Provavelmente você conhece essa rota de inovação aberta. Por definição, crowdfunding é uma forma de financiamento coletivo. Você talvez tenha ouvido falar sobre vaquinhas virtuais, como elas foram popularmente chamadas, a fim de levantar recursos para projetos. Mas o conceito é mais amplo e com o advento da web 3.0, o crowdfunding está ganhando ainda mais força.
O crowdfunding é mais que uma forma de arrecadar dinheiro online, a ponto de conseguir melhorias em MVPs (Produto Mínimo Viável). Isso porque os participantes, em muitos casos, além do investimento, têm a chance de testar e dar feedback sobre os produtos e serviços em que investiram.
Esse contato entre empresas e usuários faz do crowdfunding uma das rotas de inovação aberta possíveis, mais precisamente a número 23 na lista do especialista em inovação Jan Spruijt.
Por isso, para que você entenda essa rota, saiba que ela tem mais de um formato. Vamos conhecer três dos mais comuns para verificar se algum deles se adequa às suas ideias de negócios?
Equity Crowdfunding
Provavelmente você já ouviu falar sobre investidores anjo, quando empresários, empreendedores, executivos ou visionários fazem aportes em um negócio em troca de uma parte (share) da empresa. Pois bem, o equity crowdfunding é um aporte que funciona de forma parecida.
Também chamado de crowdfunding de investimento ou investimento participativo, no equitiy é possível fazer aportes menores do que investimentos anjo, mas mesmo assim garante ao investidor uma pequena parte da empresa. É um tipo de ação que pode garantir rendimento futuro conforme o sucesso da empresa.
Geralmente, esse tipo de investimento é uma aposta de startups. Para o empreendedor, a grande vantagem é que, diferente de quando há investimentos maiores, é ele quem segue no controle do negócio, digamos, sem dar grandes explicações aos investidores.
Em outras palavras, quem aporta no equity crowfunding precisa confiar no tato e na governança da inovação da companhia, já que não terá um lugar no board da empresa. Por outro lado, para o investidor, existe sim o risco sobre o aporte no negócio.
No Brasil, existem plataformas autorizadas pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) que permitem essa modalidade de investimento, como a Start Me Up, a Captable e a EqSeed.
Exemplos de equity crowdfunding
Um caso de equity crowdfunding foi a fintech Mutual, que conecta pessoas físicas que buscam empréstimo com investidores pessoais, com possibilidade de rendimentos de até 60% ao ano para quem empresta e juros menores do que os do mercado bancário para quem toma empréstimos. A companhia levantou nada menos que R$ 4 milhões em uma rodada de equity crowdfunding.
O investimento foi realizado através da plataforma EqSeed e é o maior exemplo de equity crowdfunding da história no Brasil. Foram 153 investidores em um modelo que provou ser possível para qualquer pessoa contribuir com startups em ascensão.
Outro exemplo brasileiro é a DIVI hub, que foi inclusive citada pela Forbes como uma plataforma que permite que seguidores lucrem junto com criadores de conteúdo. Este é um aplicativo de investimento no qual criadores de conteúdo, negócios e empreendedores sociais podem buscar apoio em troca de uma porcentagem do faturamento de seus projetos. As pessoas podem apoiar a criação de filmes e documentários, youtubers, projetos de sustentabilidade, entre outros. As contribuições/investimentos são feitas a partir de R$ 10.
1. Crowdfunding de recompensas e sucesso em lançamentos
Talvez o modelo mais comum seja o crowdfunding de recompensas que garante a quem investe na empresa possibilidades como receber produtos, brindes, reconhecimento público ou a possibilidade de serem os primeiros a testarem produtos, praticamente gerando uma comunidade de consumidores que faz a cocriação de um produto junto com a empresa.
Essa cocriação, que dá aos consumidores o direito de testarem lançamentos, faz a diferença na evolução para o produto final. Uma prova disso é mostrada por um estudo dos professores Philipp Cornelius da Rotterdam School of Management, na Holanda, e Bilal Gokpinar, da UCL School of Management em Londres, Inglaterra, divulgado na Harvard Business Review, apoiadores e clientes que contribuem via crowdfunding são mais dispostos a contribuir com projetos do que quando são meramente convidados a fazer parte de testes.
Segundo a análise dos especialistas, trabalhar com essa forma de crowdfunding foi capaz de aumentar em até 65% as pré-vendas. Além disso, o feedback fornecido chega a ser 60% mais valioso, conforme a metodologia utilizada pelos professores na pesquisa.
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A fabricante de fones de ouvido Nura, da Austrália, é um ótimo exemplo. Os fones da Nura se adaptam automaticamente às habilidades auditivas das pessoas. Por exemplo, algumas pessoas ouvem melhor frequências altas, enquanto outras são melhores em frequências mais baixas. A tecnologia se mostrou promissora nos primeiros testes, mas a Nura decidiu buscar crowdfunding de recompensas, não apenas para financiar os lotes iniciais, mas para avaliar o que os clientes pensavam.
