Muita gente pode pensar que dados abertos são apenas para projetos tecnológicos. Mas, o que temos visto na prática, é que muitas organizações já sabem o que é open data: uma maneira de combinar informações e análises a partir de bancos de dados para melhorar e criar produtos e serviços e, claro, potencializar a inovação. 

Inclusive, o Open Data é uma das rotas de inovação aberta (número 24) citadas pelo especialista em inovação Jan Spruit. 

Os dados abertos são, acima de tudo, uma forma de promover a troca de conhecimento entre pessoas e entre organizações. Uma amostra da importância global do acesso cada vez maior aos dados abertos foi o surgimento, em 2004, Fundação Open Knowledge, que trabalha com o apoio de grandes corporações globais, como o Banco Mundial e a Transparência Internacional, e tem o objetivo de promover a difusão do conceito de open data. 

O que são dados abertos: open data?

A Fundação até mesmo elaborou um guia explicativo sobre dados abertos e o traduziu para mais de 20 idiomas. Ela destaca, em resumo a seguinte definição de open data: 

Dados abertos são dados que podem ser livremente usados, reutilizados e redistribuídos – sujeitos, no máximo, à exigência de atribuição da fonte e compartilhamento pelas mesmas regras.

Isso não significa, contudo, que as regras quebraram ou deixaram de existir. Tanto as regras quanto os custos sempre existiram para as organizações terem acesso e modificarem determinados dados. De modo geral, segundo o Guia da Open Knowledge sobre dados abertos: 

  • Eles são caracterizados por disponibilidade e acesso, ou seja, os dados precisam estar disponíveis sob custo acessível, preferencialmente possíveis de serem baixados pela internet, de forma conveniente e modificável. Isso significa que nem todo open data é inteiramente livre e acessível para qualquer pessoa. Aqui podemos dar um exemplo do porquê alguns dados podem ser abertos com limitações: não queremos que qualquer pessoa tenha acesso a nossos dados bancários, exceto instituições financeiras confiáveis, como, por exemplo, como o movimento de open finance está propondo (leia mais);
  • Reutilização e redistribuição: os dados acessíveis devem ser fornecidos sob termos que permitam a reutilização e a redistribuição, o que significa que os dados podem ser trabalhados (modificados) para a realização de projetos. 

Mas qual a conexão de open data com inovação aberta?

Isso tem tudo a ver com inovação aberta. Uma vez que os dados abertos são gerados por pessoas ou organizações e disponibilizados para que diferentes públicos possam fazer uma composição de análise, cenários e complementos de estudos, é possível que entidades, empresas e pessoas se conectem a partir do open data. 

Em outras palavras, muitas vezes existe uma interação direta entre diferentes organizações (a que disponibiliza os dados e que atua sobre eles) dando origem a projetos altamente qualificados. Enquanto um ator disponibiliza o open data e ensina a utilizar a base informacional, o outro utiliza os dados abertos para melhorar um projeto, produto ou pesquisa. Esse trabalho conjunto é inovação aberta pura! 

O open data se mostrou uma ferramenta de inovação aberta muito útil nos tempos de pandemia de coronavírus, já que a colaboração de cientistas de diferentes laboratórios e empresas farmacêuticas ocorreu neste sentido.

Isso mostra que os dados abertos podem enriquecer tanto ações corporativas quanto o conhecimento para o bem comum. Vamos a um exemplo prático do open data com inovação aberta? 

Talvez você já tenha ouvido falar no open banking. De acordo com o Banco Central, até o primeiro semestre de 2021, as instituições não compartilhavam sua lista base de clientes umas com as outras. Pois bem. Agora, um banco de dados foi criado entre as instituições financeiras para ter acesso ao perfil de consumo dos clientes. 

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Você pode estar se perguntando se isso é legal (juridicamente falando). Desde que o cliente tenha autorizado, é perfeitamente legal esse compartilhamento de dados abertos entre instituições. O cliente também ganha com isso porque as instituições financeiras, uma vez com acesso ao seu perfil financeiro, podem fazer ofertas de empréstimos, investimentos e outros produtos financeiros melhores e mais baratos, de forma personalizada.  

Perceba que essa iniciativa de open data envolve diversos stakeholders internos e externos em um trabalho de inovação aberta, como concorrentes, clientes e uma entidade governamental (o Banco Central). Todos unidos a partir de um trabalho que reúne um banco de open data para as instituições financeiras cadastradas, mas que ao mesmo tempo mantém o sigilo dos dados para que eles permaneçam assegurados, ou seja, sem vazamentos. 

Open data governamental 

Talvez você pense que o exemplo acima, de conexão entre bancos, não se aplica à sua empresa. Então vamos dar aqui amostras de como as organizações podem trabalhar dados abertos por meio do open data governamental. 

