteúdo, mas muitas barreiras dependem mais do indivíduo quanto, formando as seguintes lacunas dos processos aprendizagem:

  • Motivação: eu adoro falar sobre essa lacuna de aprendizagem, pois às vezes a observamos em oficinas de design thinking e workshops que nós da Haze Shift fazemos para clientes. Muitas vezes nos deparamos com gestores, palestrantes e professores com altíssimo grau de conhecimento, que sabem transmitir bem e tem energia. Por outro lado, temos um público de estudantes que não tem interesse ou motivação para acompanhar. Então, não faz diferença o quanto de bom é esse professor, temos aqui uma lacuna de motivação, o que torna o aprendizado muito desafiador. Isso acontece porque as pessoas não veem razões para aprenderem, dando de cara com uma barreira motivacional. Elas precisam entender por que determinado aprendizado é relevante para sua carreira ou vida.
  • Hábitos: Alguns hábitos – como checar o email a cada 30 minutos – precisam ser desfeitos. Outros – como dedicar 5 minutos do dia para fazer uma lista de tarefas, por exemplo- precisam ser introduzidos. O fato é que muitos hábitos não exigem grandes habilidades, mas certas tarefas precisam ser colocadas em uma rotina. Especialmente na pandemia, quando o trabalho remoto foi multiplicado, as equipes precisaram estabelecer novos padrões, o que inclui a gestão de tempo, a desconexão do bombardeio de informações inúteis (como grupos de WhatsApp). Aqui nos deparamos com o gerenciamento do tempo baseado em produtividade, quando pequenos comportamentos podem ser prejudiciais. Nesse sentido, o bests seller O Poder do Hábito, de Charles Duhigg, é uma boa dica de leitura.

Motivação intrínseca e extrínseca: criando valor para o trabalho

Agora peço licença para seguir no tema motivação e, quem sabe assim, convencer você a observar melhor essa barreira. Em seu livro, Julie Dirksen nos ensina que o aprendizado pela motivação intrínseca é aquele em que as pessoas sentem mais prazer, e estão propensas a destinar seu tempo, pois – além de geralmente gostar do tema – veem claramente uma experiência de aprendizado útil.

Mas e a motivação extrínseca? Essa tem a ver como o aprendizado por obrigação. Muitas vezes, alunos e colaboradores não veem sentido em algo, mas se veem obrigados a aprender certas tarefas ou adquirir certos hábitos para não serem punidos. Para exemplificar, vou contar uma história pessoal.

Leia também: Criatividade e inovação nas empresas, do design de Santos Dumont às ferramentas modernas

Para mim, estudar sustentabilidade e inovação é algo intrínseco, pois faz sentido e é algo estimulante. Mas tem algo que eu odiava quando [mais] jovem: a tal da Química. Realmente, era um parto. Eu não via sentido em estudar aquelas moléculas e ninguém nunca me mostrou como aquilo poderia ter utilidade.

Porém, a medida que me tornei adulto, comecei a cozinhar. Então comecei a fazer experimentos. Eu deveria usar o tal do fermento químico ou biológico? Se eu exagerar no bicarbonato, vou acabar com o sabor do cookie por quê? Pois olha, agora eu vejo que se meus professores utilizassem a culinária para me ensinar Química, provavelmente, não teria tido rejeição a essa disciplina. 

E no ambiente corporativo, isso é possível?  Extremamente. Se você é gerente de uma equipe jovem, aposto que oficinas de aprendizado com a chamada gameficação serão mais divertidas, e como consequência farão seus colaboradores absorverem melhor os conteúdos, as metas e as tarefas que você quer que eles executem.

O elefante e o cavaleiro e os processos de aprendizagem

Agora, se você pensa que precisamos apenas focar em lacunas de processos aprendizagem para entender o design de como as pessoas aprendem, errou feio. Além de um bom ambiente, é preciso evitar que o nosso cérebro se distraia. É o que a autora Julie Dirksen chama de o elefante e o cavaleiro. Calma que vou explicar.

