Este blog post é um pouco diferente. Ao invés de falar sobre inovação nas empresas, vamos falar sobre como os produtores rurais fazem inovação em suas propriedades. Essas pessoas são diretamente responsáveis por 25% do Produto Interno Bruto (contribuição do agro ao PIB nacional). Afinal, a cultura da inovação no agronegócio começa ali: dentro da porteira.
Enquanto empresas têm a possibilidade de fazer testes e também protótipos, por exemplo, no ambiente agropecuário o buraco é mais embaixo. O tempo de retorno é maior, e é preciso destinar um espaço nas propriedades para testes.
Apesar disso, há algo em comum em apostas inovadoras tanto no mundo corporativo quanto no agro: a estratégia de evitar colocar todos os ovos na mesma cesta, ou seja, apostar em vários pequenos projetos, observar quais dão melhores resultados para então validá-los e expandi-los. Quem diria que essa estratégia que segue o modelo do design estratégico estaria presente, consciente ou inconscientemente nas fazendas?
Ambiente propício à inovação aberta
Em meu tempo trabalhando com empresas, cooperativas e produtores rurais do agronegócio, eu pude observar algo muito interessante: dificilmente vemos produtores bem-sucedidos sem assistência técnica especializada ou cercados de pessoas bem qualificadas. Um bom produtor abre a fazenda para técnicos, engenheiros agrônomos, zootecnistas e outros especialistas para fazer análises e cooperação.
No Brasil, os profissionais que apoiam os produtores estão em cooperativas, empresas, startups e entidades públicas como a Emater e a Embrapa. Eles levam seus conhecimentos às fazendas por meio de uma cooperação mútua, o que faz com que as propriedades sejam praticamente laboratórios de inovação aberta.
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Nesse sentido, também precisamos lembrar das universidades e centros de formação de técnicos da área rural. É praticamente impossível uma universidade formar engenheiros agrônomos sem programas de estágio ou integração com outros produtores rurais, ou tendo suas próprias fazendas-escola, ou ainda convênios com outras entidades, como as acima citadas. O que isso nos mostra? Que o agro tem uma vocação natural para a inovação aberta desde o berço interagindo com a cadeia.
Essa ampla conexão também favorece a chegada de iniciativas que potencializam a transformação digital no agro. Além disso, o setor tem como vantagem a flexibilidade na tomada de decisões: o produtor pode tomar decisões mais rápidas em comparação com empresas e as próprias cooperativas (já que ambos têm um board para aprovação de mudanças).
O que a integração lavoura-pecuária pode ensinar
Como falamos a pouco sobre parcerias entre universidades e centros de formação, repare que isso traz uma clara vantagem competitiva ao setor. Isso porque existe um objetivo mútuo de aumentar a produtividade diretamente relacionado a evitar a expansão de novas áreas para produção – o que está diretamente ligado aos objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS) da ONU –, as entidades se relacionam de forma mais natural, e fazem a cultura da inovação no agronegócio algo permanente.
Vejamos por exemplo a integração lavoura-pecuária-floresta – onde o produtor faz a união da agricultura com um ambiente de pastagem e com a plantação de madeira reflorestável.
Para que o solo tenha boas condições para esses três negócios em uma mesma fazenda, é feita a rotação das culturas nas áreas da propriedade: por um período se faz o plantio agrícola em uma área, enquanto em outra está a pastagem e em outra a madeira. Ao longo do tempo, faz-se o rodízio das áreas para cada negócio. O resultado é um solo com mais nutrientes, pois o produtor evita um monocultivo, que acabaria empobrecendo e reduzindo os nutrientes da terra.
O que isso tem de inovação? Vamos à resposta:
Em primeiro lugar, alguns produtores aceitaram fazer esse teste. Ou seja, alguém precisou começar, acompanhado por análises de solo de bioquímicos, agrônomos e técnicos. Como começou a dar certo, e confirmou-se que o solo sedimentou mais nutrientes, a produtividade aumentou. E quem implementou o modelo saiu na frente, fazendo com que outros produtores se adaptassem posteriormente, enquanto os mais resistentes seguiram no modelo antigo. Perceba como isso também acontece em empresas fora do setor agro: alguns inovam, outros seguem a manada e outros resistem, por um problema cultural da organização.
Cultura da inovação no agronegócio: exemplos
Nesse sentido, vale a pena citar produtores que agem como verdadeiros empreendedores e enxergam potenciais negócios nas novidades. Gostaria de citar um entre os vários exemplos da cultura da inovação no agronegócio: na região dos Campos Gerais, no Paraná, a Chácara Marujo, em Castro, diversifica amplamente os negócios.
