Em minha carreira como líder de transformação digital e especialista em inovação, já vi gestores, executivos e empreendedores terem algum tipo de freio na inovação. Sem querer, uma série de dúvidas de que as coisas podem dar certo. Mas algo que sempre me ajudou a convencer pessoas a reduzir esse frio na barriga foi explicar o que é cultura de experimentação: significa realizar testes antes de lançar produtos, serviços e processos.  

Para explicar isso melhor, eu faço aqui uma provocação. Antes de escrever este texto, eu li um artigo na Forbes de Steve Denning, um dos grandes especialistas em inovação do mundo, e talvez o mais reconhecido autor sobre narrativas inovadoras (o chamado storytelling). Ele diz que organizações gigantes, incluindo Amazon, Facebook, Google e Microsoft, estão obtendo ganhos maciços com a experimentação rápida.

Você saberia dizer por que isso acontece? Seria apenas por que elas têm dinheiro para investir? Por que elas são empresas de tecnologia? Com certeza não. É por que elas já têm em seu DNA a cultura da experimentação, que evidentemente é algo que faz parte de uma ampla cultura de inovação nas empresas. E isso é algo que falta à maioria das empresas, independente do porte: grande, média ou pequena. 

Direto ao ponto
O que é cultura da experimentação
Falhar rápido é fundamental 
Os líderes e a cultura da experimentação 
Cultura da experimentação e inovação aberta com pequenas apostas 
Passo a passo para a cultura da experimentação

Definindo o que é cultura da experimentação 

Antes de dar exemplos de ações para adotar e de testes antes de lançamentos de produtos, serviços e processos, vamos trazer aqui uma definição de cultura da experimentação: é basicamente o poder do hábito de fazer experimentos frequentes, geralmente por um Produto Mínimo Viável, até encontrar alternativas que podem beneficiar seu negócio. 

Mais do que isso, promover uma cultura de experimentação significa adotar metodologias ágeis de mudanças. Significa abrir as portas de gestores para colaboradores sugerirem e adotarem novas ideias e soluções nas mais diferentes áreas da empresa (de preferência todas e não apenas uma específica). 

Isso pode partir, por exemplo, de programas de ideias e sugestões para que toda a organização seja ouvida, construindo assim um mindset de ideias inovadoras nos colaboradores. 

Saiba como implementar programas de ideias e sugestões em sua empresa 

Da mesma forma, ao adotar experimentos, é preciso mensurar sua efetividade a partir de métricas, o que pode acontecer pela ciência de dados. Isso auxilia na geração de hipóteses, mensuração e aprendizados. 

Nesse sentido, uma cultura de experimentação começa com a disposição de fazer as perguntas certas e manter a humildade conforme as respostas que virão, ou seja, os dados guiam sua tomada de decisão, não as opiniões individuais.

Além disso, é uma forma de fazer rápido para falhar rápido. Vamos entender um pouco mais sobre isso? 

Falhar rápido é fundamental 

Essa mudança de mentalidade por testes constantes acontece sempre de forma planejada. E é importante aqui que a organização como um todo se sinta confortável com o fracasso e a capacitação dos colaboradores em todos os níveis. Ou melhor, é preciso buscar evitar a palavra fracasso e trocá-la por aprendizado. 

Isso é mais do que um pensamento meu, individual. Uma prova disso vem do seguinte ensinamento de Jon MacDonald, empresário e presidente da The Good, uma consultoria de empresas que busca converter usuários em consumidores online e tem como clientes marcas como Adobe, Nike, Xerox, Verizon e Intel e muito mais. Segundo artigo do especialista

“Procurar o valor do aprendizado o ajudará a aceitar as falhas que geralmente acompanham os experimentos. Você não descobrirá uma bala mágica todas as vezes, mas quase sempre aprenderá algo valioso que poderá usar no futuro.”

Dessa forma, estar confortável com eventuais falhas que venham de programas de inovação ou sugestões é o provável primeiro passo para construir uma cultura de experimentação. É preciso aceitar isso. E é nesse ponto que entra a importância da liderança. 

Os líderes e a cultura da experimentação 

Mais do que dizer aos colaboradores que eles têm liberdade para criar e experimentar, os líderes precisam participar e provocar ativamente a cultura da experimentação para não esperar a vontade das pessoas em inovar. 

