A Ambev – ou AB Inbev, como é conhecida no exterior – é uma empresa daquelas que todo mundo conhece. Mas você sabe dizer o que está por trás de cada gole? Nós da Haze Shift fomos atrás das respostas e podemos dizer que transformação digital e inovação aberta são dois ingredientes-chave. 

Provas disso não faltam. A empresa foi a primeira colocada no ranking “Top 100 Open Corps 2021”, da plataforma 100 Open Startups, que reconhece as corporações que mais praticaram inovação aberta com startups no último ano. Também foi considerada uma das 50 companhias mais inovadoras do mundo pela Fast Company em 2022.

Por trás da estratégia que levou a resultados como esse está a área de Inovação da AB Inbev, conhecida como Beer Garage. E por trás da área estão pessoas como Ronaldo Schork, gerente de Inovação da Ambev Tech

“O escritório de inovação do Beer Garage fica na Califórnia, e trabalhamos num modelo híbrido com escritórios em São Paulo, Blumenau (SC), Israel e Índia. A estrutura global tem 65 pessoas atuando na coordenação dos projetos”, explica.  

Como um dos líderes de inovação da companhia no Brasil, Ronaldo, aliás, tem ampla experiência em projetos inovadores. 

“Comecei minha carreira na TecLógica, que é uma empresa de Blumenau, onde desenvolvi vários projetos com a Souza Cruz. Depois fui para a T-Systems, onde eu trabalhei com a Volkswagen, inclusive passando um período na Alemanha. Após trabalhei mais uns 5 anos com SAP e, em 2015, eu entrei na HBSIS, que veio a ser adquirida pela Ambev em 2019”, resume. 

Nesse período, ele participou de vários projetos que fomentaram a área de inovação da Ambev, em projetos como IoT (internet das coisas) e inteligência artificial. As iniciativas foram se integrando com outras da companhia, voltadas para startups e construção de MVPs. 

Entrevista 

Nós da Haze Shit podemos dizer que fazemos um pouco de parte dessa história. Isso porque realizamos, em conjunto com a empresa, o projeto Academy Hack Ambev Tech. E tivemos a honra de dividir com Ronaldo um painel no maior evento de inovação em gestão empresarial do Brasil, o ViaSoft Connect 2022.

Nesta entrevista para nosso Blog, o gerente de inovação mostra um pouco da tecnologia por trás de cada gole.  

Ronaldo Schork, gerente de inovação da Ambev Tech

Equipe Haze Shift – No evento ViaSoft Connect, você fez um comentário interessante: “Uma coisa é ter tech, outra é ser tech”. O que é ser tech? 

Ronaldo Schork – Ter tecnologia muita gente eventualmente passa a ter. Mas ser tecnológico é quando se constrói um produto orientado a partir de dados – centrado no cliente – repensando os processos, questionando o status quo. 

É a diferença entre digitalizar processos e ser digital. Uma coisa é pegar um processo e digitalizar. Uma coisa é pegar um processo e digitalizar. Vamos pensar em um exemplo, de aulas remotas. Você coloca uma sala de aula em um Zoom e pronto: você digitalizou a aula. Mas você não está necessariamente sendo digital, fez-se somente a digitalização da aula.

Também podemos pensar em um desafio que temos dentro da companhia, que não adianta só colocar tecnologia. Não basta pegar um processo que é analógico e simplesmente transformar em um processo digital. Você precisa pegar um processo e pensar no digital primeiro. 

Um exemplo foi um projeto de WMS (Warehouse Management System, em português, Sistema de Gerenciamento de Armazém), em que a gente trouxe uma abordagem muito diferente, que não existe no mercado. 

Em geral, esses sistemas usam tradicionalmente códigos de barras e leitores e códigos de barras. A gente mudou esse conceito. Todo separador de caixa, por exemplo, tem um celular em uma braçadeira, e toda empilhadeira tem um tablet. Eles são orientados por tarefas que chegam no celular e no tablet. Por exemplo, pegar 8 caixas de Skol, colocar no palete, e após terminar de separar todas as caixas o palete é deixado em uma posição específica, onde então é gerada uma tarefa para a empilhadeira pegar o palete e carregar no caminhão. A gente otimizou um processo de armazém. Transformou um armazém em digital, mas não digitalizamos essencialmente todo o processo: a gente deu uma outra cara para ter ganho operacional.

Esse é o desafio. Na prática, toda empresa precisa entender que ela é uma empresa de tecnologia. Esse é o ponto principal. A Dominos e a Amazon são empresas de tecnologia, e não apenas adicionaram tecnologia. Elas colocaram tecnologia em seu core. Elas têm tecnologia no centro da estratégia.  

EHS – Essa conexão estratégica realmente é muito importante. Mas quando estamos falando de bares e cervejarias, que são os clientes da Ambev Tech, que tipo de digitalização e transformação digital são as mais importantes?   

Nosso foco na Ambev é ser uma plataforma para nossos bares e restaurantes, basicamente, porque são nossos principais clientes. E quando falamos em ser uma plataforma, não é só entregar para ele o que ele quer da gente. É entregar tudo que ele precisa para operar. 

Então a gente oferece

 soluções como o Get In, para gestão da fila de espera, reserva, delivery e cardápio digital. E o BEES, uma plataforma B2B onde nossos clientes compram tudo o que precisa, produtos como chiclete, whisky, leite, produtos que não são nossos, ele pode comprar com a gente no BEES e a gente entrega!