O proprietário, Jan Haasjes, faz a produção de suínos em três locais, tem 800 hectares de lavoura em quatro áreas, realiza compostagem para produção de substrato para cultivo de cogumelos, e cultiva a gramínea Azevém para ser transformada em silagem e feno (muito utilizado para alimentação do gado leiteiro e equinos, em consórcio com aveia, por exemplo) oferecendo ainda a logística de envio aos clientes que compram a gramínea.
Fora isso, o produtor ainda produz a própria energia com um biodigestor que utiliza resíduos da granja de suínos, de grãos das lavouras e de gordura. É um grande exemplo de inovação e agroenergia no Brasil.
Tudo isso só foi possível pela abertura que o produtor deu a estudos em sua propriedade, com diferentes parcerias. Um modelo que foi apresentado como case na Embrapa, e que mostra a sustentabilidade de forma ampla: fazendo uso racional do biogás em tempos de preocupação energética e de emissão de gases e gerando renda e emprego na área rural.
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E há outros dois exemplos que podemos citar de como os produtores brasileiros estão, cada vez mais, abertos às inovações. Confira:
Vinhos no Nordeste e Oliveiras em MG
Além da Chácara Marujo, que exemplifica bem um modelo de gestão de não colocar todos os ovos na mesma cesta, outras apostas pelo Brasil mostram bem a cultura da inovação no agronegócio.
No Nordeste, o Vale do São Francisco conseguiu se tornar o terceiro maior polo de vinhos do Brasil, mesmo com o desafio de cultivar uvas em uma região que chega a ter 40º por ano. Por lá, os produtores vitivinícolas, o Instituto do Vinho do Vale do São Francisco (Vinhovasf), universidades e pesquisas da Embrapa Uva e Vinho e a Embrapa Semiárido insistiram em testes de cultivares. Como resultado, a região do Vale foi a primeira com a chamada Indicação Geográfica (rótulo que caracteriza a procedência de um produto ou serviço) para vinhos tropicais.
E quando eu digo que experiências podem levar muito tempo no agronegócio, talvez você não imagine, mas há culturas, como a do azeite por exemplo que pode levar mais tempo. O exemplo que vou contar aqui levou sete décadas. Nos anos 40, o engenheiro agrônomo Washington Viglioni levou a planta da oliveira à Serra da Mantiqueira (MG) e começou as pesquisas para a produção de azeite.
Já nos anos 70, a Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig) continuou os estudos. Até que em 2008 a Epamig extraiu o primeiro azeite de oliva extravirgem brasileiro, revolucionando as fazendas locais, que passaram a fazer o cultivo com junto à Epamig. Os azeites mineiros ganharam até mesmo a New York Olive oil Competition pela sua qualidade e seguem aposta em melhorias com eventos como o Azeitech.
Cultura da inovação no agronegócio: podemos ajudar
Claro que os exemplos que descrevo acima são de sucesso. Mas durante meus anos no agro também observei algum receio em inovar em algumas frentes. Muitos queriam dar o primeiro passo, mas algo os bloqueava. Bom, nós da Haze Shift podemos colaborar para esse novo mindset e, assim, continuar o sucesso da cultura da inovação no agronegócio.
Vamos pensar novamente nos exemplos acima: alguém precisou dar o pontapé inicial, mas em todos existiu parceria com outras frentes. E em propriedades onde há, talvez, alguma resistência do patrão, mas uma vontade legítima em ampliar a produtividade, algo útil é a realização de pequenos workshops, a exemplo do que acontece nas empresas.Afinal, se o agro tem muito a ensinar às empresas, o oposto também é verdadeiro. E um IdeaLab trazendo parceiros, clientes, fornecedores dos seus produtos, junto com pessoas que trabalham na fazenda é, certamente, o movimento inicial da transformação.
Mas você saberia quem chamar? Como fazer o workshop? Talvez este seja o momento para termos uma conversa e explicarmos como nós da Haze Shift podemos colaborar. Tenho certeza que, se este é o seu caso, podemos ter uma conversa tão produtiva quanto a sua próxima safra.
Escrito por:
Atuando sempre com mudanças nas organizações através de pensamentos diferentes aplicados à processos com tecnologia e cultura. Buscando auxiliar empresas e organizações sobre os paradigmas da Transformação Digital e como a Inovação Aberta pode mudar a forma de garantir a sustentabilidade dos negócios!
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