O governo federal do Brasil, por exemplo, tem um banco de dados que contempla mais de 220 organizações públicas que oferecem dados gratuitos, que podem ser baixados por qualquer cidadão. 

No site constam boletins de cadastros de CNPJs, séries históricas de preços de combustíveis, cadastro de imóveis rurais, autuações em rodovias, dados criminais, entre outros. Por sua vez, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) também oferece dados abertos. 

Ao ter acesso a informações como essas, associações de imobiliárias, de corretores, entre outras, podem cruzar os dados para obter informações sobre onde atuar para criar ações de angariação, venda e avaliações imobiliárias com base nos dados demográficos e de cadastros de imóveis rurais. E olha que este é apenas um exemplo de open data governamental a partir de bancos de dados públicos. 

Mas onde está o open data no setor privado?

Open data privado: Data Labs

Além disso, organizações privadas também vêm aumentando a oferta de dados abertos à sociedade. Elas vêm feito isso especialmente por Data Labs, isto é, Laboratórios de Dados.  Geralmente, esses locais combinam dados com análises de algoritmos para facilitar consultas, avaliações técnicas e, a partir da ciência de dados, buscar informações para projetos inovadores.

Vamos entender sobre isso com um caso de sucesso?

Aqui no Brasil existe um exemplo de alto nível: o Data Lab da Serasa Experian, que auxilia empresas e startups a promoverem a avaliação de mercados antes, durante e depois do lançamento de produtos e serviços. 

O Data Lab da Serasa tem infraestrutura própria, com soluções aplicáveis a negócios de varejo, telecomunicações, bancos, fintechs, empresas de energia, órgãos públicos, saúde e agronegócio. Para essa oferta ampla de dados e análises, o laboratório brasileiro opera em conjunto com DataLabs de San Diego, Londres e Singapura, a partir de dados alternativos, fazendo análises tradicionais ou inovadoras com elementos de inteligência artificial e machine learning.

Como criar Data Labs: laboratórios de dados 

Se você está pensando em como trabalhar mais o open data, saiba que existem até mesmo plataformas que facilitam a construção desses laboratórios nas empresas, como a ferramenta italiana Datalabs. A proposta é auxiliar organizações a coletar, gerenciar e interpretar dados. Por meio da plataforma, é possível, por exemplo, transformar dados em análises avançadas para compartilhar com as equipes de trabalho.  

Contudo, sempre que você pensar em projetos de open data é preciso ter a consciência de que o projeto precisa responder a perguntas sobre determinados temas. Afinal, os dados abertos têm de ser estruturados para uma ou mais áreas específicas possam utilizar as informações da maneira mais fácil e prática possível.

Nesse sentido, consultorias de inovação podem ajudar fortemente para modelar um laboratório de dados. Nós da Haze Shift, por exemplo, desenvolvemos o road map e os modelos de negócios do DataLab Iguassu Valley, que surgiu a partir de uma iniciativa de inovação aberta para diversas entidades disponibilizarem dados e cruzar informações sobre o tema Agroenergia. 

Alguns dos atores envolvidos do setor privado foram o Sebrae-PR, o Parque Tecnológico de Itaipu (PTI), o Biopark e, do lado acadêmico-governamental, a Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) e o Instituto Federal do Paraná (IFPR). 

Como o foco das instituições envolvidas foi a elaboração de um laboratório de dados sobre Agroenergia, desenvolvemos um trabalho minucioso, com workshops e alinhamentos entre todos os envolvidos. A ideia foi trazer informações sobre tecnologias sobre agroenergia para aumentar a eficiência da produção agropecuária, gerando benefícios econômicos, ambientais, sociais e desenvolvimento da região Oeste do Paraná. 

A proposta é que os dados contidos no data lab qualifiquem as decisões de toda a cadeia produtiva com decisões baseadas na exploração e análise de dados. 

Podemos ajudar

Isso mostra que nós da Haze Shift podemos apoiar sua organização tanto na criação de um data lab ou de ações de inovação que façam uso do open data governamental ou de laboratórios de dados privados. Afinal, podemos agir como facilitadores na governança da inovação e na proposta de metodologias do design estratégico para facilitar essa estruturação de dados abertos. Vamos conversar sobre isso? 

Escrito por:

Digital Transformation Leader & Co-Founder de Haze Shift | + posts

Atuando sempre com mudanças nas organizações através de pensamentos diferentes aplicados à processos com tecnologia e cultura. Buscando auxiliar empresas e organizações sobre os paradigmas da Transformação Digital e como a Inovação Aberta pode mudar a forma de garantir a sustentabilidade dos negócios!