Isso começa a partir de diminuir processos e a burocracia das equipes e tem muito a ver com os ensinamentos do livro Walking the Talk: A Cultura Através do Exemplo, da autora Carolyn Taylor.  

Leia um resumo do livro Walking the Talk e ouça o podcast 

Em poucas palavras, a obra nos ensina que as lideranças corporativas precisam ser condizentes com a proposta, os valores e a cultura da empresa. Ou seja, precisa ser uma tarefa dos próprios líderes participar do contexto da cultura da experimentação a favor da inovação. Eles precisam observar suas próprias responsabilidades sobre quanto estão travados ou ágeis nos processos em suas equipes.

Nesse ponto, uma ideia é liberar tempo para os colaboradores trabalharem em projetos diferentes, à escolha deles mesmos. Um bom case de mercado nesse sentido vem da 3M, uma das empresas mais inovadoras do planeta.  

Ainda na década de 1940, o CEO da época liberou 15% do tempo total dos colaboradores para ser direcionado às equipes fazerem experimentações ou inovar em algo que fizesse sentido para a empresa. Isso não foi traçado como meta, mas como um direito.  

Será que vocês, em sua organização, não teriam condições de fazer algo similar? Fica a reflexão. 

Cultura da experimentação e inovação aberta com pequenas apostas 

A Amazon é outro exemplo de que líderes e colaboradores, juntos, podem promover grandes mudanças na empresa. Lá eles têm uma metodologia de fazer pequenas apostas para testar produtos.  

Foi a partir dessa cultura de experimentação que surgiram produtos como a Amazon Prime e o Kindle, segundo o próprio Jon MacDonald, que citamos há pouco aqui neste Blog Post. Por outro lado, diversas outras apostas floparam, como Amazon Destinations (reserva de hotel), Endless.com (um site de moda de alto padrão). Perceba como que é permitido falhar e, sim, você pode fazer isso. 

Com isso em mente, aqui vai uma pequena dica: 

Um dos caminhos para a inovação aberta é justamente a experimentação com clientes e parceiros de negócios. Eu tenho certeza que você deve ter um relacionamento mais próximo com alguns clientes. E uma possibilidade é justamente convidá-los para testar e dar feedback sobre algo novo que você queira lançar. Em outras palavras, isso significa apostar na cocriação com clientes e parceiros. 

Leia também sobre como construir uma cultura de inovação de longo prazo e a mentalidade ambidestra de negócios

Nós da Haze Shift, por exemplo, já ajudamos empresas a encontrarem parceiros de negócios por machmakings de startups, o que pode significar um grande diferencial para testes. 

Ao fazer um projeto curto, com metodologia ágil, você pode programar a testagem (que pode ser de um simples aplicativo para melhorar um serviço ou processo a um produto inovador) e oferecer para um pequeno número de clientes fiéis e até mesmo para outros que deixaram de fazer negócios com sua organização, a fim de verificar se o teste é o suficiente para resgatar esses antigos clientes. Em outras palavras, é a cultura de experimentação na prática. 

Leia também como formar comunidades de consumidores e inovar em parceria com seus clientes

Outra maneira de fazer testes rápidos é a partir de hackathons internos e externos.  Vejamos o exemplo do HackaCorp: Hackathon interno do Grupo In Press, nosso cliente aqui da Haze Shift. O foco foi em colaboradores das áreas Corporativas (como RH, Administrativo, Financeiro, entre outras) que dão suporte à operação das agências de relações públicas e serviços especializados que fazem parte do Grupo In Press. 

Nele, propostas surgiram a partir de temas específicos propostos, como comunicação com clientes e cultura de processos. A partir do evento, pequenos projetos ficaram prontos para a experimentação. Ou seja, com o apoio de consultorias de inovação como a Haze Shift, fica mais fácil elaborar planos que auxiliam na cultura da experimentação. 

Tudo sobre hackathon: o que é e como funcionam os melhores desafios de inovação aberta

Passo a passo para a cultura da experimentação 

Agora, se você ainda está com dúvidas sobre como começar, vamos simplificar. A partir de um artigo do professor Stefan Thomke, da Business Administration na Harvard Business School, e autor do livro Experimentation Works: The Surprising Power of Business Experiments, fiz o resumo de um pequeno passo a passo da cultura da experimentação: 

1. Cultive a curiosidade 

Muitas organizações são conservadoras quanto à quantidade de experimentações. É preciso enfatizar aos colaboradores que encontrar soluções valoriza a empresa e a própria carreira. Por isso, as lideranças devem incentivar os testes, por menores que eles sejam.