Sabe quando você está fazendo uma tarefa ou lendo um artigo e, inconscientemente, dispersa o raciocínio? Esse é o elefante que existe em você, que precisa ser domado. Nesse sentido, o cavaleiro em cima do animal muitas vezes tenta puxá-lo para um lado, e o animal – teimoso – vai para o outro. O cavaleiro precisa encontrar maneiras de domar o elefante, que é mais forte. Dessa maneira, conheça algumas dicas para o cavaleiro domar o elefante:

  • Se você está trabalhando remotamente, sua lacuna ambiental pode atrapalhar caso você tenha por perto TV e sofá. Procurar um local adequado é o primeiro passo;
  • Da mesma forma, o elefante geralmente quer parar para comer fora de hora, comprar algo ou ver o celular. É aqui que você precisa conhecer o elefante dentro de você para evitar que ele faça uma besteira que comprometa seu trabalho e orçamento, por exemplo.

Essas duas dicas se resumem a algo básico: controlar os impulsos quando estamos tentando aprender ou executar algo. Como professor, eu gosto que os alunos estejam com a câmera aberta nas aulas online para ver se o elefante dos alunos está em ação, assim posso ajudá-los.

Mas isso também ser útil no dia a dia do trabalho. Sessões de brainstorm (e até reuniões) são melhores quando olhamos as reações. O líder da reunião precisa ficar de olho se os elefantes estão domados para evitar a dispersão. Parece óbvio, mas, no fim das contas, só assim a reunião será produtiva.

Aplicação prática: um case da Haze Shift

Nós da Haze Shift podemos ajudar gestores e colaboradores a se tornarem verdadeiros facilitadores dos processos de aprendizagem e da inovação na sua organização. Uma experiência ocorreu durante um projeto voltado à Cultura da Inovação que executamos junto com a equipe comercial da Eudora no Grupo Boticário.

Nosso objetivo era estimular o pensamento criativo entre líderes, de forma que essas pessoas pudessem usar essa habilidade com suas equipes. Então, não bastavam boas ideias. Era necessário fazer o grupo compreender porquê estavam nesse projeto (lacuna motivacional) e depois fazê-los experimentar. Tínhamos uma lacuna de conhecimento e habilidades que deveriam ser supridas.

A proposta foi fazer um desafio interno, em uma oficina para apresentar o conhecimento básico de processos criativos e sua experimentação, suprindo as lacunas de processos de aprendizagem de conhecimento e habilidades. O projeto fluiu e o sucesso veio com a apresentação das ideias, a construção coletiva a partir de grupos formados, os sorrisos do resultado e depois com o compartilhamento da experiência. Ou seja, os líderes se tornaram educadores levando o conhecimento às equipes.

Processos de aprendizagem: oficina desenvolvida pela Haze Shift junto ao Grupo Boticário.

Caso você perceba desafios de aprendizagem em sua equipe em temas como inovação, mudança de cultura e transformação digital, por exemplo, nós temos a expertise de organizar, mesmo em tempos de pandemia, oficinas que certamente derrubam as lacunas de processos de aprendizagem: levamos em consideração todos os fatores para proporcionar o melhor ambiente e comunicação para gerar conhecimentos e habilidades, buscando despertar a motivação intrínseca.

Despertei sua curiosidade para saber como fazemos isso? Algumas dicas estão aqui mesmo em nosso blog. Outras eu gostaria de te contar pessoalmente, por isso, venha conversar conosco.  Aproveite e deixe um comentário neste post e me conte quais são suas principais lacunas de aprendizagem. Certamente juntos encontraremos caminhos criativos para preencher essas barreiras.

Escrito por:

Leo Tostes - Open Innovation Specialist - Haze Shift
+ posts

Consultor em inovação aberta, especialista em design estratégico, com experiências em desenvolver programas e ações criativas para grandes empresas.