Antes de começar esse texto, vejamos: você realmente sabe o que é um hacker? Se você pensa em hacker como aqueles que se divertem invadindo computadores, esqueça. Esses são crackers. A diferença básica é: hackers constroem coisas, eles usam sua inteligência para o bem com intuito de melhorar os sistemas, crackers são criminosos e as destroem. Essa diferença é fundamental para o correto entendimento do que abordamos neste artigo: o culture hacking.

E para entender esse conceito, faço algumas perguntas: alguém ainda duvida que estamos vivendo um momento de troca de eras? Que o imprescindível não pode ser somente manter os status das coisas operando? Acredito que restam poucos negando que grandes transformações vieram para ficar. Mas, afinal, como inovar para um futuro que não aceita as premissas do presente, nem as do passado, se no dia a dia é preciso fazer o agora que gera resultado para o momento presente? E o que isso tem a ver com hackear a cultura de uma empresa? 

Sobre o termo hacker
Hackers resolvem problemas e criam coisas. Eles também podem ser conhecidos como Hackers éticos, e acreditam na liberdade e na ajuda mútua voluntária. A história remonta décadas atrás, até os primeiros minicomputadores de tempo compartilhado e os primeiros experimentos online. Afinal, foram os hackers que construíram a Internet. Mas o espírito e mentalidade dos hackers não se limita ao software. Na verdade você pode achá-la nos mais altos níveis intelectuais de qualquer ciência ou arte.

O empreendedor Silvio Meira explica muito bem como podemos hackear a cultura da sua empresa, observando o comportamento das empresas clássicas e das companhias do século 21. Segundo ele, há um conflito entre futuro, presente e passado. 

3 Eras

Porém, precisamos refletir. Se estamos trocando de era, que eras são essas que estamos atravessando? Eu particularmente gosto dos exemplos que os especialistas em design e comportamento do consumidor Danilo Cid e Fabio Mariano Borges deram no Festival Path 2017 na palestra: Reféns do Black Mirror. Como não ser? Criação para pessoas no “entre-eras”. Vou descrevê-las resumidamente abaixo e disponibilizar o vídeo a seguir:

  • Era da Modernidade, ou seja, do mundo da ordem. Aqui as lideranças acreditam na previsibilidade do ambiente de negócios, que a base da competição é estável e que uma vez obtida uma vantagem, ela é sustentável. O posicionamento pode ser baseado em tamanho, diferenciação ou capacidades superiores. Esses são os princípios guia por trás da cultura que permeia as principais estratégias clássicas dos negócios dessa era, que não a toa, é ilustrada como a Era do Lobo.

  • Era da Pós-modernidade: tem como um dos gatilhos o acesso e a larga utilização de tecnologia de forma extensiva pelos negócios. Aqui, a meta é ser rápido e ser pioneiro na economia digital. Empresas visionárias ganham por ser o primeiro a apresentar um novo produto ou modelo de negócios revolucionários. Ou seja, elas provocam o mundo fora de ordem. Embora o ambiente possa parecer incerto para os outros, os líderes visionários veem uma oportunidade clara para a criação de um novo segmento de mercado ou a ruptura de um existente, e agem para realizar essa possibilidade. Centenas de milhares de novos entrantes se aproveitam da miopia dos líderes de mercado que antes eram intocáveis e surgem como inovadores, ágeis e subversivos. Assim ela é denominada como Era do Rato.
  • Era da Hipermodernidade: aqui não é exatamente sobre os efeitos da pandemia a que nos referimos – mas ela foi citada pelos palestrantes como Era do Vírus. Esses tempos são mutantes, sensoriais e imprevisíveis. É como um vírus, a sobrevivência dos negócios depende da capacidade contínua de se transformar. Identificar novas opções de forma mais rápida e econômica do que outras. Nesse sentido, previsibilidade, definições, objetividade e consistência são conceitos que se combinam a mutações, desconstruções. Principalmente, aceitam sobreposições de forma combinada como multi estratégias, modelos de negócio e de operação. 
https://www.youtube.com/watch?v=embecB3aaNg

Vivendo entre eras

Assumindo que essas Eras não são lineares, pois estão acontecendo todas ao mesmo tempo, deixo aqui uma pergunta: a cultura da empresa ou organização que você trabalha está mais relacionada a quais delas? E você, como consumidor de diversas marcas, percebe como você se relaciona? Existe alguma diferença entre o seu comportamento como consumidor e quando você está lá, dentro de uma empresa, produzindo algo? Se existir, ficou fácil perceber o entre Eras.

Com essa reflexão em mente, é preciso viver o hoje criando tempo para o futuro. Além de uma estratégia de longo prazo focada em transformação, da liderança guiada no digital, um dos passos fundamentais é ter a cultura transformada para colaboração e de aceitação de risco.

Sim! A cultura é uma das chaves mais importantes para a transição de Eras. Mas e culture hacking: o que é? Você sabe? 

É uma ótima forma de você acelerar as mudanças na cultura da sua empresa para as transformações exigidas pela transição entre eras.

O que é culture hacking ou hacking cultural? 

Significa que as pessoas da sua empresa organização, talvez você mesmo, já façam hacks, ou seja, modificações no sistema. Entenda sistema como o tecido vivo que faz a empresa ser do jeito que ela é. Sabe o jeito que a empresa faz as coisas? Isso é o “sistema”. Nesse sentido, a ideia é quebrar modelos e processos do passado, e construir o novo dando sentido às coisas. Fundamentalmente, hackear a cultura é tomar medidas intencionais para criar uma mudança cultural positiva dentro de sua organização. Isso é o culture hacking! 

Para que os sistemas fiquem cada vez mais adaptáveis às mudanças, as empresas precisam de mudanças em todos os sentidos e a promoção de mudanças bottom-up – de baixo para cima –  é fundamental para isso.