Como resultado, a Nura recebeu vários feedbacks úteis sobre o protótipo inicial. Por exemplo, os fones de ouvido inicialmente vinham com uma conexão USB com fio. Porém, os clientes que participaram do crowdfunding mostraram uma demanda pelo produto também por conectores tradicionais e bluetooths. Isso mexeu com a engenharia do produto, fornecendo informações valiosas para o desenvolvimento final.
Ou seja, como destacaram os professores, o crowdfunding pode entregar mais do que apenas dinheiro.
2. Crowdfunding de arrecadação de fundos
Aqui neste modelo de crowdfunding é a paixão que fala mais alto. São doações sem recompensas e incentivos, que podem ser para financiar produtos, mas também para causas sociais inseridas no conceito de sustentabilidade e inovação.
Existem plataformas de financiamentos próprias para isso, como eSolidar, GoFundMe ou a Abacashi.
Um case de sucesso de crowdfunding de arrecadação de fundos foi por meio de doações para a ONG G10 favelas, uma organização com foco no estímulo ao empreendedorismo e negócios de impacto em favelas brasileiras.
Durante a pandemia, a ONG organizou um grupo de voluntários na favela de Paraisópolis, em São Paulo, para produzir máscaras, adaptar ginásios em enfermarias temporárias e contratar uma ambulância para o local. Isso chamou a atenção sobre como captar recursos para esse e outros projetos em favelas durante aquele momento difícil de crise sanitária global. A resposta foi por meio do crowdfunding de doações.
Segundo a plataforma eSolidar, onde foram captadas as doações, somente até 30 de setembro de 2020, já tinham sido arrecadados mais de R$ 850 mil; leia mais.
3. Repensando o crowdfunding na Web3
Além desses modelos de crowdfunding, o advento da Web 3.0 também vem revolucionando o universo do crowdfunding. Em primeiro lugar, vale lembrar rapidamente o conceito da Web3, também conhecida como a terceira fase da internet.
De forma simples, a proposta é estruturar o conceito de descentralização da internet, desvinculada de grandes corporações que detém o mercado (como Google e Facebook) e da regulamentação de governos. É na web3 que acontece o Metaverso e é nela que surgiram as criptomoedas e onde tokens (algo similar a ações de empresas na web3) são negociados via blockchain.
Muito além de criptomoedas, vamos entender blockchain: o que é, como funciona e como ele vai transformar sua empresa
É justamente pelo poder dos criptoativos que o crowdfunding ganhou força nesse novo mundo.
Startups e as chamadas DAOS (Organização Autônoma Descentralizada), que são criadas na Web3, podem ser financiadas por criptomoedas, como Ethereum, ou lançarem seus próprios tokens que são comercializados com usuários, que apostam na valorização desses ativos no futuro. Ou seja, acontece basicamente a mesma coisa que no crowdfunding equity, onde existe a aposta de valorização do ativo adquirido no crowdfunding.
Neste modelo também é possível receber feedbacks do usuário, já que o meio de fazer negócio são as criptomoedas e tokens, que podem sofrer valorização ou desvalorização, conforme uma ação de uma empresa.
Em outras palavras, com o crowdfunding baseado na Web3, as empresas emitem uma espécie de títulos de ativos digitais adquiridos pelos investidores. Os direitos desses ativos são registrados em um blockchain, em um processo chamado tokenização. Isso permite que os investidores mantenham seus ativos digitais em sua própria carteira de criptomoedas, ou seja, garantindo a posse do ativo.
Entenda os modelos de negócios blockchain
Uma grande vantagem do crowdfunding na web3 é justamente a descentralização. Diferente do que acontece da era da web 2.0, não é necessário centralizar o crowdfunding por uma plataforma específica. A startup ou DAO pode fazer diretamente a venda dos tokens aos investidores. Por outro lado, mesmo na web3 existem plataformas que auxiliam nesse sentido. Afinal, esses sistemas podem ajudar e muito na arrecadação de fundos, simplificando o processo para os empreendedores digitais.
Um exemplo dessas plataformas a Securitize, que se apresenta como uma maneira de transformar comunidades de usuários e fãs em stakeholders acionistas, aproveitando a tecnologia blockchain.
A solução da Securitize utiliza sua própria plataforma de crowdfunding para que empresas do universo da web3 convidem clientes para participar de suas ações e projetos de crowdfunding, por meio aquisição de tokens.
Como nós podemos ajudar
Nós da Haze Shift podemos ajudar sua empresa a identificar oportunidades de inovação em modelos de negócios próprios para seu ecossistema de negócios.
Nesse sentido, uma das saídas pode, sim, ser por modelos crowdfunding. Contudo, para chegar a essa conclusão, nós antes sugerimos alguns estudos utilizando métodos do design estratégico, que possibilitam estruturar a melhor estratégia para apostar em crowdfunding.
E aí, vamos conversar e avaliar se o crowfunding ou os serviços de crowdsourcing em conjunto com outras rotas podem colaborar para o seu negócio?
Escrito por:
Designer estratégico, empreendedor, gestor de comunidades e com experiências em programas de pré-aceleração e aceleração. Sempre aberto a novos aprendizados e projetar novas soluções que agreguem valor ao negócio e à sociedade.
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