Ou seja, ajudamos o bar ou o restaurante a ter o que ele precisa. E citaria ainda o Zé Delivery, cujo foco é entregar na casa do cliente, em até 30 minutos, bebida gelada com preço de supermercado. Isso permite que nossos clientes sejam parceiros na plataforma e aumentem suas receitas atendendo pedidos através do Zé.

“Queremos ser cada vez ser menos uma empresa de bebidas para ser mais uma plataforma que entrega soluções para a cadeia, conectando o ecossistema”

EHS – Nesse sentido, qual é o papel de fintechs como a Donus e outras startups na transformação digital da Ambev e de seus clientes lojistas?   

A Donus foi incorporada ao BEES agora é BEES Bank, uma fintech completa para nossos clientes, uma solução que oferece maquininha, cartão de débito, conta digital e crédito. Criada inicialmente como startup, recebeu investimentos através da ZTech, que é um braço de investimentos da AB Inbev, e agora foi incorporada à plataforma à BEES, que já é um projeto global, sendo escalado para vários países.

EHS – A Ambev também inovou muito na pandemia na questão de responsabilidade social…  

Sim, durante a pandemia a companhia se envolveu para ser parte da solução. Desde a produção álcool gel, face shields, soluções para ajudar bares e restaurantes, ajudando na construção de hospital, transformando uma usina para produzir oxigênio. Teve de tudo um pouco. 

Isso tudo é muito legal e, às vezes, não aparece, mas as histórias por trás de cada uma dessas iniciativas são incríveis. Uma foi transformar uma cervejaria em produtora de álcool gel no Rio de Janeiro. No primeiro envase eles tiveram que transportar tudo para São Paulo, porque ainda precisavam das biqueiras corretas. E foi coisa de uma semana para transformar a fábrica de cerveja em uma fábrica de álcool gel. Tiveram que buscar o componente básico da formulação para produzir o álcool em gel no mercado, difícil de encontrar naquele momento, mas isso foi feito e o álcool gel produzido foi i doado para hospitais públicos, foram cerca de 1.2 milhões de unidades. 

EHS – Vamos falar sobre inovação aberta. Por que você acha que a Ambev foi considerada a empresa que mais pratica inovação aberta no Brasil?

Hoje a gente é uma empresa reconhecida por startups como uma das organizações que mais ajuda o ecossistema, estando inserida em vários pontos apoiando as iniciativas que aceleram novos negócios. E também fazendo muitos negócios com startups. Nós fechamos de 200 a 250 contratos por ano com startups. Isso acaba gerando esse tipo de premiação, tanto por percepção quanto por valor [de negócios] gerado. 

Além disso, através do Beer Garage, que é a área de inovação dos projetos de tecnologia (P&D), que é a minha área, fazemos a ponte com a Academia para projetos de tecnologia. E nós temos a missão de abrir e expandir esse contato.

E o outro projeto que nós temos é uma aceleradora de projetos de tecnologia, que as pessoas de várias zonas da AB Inbev submetem suas ideias e projetos. Só neste ano de 2022, tivemos globalmente 90 submissões, e 10 projetos foram selecionados para serem acelerados no Vale do Silício por 11 semanas. Ao final, é feito um pich para os principais stakeholders da companhia e para os projetos terem mais aporte para virarem projetos grandes para a companhia.  

EHS – E quais fatores brilham os olhos de vocês nos contatos com startups? 

Em primeiro lugar, é claro, que tenha uma solução que agrega ao nosso negócio. Se for de logística, como ela consegue melhorar nossa entrega ou agregar valor à nossa cadeia de entrega. Pensando em outros ambientes que estamos trafegando, como games, faz sentido para bebidas como o [energético] Fusion para posicionamento de marca. Tem de ser coisas relacionadas: se gera algum valor à nossa cadeia, agregando valor, nos ajudando no posicionamento de marca. E no final a gente olha muito, claro, para o empreendedor e a maturidade da solução e para empreendedores comprometidos.

EHS – E onde a ABI Academy Hack, feito em parceria com universidades, entra em tudo isso? Poderia um pouco sobre o desafio e qual a importância dele na estratégia de inovação aberta da Ambev executada pelo Beer Garage?  

A estratégia é expandir a inovação aberta com Academias e se relacionar com universidades. A gente sabe que temos muitos talentos e projetos interessantes. São talentos que estão dentro das universidades que a gente quer ter mais contato para ajudar resolver problemas nossos. E tem um interesse mútuo da academia estar mais próxima da indústria para trazer inovação. 

Para os desafios de distribuição do estoque que fizemos, tivemos muitas soluções bacanas, com maturidade e nível técnico que nos chamou bastante atenção. Mas a ideia era mais para mapear talentos e oportunidades para resolver nossos problemas no futuro. E o que nos chama a atenção é a maturidade de um departamento, de uma universidade trabalhar com problemas complexos. 

Leia mais sobre o projeto ABI Academy Hack clicando aqui 

EHS – Para finalizar, qual a diferença de trabalhar com a Haze Shift ao invés de outros fornecedores do mesmo segmento no mercado?

O que eu posso falar é que percebemos que é uma empresa que ela veste nossa cultura, ela incorpora a cultura do cliente para ajudar a entregar valor. É vestir a camisa, de forma coloquial. 

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