A organização tende a acelerar em direção à quebra de paradigmas quando o jeito que as coisas funcionam se relaciona com a forma como as pessoas da sua empresa passam a executar hacks. Com isso, ela acaba por humanizar os processos corporativos. Assim, eles se tornam cada vez mais adaptativos. 

Logo, se algo é mais adaptativo, é possível conviver com o “entre eras” que estamos vivendo com múltiplas abordagens, múltiplas estratégias e que compreende a potência da diversidade e a pluralidade que os negócios podem ter. Afinal, se uma empresa tem alta capacidade de adaptatividade, e consegue se transformar em tempos de troca de eras, ela pode ter uma importante função na construção de um mundo melhor e sustentável.

Ok, como vamos fazer isso e praticar culture hacking?

A lista é vasta, mas vamos a 5 dicas que você pode começar a praticar culture hacking na sua empresa:

#01 Encontre e dê autonomia aos inquietos da sua empresa

Estimule a conexão entre os inquietos. Crie espaços e canais onde eles possam desenvolver suas ideias. Crie uma comunidade informal de inovadores inquietos em sua empresa, independente de departamentos e áreas com fluxo de encontros e conexões. 

Porquê: O mundo e a sua empresa estão repletos de problemas fascinantes esperando para serem resolvidos. Afinal, você com certeza tem pessoas na sua equipe muitas vezes incompreendidas, e elas podem estar exatamente tentando resolvê-los. Provavelmente eles estão enxergando os problemas de outra perspectiva, ou com novas soluções, ou ainda, quebrando algum paradigma que a atual cultura da sua empresa não quer.

#02 Diminua a centralização de decisões na sua empresa

Aumente a flexibilidade, distribua o poder e as informações entre os colaboradores. É aí que encontramos o futuro das organizações. Veja, por exemplo, como nós da Haze Shift estimulamos a inovação aberta nos processos. Outra boa dica é assistir a este TED do Ricardo Semler

Porquê: Tudo começa com confiança. Aproveite, pois poucas organizações estão preparadas nesse sentido. Muitas delas ainda se preocupam demais com sigilo, escondendo informações dos próprios colaboradores e regras sobre tomadas de decisão. Para essas empresas, não importa o obstáculo para a transformação, é natural que a expressão “porque sempre foi assim” seja o comportamento padrão.

#03 Pré-aprove orçamentos: 

Pré-aprove orçamentos para o desenvolvimento de protótipos. Assim, de forma antecipada a gestão da sua empresa fornece um orçamento e as diretrizes, mas a ideia que os seus inovadores inquietos tiverem para desenvolver, é o que deve acontecer. Isso potencializa as atitudes de maior proatividade que as pessoas já possuem e os resultados serão mais satisfatórios com processos mais eficientes.

Porquê: Níveis de aprovação atrapalham a realização das coisas. Com as diretrizes estabelecidas, é possível tratar as pessoas como os reais responsáveis pelos resultados alcançados, gerando comprometimento e engajamento.

#04 Estimule que as pessoas façam o que elas são boas para fazer

Deixe as pessoas trabalharem no que se sentem bem consigo mesmas.  Dar oportunidades para que elas trabalhem próximas aos clientes, aos parceiros, a qualquer ponto de contato entre a empresa e o mundo exterior a ela. Normalmente, nessas fronteiras da empresa, moram problemas relevantes e persistentes que há muito tempo travam sua empresa de pensar e agir diferente.

Porquê: Organizações inovadoras se concentram na criação de culturas em que o erro é um elemento de aprendizado. Os colaboradores precisam se sentir livres para aproveitar suas paixões e habilidades para errar e acertar. Por isso é tão importante fazer com que as pessoas sigam suas vocações.  

#05 Reconheça pequenas vitórias

Encontre e reconheça as pequenas vitórias. Mudanças culturais são desafios enormes e de longo prazo. Nesse sentido, é melhor dividir o problema em partes menores e administráveis ​​do que fingir que você pode resolver tudo de uma vez. 

Porquê: O medo e a desconfiança entre colegas e equipe são barreiras que podem deixar de existir. Para isso, é preciso valorizar pequenos ganhos tangíveis, como a melhoria de alguns processos internos, por exemplo, que resultam em maior agilidade.

A primeira dica deste texto foi encontrar os inovadores inquietos da sua empresa. Ou seja, os hackers da cultura de sua empresa que promovem uma verdadeira transformação. Quer saber o que é um inquieto? Veja as características abaixo e pense se tem alguém com essas características!

  • Ousado
  • Divergente
  • Honesto
  • Autônomo
  • Subversivo
  • Destemido
  • Razoável 

Nós da Haze Shift criamos uma comunidade para incentivar nossos colaboradores, parceiros e consultores externos a nos provocar todos os dias: os Inovadores Inquietos. E quando digo provocar, me refiro a um choque de cultura dentro da Haze Shift. Eles incentivam a quebra de nossos paradigmas nos projetos que fazemos e tem à disposição este portal para relatarem suas experiências e escreverem artigos. Eles têm até um manifesto!

E a sua empresa, já transita entre essas eras? Nós da Haze Shift estamos prontos para ajudar nessa transição, inclusive colocando nossos Inovadores e Inquietos para ajudar você a hackear a cultura de sua empresa. Pense nisso, nós estamos prontos para conversar!

* Referências: sobre estratégia e culture hacking

What It Takes to Innovate Within Large Corporations

Escrito por:

Digital Transformation Leader & Co-Founder de Haze Shift | + posts

Certified facilitator of LEGO® SERIOUS PLAY® & Digital Transformation Enabler with a demonstrated history of working in the information technology and food & beverages industry.