Ao adotar essa mentalidade, a curiosidade prevalece e as pessoas não verão falhas como erros, mas como oportunidades de aprendizado. 

Nós da Haze Shift vemos que algumas formas práticas de cultivar essa curiosidade são por meio dos programas que citamos, como de ideais ou hackathons internos, ou por meio de workshops online ou presenciais e desafios de inovação

Na Booking.com, por exemplo, apenas cerca de 10% das experiências geram resultados positivos, e isso não é um problema. A empresa estimula tanto seus colaboradores que realiza cerca de 25.000 testes por ano.  A apresentação abaixo mostra como a Booking.com faz isso: 

2. Reforce que os dados superam as opiniões

Os resultados dos experimentos devem prevalecer quando há contrariedade de opiniões. Essa é a atitude da Booking.com, mas segundo Stefan Thomke é rara entre a maioria das empresas por um motivo: a natureza humana. Existe uma tendência a aceitar resultados bons que confirmam pontos de vista, mas existe a desconfiança sobre resultados que vão contra nossas suposições. 

O especialista aconselha a só implementar as mudanças que os experimentos validam, com raras exceções, para evitar no futuro podem gerar despesas maiores. 

Uma maneira de fazer isso é por meio do Data Mesh, ou malha de dados, uma forma de facilitar a democratização dos dados dentro da empresa com a descentralização da governança. Isso é feito deslocando responsáveis, setor a setor, para minerar informações nas áreas da organização. Saiba mais: 

Entenda a fundo o Data Mesh e transforme sua empresa em uma companhia de dados

3. Democratize a experimentação 

Thomke enfatiza que qualquer colaborador da Booking.com pode iniciar uma experiência com clientes sem a permissão dos níveis gerenciais. Foi criada até mesmo uma equipe de experimentação que treinou os colaboradores para isso. 

É claro que essa democratização traz alguns desafios, e é por isso que oferecer treinamentos e debates são importantes, assim como o estabelecimento de métricas, algo que a ciência de dados e o Data Mesh podem colaborar – e muito. 

4. Reflita sobre a ética dos experimentos 

Ao desenvolverem novos experimentos, as empresas devem pensar se os usuários considerariam os testes antiéticos. Para Thomke, essa resposta pode nem sempre ser evidente. Contudo, existem algumas pistas. 

Se em um teste existe o risco de reação negativa, talvez seja o momento de repensá-lo para adaptá-lo. Pense em como a inovação influencia na formação da reputação de uma marca. Por exemplo, o Facebook fez um experimento com 690 mil usuários selecionados aleatoriamente, e 310 mil foram involuntariamente expostos a expressões emocionais manipuladas em seus feeds de notícias.

Mesmo que testes online possam ser feitos de forma randômica, aqui podemos ter um problema ético. Essa é uma reflexão importante que deve ser analisada caso a caso. Por isso, a transparência e a voluntariedade devem ser preferidas.

Nós podemos ajudar! 

Esse cultivo da curiosidade e democratização da experimentação se torna mais fácil se sua organização seguir um modelo de governança da inovação. Nós podemos com programas de ideias e ao encontro de parceiros-chave, por exemplo, por um machmaking de startups e ajudar a construir uma tese de inovação que direcione a experimentação,  favorecendo a inovação aberta. 

Além disso, podemos ajudar a promover trabalhos de orientação diretamente com as lideranças da sua empresa com metodologias como a Teoria U (conheça mais sobre ela), por exemplo, para dar um novo sentido a projetos de liderança e inovação.  

Esses são apenas alguns exemplos. Afinal, cada organização é única. Portanto, vamos conversar e encontrar soluções sob medida para promover a cultura da experimentação e da inovação em suas equipes.

Escrito por:

Luiz Fernando S. Frederico
Digital Transformation Leader & Co-Founder de Haze Shift | + posts

Atuando sempre com mudanças nas organizações através de pensamentos diferentes aplicados à processos com tecnologia e cultura. Buscando auxiliar empresas e organizações sobre os paradigmas da Transformação Digital e como a Inovação Aberta pode mudar a forma de garantir a sustentabilidade dos negócios!